Eu participei em novembro de 2019 do evento “Nationalsozialismus digital: Die Verantwortung von Bibliotheken, Archiven und Museen sowie Forschungseinrichtungen und Medien im Umgang mit der NS-Zeit im Netz” (Nacional Socialismo digital: a responsabilidade das bibliotecas, arquivos e museus, e das instituições de pesquisa e da mídia, de lidar com a era nazista na Internet), em Viena. Esse evento foi organizado pela Biblioteca Nacional da Áustria e o Instituto de História Contemporânea da Universidade de Viena.
As principais questões da conferência foram: como as bibliotecas, arquivos e museus, bem como as instituições de pesquisa, devem lidar com o tópico de maneira responsável? Como as instituições e o público podem aumentar a conscientização e impedir o uso indevido de conteúdo digitalizado online? Eu pude conhecer mais sobre os debates técnicos e éticos a partir das exposições de 22 palestrantes, vindos da Áustria, Alemanha, Suíça e da Holanda. Para conhecer o nome de cada participante e sua instituição de origem, clique aqui (em alemão).
As discussões trataram, principalmente, da demanda crescente por digitalização de coleções históricas (e aqui, pensar não somente as experiências exitosas, mas as limitações para esse tipo de empreendimento), a disponibilização digital de conteúdo sensível, como materiais de propaganda nazista, e a diversidade de questões éticas e burocráticas das instituições quando elas pretendem expor materiais de conteúdo problemático na internet.
Um dos melhores pontos dessa conferência foi poder conhecer esses debates e reconhecer as diferenças de posicionamento em cada contexto nacional. Abaixo eu indico alguns destaques que conheci nessa conferência, pontos fundamentais para pensar a disponibilização de conteúdos com esse grau de sensibilidade na internet:
Tese 1: A digitalização (compreendida aqui como chegada do material à internet) é incontrolável. Portanto, é urgente fazer a contextualização do que está exposto;
Tese 2: Não é o volume de fotos, documentos, que determina a relevância do acervo;
Tese 3: O conteúdo digital já está na internet, através dos nossos acervos ou de forma avulsa, por fontes não controláveis;
Tese 4: Contextualizar e recontextualizar, lemas constantes;
Tese 5: Na recontextualização, fazer isso de forma acessível para diversos públicos;
Tese 6: Questões éticas: como saber qual o destino da publicação após ofertá-la online?
A partir dessas teses, outras questões se abriram, como por exemplo, se é possível controlar o acesso com cobrança de taxas. É um importante questionamento, pois ao mesmo tempo que você pode, potencialmente apenas cria(r) uma barreira para a disseminação (inicial) do conteúdo, você também pode estar criando uma barreira de acesso à informação para produtores de conteúdo, que não possuiriam financiamento para esse tipo de licenciamento via taxação.
Ademais, também é uma forma de restringir o acesso universal a respeito de um tema relevante para toda a sociedade (restringir acesso a questões importantes para o consenso democrático na sociedade). Mas, aqui eu vou resumir e destacar algumas falas referências e pontos de vista que eu tive oportunidade de conhecer nesses dias, à partir dessas teses acima.
Tese 1 e 4: em diversas palestras, a tônica foi de oferecer SIM o conteúdo online, mas fazer isso com curadoria e controle. Eu absorvi que é importante estar na internet, ainda que isso implique muitos efeitos colaterais, como a distorção, mas é preciso sim estar nesses espaços. Eu poderia citar como exemplo a disposição do jornal “Völkischer Beobachter”, pela Biblioteca Nacional da Áustria (ONB), em que além da página inicial do ANNO (Historische Zeitungen und Zeitschrift), que é “a sala de leitura virtual de jornais da ONB.
Contextualização
Um exemplo sobre a contextualização e questões técnicas da biblioteconomia foi trazido por Klaus Ceynowa, que atua no arquivo de fotos (Fotoarchiv Heinrich Hoffmann in der Bayerischen Staatsbibliothek München), fazendo apontamentos sobre o cuidado com os metadados das fotografias disponíveis online.
Heinrich Hoffmann foi um dos mais importantes fotógrafos do regime nacional-socialista. Ele tinha uma relação muito próxima com Hitler, e sua proximidade ao governo era ideológica, mas com profunda atração econômica também: em 1945 ele possuía ao menos 10 filiais europeias e 320 funcionários, por ser o “Reichsbildberichterstatter” (algo como o “fotojornalista do Reich”). Mesmo ao término da Guerra, durante o processo de desnazificação, Heinrich demonstrava possuir grande fascínio pela figura do Führer.
