“Hoje eu acordei com sono, sem vontade de acordar.” Como já dizia a letra de Cazuza, há meus dias, em que eu queria ficar assim, sem vontade de acordar. Quem já não se sentiu assim? E não quero ouvir os sermões e as dialéticas, nem ver ninguém e nem ouvir. Ficar deitado, esperando não sei bem o quê, o meu eu emergir e me dar uma solução. Pois já não há chão, nem ruas para eu correr, não há ladrilhos, nem trilhos, nem asfalto e as luzes destes postes estão todas quebradas.

Mas não tente entender, meu caro, não tente, posto que, tudo agora é incompreensível, até o meu coração me espera dizer alguma coisa.

O que achar então?

A política anda a mesma coisa, esquecendo-se dos problemas dos mais distantes e necessitados. A Seleção também anda mal das pernas, nos decepcionando cada vez mais.

No trânsito, engarrafamentos, caos e estradas esburacadas. Os problemas sociais persistem e nos hospitais, as filas são enormes.

O que achar então?

Quando estamos angustiados, é verdade que nada tá bom, ao contrário de quando estamos apaixonados e podemos ver o mundo todo azul.

Mas hoje, especialmente hoje, o dia amanheceu com tintas de antemanhã, nesse estado do meu eu, meu pensamento voa de encontro ao seu, e queria no planalto do teu coração, apresentar a minha política, o meu projeto pra você votar, a política do meu amor, políticas públicas pra alguma coisa que se sinta. Que se possa remediar essa falta da falta que você me faz. Pois o vazio que você deixou, parece coisa de cinema e roda sem parar…

Roda num filme de Buster, cinema mudo, cinema paradiso, num rolo já gasto e sem cor nesta sala vazia, sala vazia de cinema, meu cinema solidão, que espera demasiadamente você passar e me olhar. Passar dentro de mim, na tela dos meus olhos, naquele beijo que marcou a cena e deixou a sua lembrança nos meus lábios apaixonados, na minha face corroída que agora espelha a solidão do ator, a tristeza do personagem, de maquiagem, borrada de chantagem, sem carinho e sem aplauso final vendo você partir, dentro de um camarim e que chora como o céu chora a chuva na ficção desse amor.

Entretanto, sinto um tanto que jamais poderei lhe falar, jamais poderei lhe dizer, pois lhe desejar todo o bem do mundo é apenas minha forma de se despedir. Num silêncio irremediável, nessa encenação de Chaplin, com rosto pálido e olheiras de angústia.

Assim, sem me entender, sem saber o que dizer e com a dor insuportável de te perder, me silencio. Mas não esqueço de que tudo ao seu lado era feliz, era cinema, era coisa de cinema. Era amor, era paixão, uma canção, canção que não toca mais, de nós dois, nossa aventura, minha desventura, meu ego e minha solidão. Para sempre sua ausência, minha solidão.

Assim sigo, “Hoje eu acordei com sono, sem vontade de acordar.” Como já dizia a letra de Cazuza, há meus dias, em que eu prefiro ficar assim, sem vontade de acordar, esperando quem sabe, você chegar, mesmo que por uns instantes num cinema qualquer,

Num cinema meu, seu, num cinema paradiso. Cinema que roda sem para esperando você passar…

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