O governo do estado do Rio de Janeiro, vinculado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), implantou o modelo de bibliotecas-parque nas bibliotecas públicas do Rio. Após visitar países como Colômbia, Chile, França, entre outros, adotou esse formato inspirado nas bibliotecas das cidades de Medellín e Bogotá, na Colômbia.
O projeto de bibliotecas-parque era a menina dos olhos do governo Pezão no período eleitoral. Diversas promessas foram feitas em prol da excelência, manutenção e expansão desses espaços, mas com o passar do tempo as bibliotecas estaduais vêm sofrendo com cortes de verbas e escassez de recursos.
O Rio de Janeiro conta com quatro unidades de bibliotecas-parque: a Estadual, a de Manguinhos, a da Rocinha e a de Niterói. A Biblioteca-Parque do Estado do Rio de Janeiro (BPE), cuja reforma demorou mais de cinco anos, reabriu no dia 29 de abril de 2014.
O prédio apresenta um suntuoso espaço, marcado pelas modernas instalações e equipamentos, que retratam nitidamente seu slogan: “Uma biblioteca que tem de tudo. Até livro.” Ironicamente, com todo o investimento feito, a BPE em menos de dois anos de reinaugurada já corre o risco de ser fechada.
De acordo com um profissional que atua na Biblioteca-Parque Estadual há mais de um ano, foi decidido no dia 23 de novembro que as bibliotecas iriam ser fechadas a partir da próxima quarta-feira (25) e todos os funcionários já estariam cumprindo aviso prévio.
“Enquanto São Paulo promove concurso público com 95 vagas de bibliotecários, o Rio de Janeiro mal consegue manter uma pequena rede de bibliotecas”, desabafou o profissional que preferiu não se identificar por medo de represálias.
O Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) responsável pela gestão das bibliotecas-parque do Rio alega não ter condições de manter os espaços funcionando. Segundo Pedro Sotero, diretor executivo do IDG, menos da metade do contrato com o Governo do Rio foi pago. “Dos 20 milhões, recebemos um pouco mais de 9 milhões”, destaca o diretor.
Sortero também ressalta que os funcionários das bibliotecas estão em aviso prévio porque o IDG não tem outra opção para mantê-los.
A equipe da Revista Biblioo também procurou a Secretaria de Estado de Cultura do Rio para comentar o caso. No contato feito por telefone fomos informados que algum responsável pela Secretaria entraria em contato conosco, mas até a publicação desta matéria não obtivemos nenhuma resposta.
A situação de crise não é exclusiva das bibliotecas-parque. a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) também vem sofrendo com os cortes no orçamento. Em nota publicada ontem no site da universidade o reitor, Ricardo Vieira Alves, anunciou a suspensão das atividades até o próximo dia primeiro de dezembro.
Vieira Alves alegou situação de insalubridade por conta da descontinuidade dos serviços terceirizados que afeta a segurança das pessoas e do patrimônio. Os funcionários terceirizados da UERJ estão com seus salários atrasados e os alunos ainda não receberam as bolsas do mês de novembro e até agora não tem garantias de que vão receber as de dezembro.
O movimento Abre Biblioteca Rio
Para tentar impor uma pressão sobre as autoridades responsáveis por estes espaços no estado do Rio, os bibliotecários e sociedade civil organizaram uma bela mobilização em maio deste ano quando foram anunciados os primeiros cortes de verbas nas bibliotecas estaduais, criando uma extensão carioca do Movimento Abre Biblioteca, iniciado há alguns anos no estado do Amazonas.
Como primeira ação, o Movimento realizou no dia 29 de maio de 2015 um ato contra os cortes no setor da cultura do Rio, especialmente nas Bibliotecas-Parque.
Como instrumentos de divulgação, o Movimento Abre Biblioteca Rio possui um site (wwww.abrebibliotecarj.wordpress.com) e uma fanpage (www.facebook.com/abrebibliotecarj) onde as pessoas podem aderir à iniciativa.
O Movimento também divulgou, por ocasião do seu ato, um manifesto. De acordo com o documento, as Bibliotecas-Parque podem e devem ser utilizadas como um recurso de contraposição à violência, citando como exemplo a cidade de Medellin, na Colômbia, onde esse modelo de biblioteca surgiu. O documento também cita o fato do Brasil ter uma biblioteca pública para cada 33 mil habitantes, destacando que o estado do Rio de Janeiro ocupa o último lugar neste ranking com uma biblioteca para cada 110 mil habitantes.
Dentre as reivindicações do Movimento estão:
1) Não só que o antigo horário de atendimento (de 10h às 20h) seja retomado, como seja ampliado, passando a Biblioteca a funcionar de 08h às 21h;
2) Que a Biblioteca volte a abrir nos finais de semana em horário integral;
3) Que seja realizado o quanto antes concurso público para o preenchimento dos cargos, principalmente de bibliotecários e auxiliares de biblioteca;
4) Que sejam revogados todos os cortes no setor cultural do estado.
O Abre Biblioteca Rio continua se mobilizando e como resposta aos recentes ataques do governo Pezão as bibliotecas do Rio, convoca a todos para uma reunião-ato no próximo dia 28/11 às 15h na Biblioteca-Parque Estadual, localizada na Avenida Presidente Vargas, nº 1261, Centro-RJ.
Para maiores informações sobre essa reunião-ato, acesse o evento criado no facebook e participe dessa luta em prol das bibliotecas públicas.