Tese 3: Em uma das palestras a questão museológica foi especialmente debatida. Hans Walter Hütter, diretor de nada menos que um dos mais importantes simpáticos, bacanas, lindos, que saudade museus da Alemanha, a Casa da História, me trouxe uma importante questão que afeta especialmente memoriais: o acervo em formato digital, e a visitação dos espaços autênticos, além de um bom panorama sobre a museologia internacional.
Para Hütter, e eu concordo, o museu é diferente, e não é ideal uma substituição da visitação presencial. De fato! Contudo, existe uma responsabilidade em mostrar os conteúdos, e aqui é preciso enfrentar o que temos como diferenças práticas na coleta, digitalização, pesquisa e mediação. Uma das principais indicações que eu recebi nesse evento foi através dele, na indicação do LeMO (Lebendiges Museum Online, ou museu alemão online, o portal online de história alemã).
Tese 4: Um dos painéis que mais me fez relembrar o contexto brasileiro foi o “Nacional Socialismo e extremismo de direita online e nas mídias sociais”, moderado por Klaus Taschwer. Nesses debates eu vi a partir de exemplos práticos trazidos pelos pesquisadores Karin Liebhart e Bernhard Weidinger de como a extrema direita utiliza a velocidade e até mesmo a possibilidade de anonimato para a difusão de conteúdo de ódio.
A fala de Karin soa como um alerta, e ela analisa a utilização da estética nacional socialista e a distorção desses conteúdos de forma apologética, em plataformas como Youtube. Muito interessante porque ela apresenta características comuns para a comunicação extremista online (Karin Liebhart). São elas:
- Eles soam como “hipsters de direita”;
- Eles fazem parte de uma vanguarda intercultural;
- Possuem discurso e estética patriótica (“não abertamente racista”);
- Eles utilizam referências da cultura pop;
- Eles são multimídia;
- MAS, o Youtube tem papel central nesse cenário.
E ela indica que eles atuariam e estariam organizados em três tipos de categorias temáticas (Karin Liebhart):
- Referências abertas (Öffentliche Referenzen): eles tratam de temas como a mudança climática, raça, imigração;
- Família: eles seriam uma revisitação de uma ideia de família ideal, e abordam os temas da primeira categoria, mas sempre lançando luz sobre os impactos deles na construção familiar nuclear. Por exemplo, uma das teorias conspiratórias sobre o clima é de que esse discurso “apocalíptico” seria para que pessoas brancas tivessem medo do futuro, e que com isso tivessem menos filhos, e em “2042 eles morreriam sem descendentes”. Uma nova leitura para extermínio branco;
- Ativistas identitários: eles abordam pautas específicas e aproveitam as discussões sobre filmes, músicas, livros para abordar a partir de uma perspectiva da extrema direita.
Importante dizer é que hoje talvez encontremos menos material de cunho abertamente neonazista, mas um crescente e vertiginoso de material da “nova direita” com essas características acima descritas. E que as redes sociais são muito importantes nessa popularização (e autorização) desse discurso “Social media as weapon of mass dissemination” (WEAPONIZED INFORMATION) (palestrante Harald Katzmair), mas eles estão em toda internet, inclusive como comentaristas de portais, e até mesmo no Google Maps. Para esse fenômeno seria reconhecida a competência dessas redes de disseminação de ódio em pulverizar a informação.
Tese 5: O princípio é disponibilizar de forma universal para todos os tipos de público, mas para saber como fazer isso é fundamental (e bastante óbvio para qualquer acervo, mas para esse, com mais alguns levels de conhecimento acerca do) saber qual é o público que você pretende atender: interno, externo, remoto, online, e aí determinar quais as suas demandas.
IMPORTANTE: eu não ouvi (ou não compreendi, alemão austríaco é meu novo nêmesis) apontamentos sobre o acesso à internet pelo público. Acesso à banda larga, 3, 4, ou 5G de qualidade é fator de exclusão digital. No Brasil, uma das problemáticas seria a cobertura dessas redes em todo país, já na Alemanha, o problema seria a qualidade e a estabilidade da conexão, ainda mais quando você pode ter uma exigência robusta de banda, com imagens e vídeos (já viu a piadinha german wifi is a Wurst? pois é). Acredito que é um importante nó que nós temos que colocar no checklist também.
