RIO – A Biblioteca Comunitária Visconde de Sabugosa está localizada no bairro do Jardim Catarina em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Idealizada pelo pedreiro Carlos Luiz Leite há dez anos, esse espaço vem ajudando crianças, jovens e idosos a terem acesso aos livros. Atualmente o Seu Carlinhos – como é conhecido – tem dificuldades para dar continuidade a esse projeto, sobretudo após a morte de sua esposa, Maria da Penha Oliveira, ocorrido em 2008. Confira a entrevista e ajude essa iniciativa a ter continuidade. Para maiores informações acesse o facebook da biblioteca.
Rodolfo Targino: Como surgiu a ideia de criar a biblioteca comunitária Visconde de Sabugosa?
Carlos Luiz Leite: Como nosso bairro é carente de bibliotecas e longe do Centro Cultural Joaquim Lavoura, onde está localizada a biblioteca municipal, os estudantes e jovens da região tem dificuldade para ter acesso a uma biblioteca. A nossa comunidade precisava muito ter uma biblioteca, então eu e minha esposa, Maria Penha de Oliveira Melo, cedemos o nosso quarto para começar a fazer essa biblioteca para nossos amigos e vizinhos que vêm aqui pesquisar. Pessoas de várias localidades como: Itaboraí, Marambaia, Tribobó, Neves, Santa Bárbara, Vila Três, Santa Izabel, Guaxindiba, Trindade e até para Macaé já mandamos livros emprestados que retornaram para uma professora que estava precisando na ocasião. Aqui é sem fronteiras, nós atendemos todos.
R. T.: Em que ano o senhor começou a transformar sua casa em uma biblioteca?
C. L.: Foi em 2004 que começamos nossa biblioteca, quando eu cheguei de uma viagem a Recife que fiz de bicicleta. Eu e minha esposa sentamos e começamos a montar a biblioteca que foi iniciada com uma enciclopédia Barsa de seis volumes que tinha há mais de dez anos, então surgiu essa oportunidade de ajudar o próximo com ajuda de vários amigos que nos apoiaram.
R. T.: Quem frequenta a biblioteca? Criança? Jovem? Idoso? Qual o público?
C. L.: O público que vem forte são as crianças e jovens das escolas municipais, estaduais e os leitores da terceira idade. Tem pessoas que vem pegar livros de Direito, Contabilidade e ENEM.
R. T.: Quais são os serviços que a biblioteca disponibiliza?
C. L.: Nós temos aulas de Matemática e Física com o professor Eduardo, tem também o professor Gil que dá aulas de Informática.
R. T.: O senhor tem em mente quantos livros tem sua biblioteca?
C. L.: Na nossa biblioteca temos em torno de dez mil livros, fora o que recebemos de doações que encaminhamos para outras bibliotecas, pessoas que precisam de um livro e não podem comprar. Caso tenha a mais em nosso acervo acabamos doando também.
R. T.: São Gonçalo é um município carente em relação a espaços de leitura, como o senhor colocou anteriormente a biblioteca pública fica longe da localidade. O senhor tem noção da grandeza do seu trabalho?
C. L.: Desde que começamos esse sonho a gratificação que tenho é quando as pessoas me agradecem na rua, quando um pai ou uma mãe chega para agradecer pela aprovação do seu filho e que os livros da biblioteca ajudaram nesse processo. Com o falecimento de minha esposa eu fiquei sozinho. Às vezes dá vontade de fechar porque a carga é muito alta para mim, eu só estudei até a terceira série do ensino fundamental, mas a gratificação minha é essa de as pessoas passarem por mim e agradecer e devido a isso eu não fecho a biblioteca o que fortalece cada vez mais a minha vontade. Cada amigo que aparece me fortalece mais esse projeto que temos para a comunidade. Pretendo levar até onde eu puder.
R. T.: Nesses dez anos da biblioteca comunitária Visconde de Sabugosa quais são as maiores dificuldades?
C. L.: A maior dificuldade é tratar do acervo, contas de luz e água, reformas. As vezes a conta de luz vem alta.
R. T.: O senhor tem algum apoio da prefeitura de São Gonçalo?
C. L.: Não tenho apoio do governo municipal, nem do estadual e muito menos do federal. A biblioteca tem visibilidade em algumas regiões do país e já até saiu uma matéria em um jornal de Los Angeles. Os governantes do nosso município conhecem a biblioteca dos fundos à frente, mas nunca fizeram nada. A biblioteca está viva até hoje por causa da ajuda de amigos.
R. T.: Nessa trajetória de uma década tem alguma história que emocionou o senhor?
C. L.: O que me emocionou e mexeu comigo foi em uma ocasião me que dei uma parada com a biblioteca devido a morte da minha esposa. Quando apareceu uma jovem senhora com sua filha por volta de umas oito horas da noite e disse que precisava de um livro para que sua filha fizesse um trabalho da escola para o dia seguinte e a partir disso tive a certeza que não poderia parar com a biblioteca se existem pessoas que precisam dos livros, enquanto tiver uma pessoa precisando de nossa biblioteca eu não vou poder parar.