Diante de tanto acontecimentos que chamaram a atenção nacional e internacional, o ano de 2015 parece que não vai terminar, pelo menos aqui no Brasil. Desde de que assumiu o cargo máximo da República, Dilma não conseguiu governar a nação no corrente ano. Claro que muitos foram os fatores que impediram-na de governar, dentre os quais, a leniência por parte do próprio Governo com os seus pares.
Já escrevi neste ano sobre políticas partidárias; sobre o governo Dilma; sobre a situação do Brasil etc. Eu quero neste texto abordar um tema que por muitos é preterido, mas que se levado a sério, penso ser o início de uma mudança profunda na sociedade brasileira. Claro que não entendo que uma sociedade, cunhada há tantos anos, possa ter uma mudança vertiginosa, tão pouco abrupta, em pouco tempo, mas eu creio que algo pode começar a surgir se começarmos a fazer uma alto análise de nossas condutas sociais. Entretanto, eu peço um minuto da sua paciência para fechar o raciocínio que comecei no primeiro parágrafo.
Bom, de janeiro último até agora, pouca coisa, efetivamente, o governo Dilma conseguiu executar. Os planos e medidas que o governo propôs estão parados no Congresso Nacional, tudo por conta da política partidária – que poderia ser denominada de política de toma lá dá cá – já sinalizada por mim na edição de novembro da Biblioo. A prática de travar a pauta, esvaziar o plenário, adiar a votação é tão jogatina política e praticada por todos os partidos, que falar de um apenas seria incorrer numa falácia sem precedentes.
De forma mais acentuada, esta legislatura está lançando mão desses artífices para prejudicar o Governo, mas isso tem um efeito cascata, pois não é apenas o Governo que sai prejudicado, mas o país inteiro de uma forma geral, pois medidas importantes para a dinâmica nacional estão paradas, esperando a boa vontade de que os compadres e comadres do cenário político nacional possam entender que o país precisa andar à revelia das suas vontades e programas partidários.
Dito isso, eu gostaria de falar sobre o mal da sociedade brasileira – sei que ocorre em outras sociedade, mas me atentarei apenas na sociedade brasileira -, e que a cada dia tem tomado mais conta do noticiário diário, qual seja: a corrupção. Quem hoje em dia não falou ou não ouviu alguém falar de corrupção em casa, trabalho, local de estudo etc.? Não raro eu passo pela rua e ouço um pequeno grupo de pessoas – das mais diversas -, falando sobre Operação Lava jato, Julgamento do Supremo Tribunal Federal, Tribunal de Contas da União e por aí vai. Na maioria dos casos são pessoas simples, que nem ao menos frequentaram uma sala de aula de uma universidade, mas que estão fazendo a política nossa de cada dia, onde essa política acontece e ganha espaço: na rua!
É legítimo que as pessoas sintam raiva ao falar, por exemplo, que foram roubados milhões e milhões de reais da Petrobrás, e dispensam aos autores dos roubos impropérios dos mais diversos. Fico realmente confiante quando vejo pessoas simples falando que Eduardo Cunha é um ladrão e que o filho do Lula precisa dar esclarecimentos à justiça sobre o dinheiro que recebeu de uma homem que está sendo investigado pela mesma. Isso me alegra e muito, e me faz ter uma pontinha de esperança de que um dia este país será um país sério. Mas algo me incomoda deveras, e vem sendo alvo da minha mais profunda autoanálise e vigilância, e é o que acredito que possa dar uma guinada na conduta da sociedade brasileira, como já mencionei no segundo parágrafo deste texto.
Temos a mania de vigiar as pessoas e suas condutas, mas olhamos pouco para que fazemos nós! O que muitas das vezes acusamos nas pessoas, praticamos com igual ou superior vivacidade. Estudos na área de psicologia nos dizem que essa é a conduta chamada de síndrome do espelho, que nada mais é do que repudiar o que fazemos nos outros, ou, faço, mas quando o outro faz é pior. Temos ou não exemplos desse tipo na sociedade brasileira?! Certo dia, em um grupo de amigos, num aplicativo de mensagens instantâneas pelo celular, começamos a falar sobre corrupção, mas não apenas a que está no noticiário, mas aquela que praticamos sem pensar – ou sem fazer alarde. Estamos a todo momento sujeitos a cometer a corrupção, e por vezes, passamos o dia todo nela, sem ao menos termos a consciência de que comentemos tal mal.
Essa é a minha atual vigilância e autoanálise; fico me vigiando constantemente, pois a corrupção está tão enraizada no seio da nossa sociedade, que acabamos nos acostumando com ela, e o que é pior, convivendo com ela como se ela fosse algo inofensivo e comunal. Façamos um exercício prático e vejamos ao final do mesmo, o que já fizemos da lista que vou colocar abaixo. O brasileiro é assim:
- Saqueia carga tombada na estrada;
- Estaciona nas calçadas, não raro debaixo de placas proibitivas;
- Suborna ou tenta suborna quando é pego em delito;
- Troca voto por areia, cimento, dentadura etc.;
- Fala ao celular quando dirige;
- Trafega pelos acostamentos em dias de congestionamento;
- Para em filas duplas ou triplas em frente a escolas;
- Dirige após consumir bebidas alcoólicas;
- Fura fila nos bancos usando desculpas esfarrapadas;
- Espalha mesas e churrasqueiras nas calçadas;
- Pega atestado médico sem estar doente;
- Faz gato de luz, de água, de tv a cabo, de internet etc.;
- Registra imóvel no cartório num valor abaixo do comprado, só para pagar menos impostos;
- Compra recibo para abater na declaração do imposto de renda;
- Muda a cor da pele para ingressar na universidade pelo sistema de cotas;
- Quando viaja a serviço da empresa, se o almoço for 10 pede uma nota fiscal de 20;
- Comercializa objetos doados nas campanhas de catástrofes;
- Estaciona em vagas exclusivas para deficientes;
- Adultera o velocímetro do carro para vende-lo como se fosse pouco rodado;
- Compra produtos piratas, sabendo que é pirata;
- Diminui a idade do filho para o mesmo não pagar passagem;
- Leva da empresa que trabalhou pequenos objetos como clips, envelopes, canetas… como se isso não fosse roubo;
- Geralmente não devolve objetos perdidos que achou;
- Quando volta do exterior não raro omite a verdade quando é abordado pelo fiscal aduaneiro etc., etc., etc.,
A lista é bem maior do que a exposta aqui, mas essa já dá para se fazer um bom exercício de consciência e/ou autoanálise sobre a nossa conduta enquanto cidadão brasileiro que gosta de falar dos políticos, mas incorre no mesmo erro de corrupção que eles.
Roubar milhões da Petrobrás é tão crime quanto tentar subornar o guarda de trânsito que te pegou alcoolizado e dirigindo. Ter contas na suíça não declaradas e com dinheiro de origem ilícita é tão crime quanto emplacar o carro em outra cidade para pagar menos impostos.
Os homens e as mulheres da política que estão nas casas legislativas não representam o povo, pois o povo é o soberano e não pode ser representado – como defendeu J.J. Roussuau -, mas para fins de entendimento eles “representam um eleitorado”, e não só isso, são parte desse eleitorado. Portanto, caríssimos, “diga-me com quem andas, e eu direi quem és”!