Tese 6: Uma das palestras que mais me provocou reflexões (com ou sem discordância) foi de Edwin Klijn, que é gerente de programas do fundamental NIOD, que é um centro de conhecimento e informações sobre guerra, holocausto e genocídio. Esse instituto faz parte da Academia Real Holandesa de Artes e Ciências (KNAW). Edwin trouxe um ótimo panorama sobre a importância do NIOD em contexto holandês, além de uma visão sobre os anos 90 e a difusão de conteúdo sensível na internet.
Uma das suas posições, que particularmente me desconserta, mas me abre outros pontos de vista, é de que não existem materiais bons ou ruins, e sim histórias boas ou ruins. Ele traz os argumentos pró e contra esse tipo de disponibilização digital, como o desafio de municiar o discurso de ódio, em contrário a manter a sua tarefa pública de difusão neutra da informação.
Essa palestra me abriu um universo de questionamentos, ideias, tanto para arquivos, quanto para as bibliotecas e foi muito positivo. E algumas das minhas inquietações eu desenvolvi abaixo. Um dos meus problemas com argumentação sobre documento bom X ruim, e história boa X ruim, seja a expressão neutra.
a) Já começa que nenhum, afirmo, nenhum de nossos processos técnicos, do mais banal ao mais elaborado, é neutro e livre de viés, pois nós estamos imersos na matrix do que convencionamos chamar ideologia. Pensando aqui em bibliotecas, por exemplo, não é possível idealizar acervos que contenham tudo que se é publicado (exceto acervos nacionais, mas aí se trata de preservação, outro debate), então a neutralidade pela tentativa de seleção universal é, ao meu ver, falaciosa e (inclusive, materialmente) inviável, e a neutralidade em classificação e indexação não é também real.
Nossa atividade profissional, assim como qualquer outra atividade social, traz consigo juízos, dogmatismos, preconceitos etc. Só que podemos qualificar, sistematizar e profissionalizar eticamente os nossos pressupostos, por exemplo, a escolha sobre o que (seleção e aquisição) e o como (classificação, indexação) se coloca materiais na prateleira/acervo, e compreender que todo esse processo tem diversas etapas, e também dizer, obstáculos.
Quero convidar então para trazermos ao baile os pontos que nos imobilizariam, se estivéssemos sozinhos (não estamos, e não devemos ficar). Para temas sensíveis, os nossos critérios serão também sensíveis. E, esbarramos aqui em outros pontos delicados, como censura versus avaliação de critérios de qualidade de autoria, a classificação utilizada nos materiais adquiridos, a indexação correta dos mesmos…
Em um exercício de imaginação, o negacionismo entra como referência bibliográfica ampla ou como objeto de análise sobre formas de reinterpretação histórica? Uma obra com reconhecido teor de discurso de ódio e incitação racista, como o Mein Kampf na Alemanha, por exemplo, saiu reeditado com notas de rodapé e contextualização, e está novamente nas bibliotecas.
Aqui você pode ler um bom ponto de vista bem sintético e interessante, mais “relaxado” sobre a reedição do Minha Luta, em uma breve avaliação de Sven Tetzlaff, diretor de educação da Fundação Körber. “Seja mais relaxado ao lidar com “Mein Kampf” (tradução livre, texto em alemão). Ou essa excelente avaliação sobre a edição especial do mesmo livro, pela revista BUB, e inclusive indica quais os principais itens comentados nas notas explicativas
Sei lá, me ocorreu também um exemplo brazuca: onde você colocaria o livro “Verdade sufocada”, do Carlos Alberto Brilhante Ustra? Em 364, 981.063…onde? A sua decisão é tomada baseada em qual tipo de fonte? E, na sua base, você colocaria um resumo sobre revisionismo histórico, ou mesmo a indicação de que o autor foi o primeiro militar reconhecido pela justiça como torturador em 2008? Bom, se precisar de fonte, essa aqui é bacana.
No meio dessa discussão, que envolve tantos problemas que extrapolam os limites de nossas paredes e estantes, é natural que tenhamos a tentação de tomar algumas saídas comportamentais: deliberadamente ignorar ou se opor (sem critérios claros) à aquisição e disponibilização de materiais sensíveis (o que eu sou contra, btw, porque meu ponto é sobre se posicionar claramente, o seu público precisa entender os seus critérios) OU ser menos ativo / receptivo com esse tipo de conteúdo (aqui temos outro ponto: escolha entre A e B por atingir um teto de gastos com aquisição? Pode ser um caso), o que também penso ser complicado (afinal, na internet o utilizador/usuário dá dois passos e encontra boa parte dos materiais que aqui podem ser ignorados/secundarizados)…
OU assumir essa aquisição e traçar uma melhor forma de tratamento e disponibilização
b) Ok, o Edwin tratava de acervos físicos e digitais de arquivo, que devem estar à disposição do público, inclusive porque o acesso à esse tipo de informação é um direito também de conhecer como é gerida a vida pública, e no que se refere à aquisição de materiais, e eu sei que os critérios para seleção de materiais entre um arquivo e uma biblioteca não são os mesmos.
Compreendido isso, meu ponto aqui é a argumentação para algo que considero ser uma questão que abrange todos os acervos que lidamos neste evento, de arquivos a bibliotecas, que é a consequência e o uso dos materiais e a nossa intervenção, neutra ou não, sobre eles. Nós sabemos e devemos considerar que grupos que disparam conteúdo de ódio pela internet podem utilizar os acervos e as bases para dar carimbo e validação de autoridade para uma mensagem criminosa, por exemplo.
Bibliotecas e arquivos, pela natureza de suas atividades e propósitos, vão apresentar dificuldades de forma divergente. Isso tá claro. Apenas lembrando os exemplos que assisti nesse evento, e também alguns arquivos que conheci aqui na Alemanha, você pode, por exemplo, encontrar endereços exatos das pessoas que residiram em Berlim nos últimos séculos, ou entrar em uma base de dados que mostra o quanto de alimentação, ou as roupas que uma vítima recebia diariamente em alguns campos de concentração…
Esse tipo de informação é conteúdo ultra sensível e envolve a vida íntima de pessoas, direitos de privacidade e um debate muito profundo acerca de danos individuais e coletivos em crimes contra a humanidade, como se deu no período da Alemanha Nazista.
MAS, para bibliotecas e arquivos, disponibilizar o conteúdo sem uma reflexão ampla, e pensar que todos os tipos de uso são aceitáveis e feitos devido ao direito de acesso, pensar que nossa disponibilização e manejo de materiais não são carregadas de filtros ideológicos visíveis ou não, ou que não devemos lidar também com as consequências da exploração dos usos desde que o material sai de nossa sala/mesa/tela de processamento técnico, não é uma solução que viabiliza (aprimora, defende etc.) a democracia, ou para ser bem radical, a existência humana de todas as pessoas de forma mais equânime do que a realidade que desde sempre se apresenta.
No limite, eu acredito que como profissional da informação, a discussão não deve nem estar no nível de sentenciar que não existe documento bom ou ruim, e que as histórias é que são boas ou ruins. Esse tipo de vaticínio, inclusive me parece um tanto soberbo, e pode mascarar um comportamento mecanizado sobre os nossos processos de trabalho. Ademais, pode embutir um comportamento rebote, que é o de lavar as mãos e “enxaguar” conteúdos de caráter, para dizer pouco, delicado.
Dar acesso a tudo que se é produzido sem qualificar esses materiais, ou a saída desses materiais (com ou sem notas explicativas, ou por exemplo, com hotsites especiais com contextualização histórica, ou outro tipo de iniciativa que possa contribuir para a clareza histórica), não me parece necessariamente apenas uma ingênua forma de universalização de acesso. Aqui que eu e Edwin temos um ponto de colisão.
E, em cada país, localidade, instituição que nós iniciarmos essa conversa certamente surgirão outros pontos, mas minha preocupação se dá naquilo que me parece mais uma replicância do que uma singularidade. Nós temos de nos posicionar. E, desde a seleção, até o gerenciamento de impactos possíveis com a difusão de conteúdos de carga sensível. Agora, o como e/ou porque não o faremos, nós enfrentaremos juntos.
A aí eu me peguei pensando em obstáculos para adoção de medidas mais amplas… por exemplo, nas dificuldades técnicas e materiais: todo arquivo/biblioteca terá um historiador, um sociólogo, um profissional dedicado pra fazer esse tipo de trabalho? Aí eu vejo uma dificuldade presente em diversas instituições, seja por problemas de investimento, burocracia, falta de pessoal e vai que vai (no texto do Zschau que eu indiquei acima, ele trata da mesma questão, a dificuldade financeira em manter mais profissionais nas bibliotecas para fins de educação política, mesmo aqui na Alemanha).
OU, em casos extremos, se tempos depois um material for revisto, reconsiderado, e a classificação, indexação, ou até mesmo a não aquisição se tornar uma medida inadequada ao tempo histórico presente?
…Superemos.
Porque nossos processos não deveriam ser são congelados no tempo, e tampouco serão unânimes (tomamos posição, baseados nos nossos métodos de trabalho), e a releitura temática deve acompanhar os avanços que as áreas/temas vão absorver (loucura apenas da minha percepção, ou existe menos problemas em debatermos a aquisição, manejo, descarte, reclassificação em materiais, por exemplo, de ciências exatas do que nas ciências sociais, história, literatura, artes etc.? O que você pensa sobre isso? Me diz aqui nos comentários e me conta sua experiência).
Esses seriam apenas alguns pontos problemáticos, certamente existem outros (direitos autorais, direitos individuais, posicionamento institucional – quando a biblioteca está submetida à outros órgãos maiores, cultura local)…
MAS, superadas (ou somente reconhecidas) as dificuldades, eu acredito que devemos, de cara, responsavelmente considerar que não existe um “espelho de Alice da liberdade de expressão” que nos permita somente liberar materiais e acreditar que estaria resolvida aí uma questão de liberdades somente à partir do acesso universal. Até porque nem o acesso é sempre universal. Devemos “chamar pra si”, não deixar de incidir em decisões que nos envolvem, ou mesmo se abster de debater com gestores, com as outras áreas, e porque não dizer, governos sobre nossos acervos e serviços.
E, após todas as falas do evento, e a partir das inquietações que a fala do Edwin me causou sobre esse ponto, É QUE ESSES CONTEÚDOS, DE UMA FORMA OU DE OUTRA, JÁ ESTÃO NA INTERNET. Hoje, com a criação descontrolada de memes, distorção de diálogos, imagens, e porque não pensar até em deepfake, o próprio fato de um original estar disponível a quem queira atestar a sua veracidade, contexto e mensagem pode se reconfigurar de armadilha à ferramenta no combate à distorção histórica.
Nesse sentido, eu acredito que exemplos como mencionei acima da ONB, que disponibiliza o jornal, mas indica o conteúdo de forma clara e o seu posicionamento sobre esse conteúdo, é uma saída bastante significativa, e marca uma ação prática: disponibilizar, mas com marcação de posicionamento acerca do tema. Porque nós temos um posicionamento sobre o tema, ou deveríamos ter.
Eu desejo um dia conseguir conversar com Edwin sobre esse tema. Comenta aqui se você tem perguntas para fazer para ele sobre isso. Esse tema rende horrores, não existem consensos, mas sim ondas e posicionamentos institucionais bastante diversos. Foi bem bacana ouvir todos esses pontos.
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Esses são apenas alguns assuntos e insights sobre a biblioteconomia/ciência da informação/arquivologia/intersecções dessas áreas, tecnologias à serviço de nossos acervos e encruzilhadas éticas, que são fundamentais para pensar nosso papel no avanço ou no retrocesso de diversos temas na sociedade.
De todas as reflexões que tive nesse evento, uma das mais importante é que não existe resposta simples e tampouco única, mesmo para instituições que estavam discutindo uma problemática histórica comum e suas diferentes respostas em seus contextos nacionais (nazismo, nova direita, violência política na Alemanha, Áustria, Holanda), mas sim uma necessidade de pensarmos sobre nossos padrões, repetições, ações futuras e descobrir como abordar melhor nossos acervos e serviços em realidades distintas, a partir dos desafios que cada dia mais se apresentam no nosso balcão.
Esse foi o meu resumo sobre alguns pontos que chamaram muito a atenção nesse evento, e que eu acredito que podem ajudar a despertar questões em nossos debates no Brasil. Existe também um resumo elaborado pela equipe do H/SOZ/KULT. Para terminar esse resumo em uma nota positiva, ficam aqui algumas imagens dessa biblioteca espetacular.
Agradecimentos
Especialmente para a equipe de Relações Públicas da Biblioteca Nacional da Áustria (ONB).