Desde tempos imemoriais a humanidade vem traçando seu caminho na face da Terra. A convivência com seres monstruosos, bem como o enfrentamento de inúmeras intempéries nos períodos extremos relatados pela História, fez com que o ser humano pudesse ir galgando maiores posições dentro da cadeia alimentar. Hoje em dia, devido a tecnologia voltada para equipamentos bélicos, e todo o conhecimento adquirido por nós, estamos no topo da dita cadeia. Entretanto, o ser humano se depara com um ser capaz de confrontá-lo no tocante a instabilidade, qual seja: ele (ser humano) mesmo.

Não foram poucos os desafios em nome da sobrevivência que o ser humano passou nos milhares de anos em que se encontra em nosso planeta. Períodos glaciais, grandes inundações, secas extremas, chuvas torrenciais, animais de proporções gigantescas, lugares inóspitos e hostis. Guerras sangrentas, confinamento forçado, extermínio de um povo, por outro povo. Não obstante o que fora listado acima, as pestes que sobrevieram sobre nós, contribuiu a contento para empilharmos centenas de milhares de corpos inanimados.

A “peste negra”, por volta do século XIV, dizimou um grande contingente populacional na Europa. A “gripe espanhola”, já no século XX, fez com que milhares de pessoas viessem a sucumbir fatalmente. Os vírus causados pelas influenzas, assustam o mundo no século XXI. A forma com que a humanidade saiu de todas os grandes desafios que a colocou “diante do espelho”, não pode ser aqui descrita, pelo fato de as ter conhecido através dos livros, exceto uma, que começa a provocar reações adversas em boa parte do planeta. É claro que estou mencionando a nova pandemia que pegou o mundo de surpresa, causando espanto, morte e uma profunda sensação de que somos altamente vulneráveis, ao contrário de que muitos pensavam.

Sem ainda podermos nos proteger 100% do vírus que causa o Covid-19, cientistas do mundo todo estão na empreitada de descobri uma vacina que freie o avanço da doença no mundo. Com a triste marca de mais de 150 mil pessoas mortas em quatro meses de atuação da doença (o primeiro caso foi registrado em dezembro de 2019, na China), e mais de 2 milhões de pessoas infectadas pelo vírus, estamos diante de um desafio de ordem global, ainda sem solução aparente.

O que se sabe até o momento, é que o vírus tem uma grande dinâmica de infecção, sendo propagado por gotículas emitidas pela fala, espirros e outras secreções, e que a principal forma de evitar o contágio, é ter uma rigorosa prática de higiene pessoal, sobretudo o que concerne a lavagem das mãos. A reboque, é extremamente aconselhável que se evite aglomerações, o que vem causando murmurinhos nos setores que lidam diretamente com a economia.

Muitos países demoraram sobremaneira a promover o isolamento horizontal da população, alegando que o vírus não era tão devastador assim; que enfrentariam a pandemia sem maiores sobressaltos, e que precisavam proteger a economia, visando a manutenção dos empregos, e sobrevivência da população. Ora, ora, ora; não foi aquele barbudo alemão do século XIX, que em companhia de outro barbudo, mas de origem inglesa, escreveram um panfleto que, além de outras coisas, dizia: “o Estado nada mais é do que o balcão de negócios da burguesia”?!

As autoridades de Milão, Bergamo, dentre outras cidades do norte da Itália, minimizaram os efeitos da pandemia, quando esta já estava fazendo vítimas em seus territórios. Uma campanha publicitária foi veiculada em Milão, no início de março último, convocando a população a manter suas atividades normais; o slogan da campanha dizia: “Milão não pode parar!”. Um mês depois, já tendo enterrado mais de 10 mil corpos (no país), os mesmo que subdimensionaram a gravidade da doença, pediram desculpas em rede de rádio e televisão.

No outro lado do Atlântico, mais especificamente nos Estados Unidos da América, o presidente desse país, em um tom já costumeiro, disse que por lá não iria suspender as atividades por conta de uma doença; que o mundo precisava parar de ter uma atuação alarmista, e que a China era a culpada por tudo isso está acontecendo. Isso também foi em março passado, acompanhando (cronologicamente) as atitudes dos italianos. Bom, os Estados Unidos já superaram o número de mortes de todos os países do mundo, em consequência do Covid-19, e isso em um intervalo de 1 mês, desde a fala do presidente pra cá.

Algo que precisa ser levado em consideração nos Estados Unidos, e tem causado um número elevado de mortes, é a questão de saúde naquele país. De forma completamente diferente do que na Inglaterra e o Brasil (para ficarmos com dois exemplos), que dispõem de sistemas de saúde universal, ou seja, para todos os habitantes, nos Estados Unidos da América do Norte, a coisa é bem diferente. A saúde nesse país não é pública, embora haja hospitais públicos. Em suma, a pessoa que precisa ir ao hospital, independente das circunstâncias, será atendida normalmente, porém, precisará pagar pelos custos de sua passagem pelo hospital.

Certamente você já assistiu algum filme estadunidense em que a pessoa, mesmo ferida, pede para não ser levada para o hospital. É exatamente isso que acontece por lá. Bom, como toda e qualquer ida ao hospital gera custos, uma parcela significativa da população dos Estados Unidos deixa de fazer acompanhamentos médicos, que auxiliam na prevenção de doenças.

E o que temos observado com as constantes mortes que ocorrem diariamente por conta do Covid-19 naquele país? Em suma, vem morrendo em larga escala, negros e negras, latinos e a população mais pobre. Não por acaso, valas gigantescas estão sendo abertas no subúrbio de Nova Iorque, para enterrar os que não têm dinheiro para um sepultamento e/ou pessoas que não foram procuradas por parente e amigos.

Diante dos fatos que assustam, devido a quantidade de pessoas que estão morrendo devido a pandemia, o presidente Trump, cumprindo seu papel de gestor de negócios da burguesia (que de fato o é, devido seus empreendimentos), anunciou que os Estados Unidos vão retomar sua rotina normal em maio. A preocupação flagrantemente demonstrada na fala do presidente não é com as pessoas que continuam morrendo amiúde, mas sim com o mercado financeiro, este ente sem corpo, porém muito influente.

Descendo o mapa, ainda no continente americano, o Brasil faz de tudo para figurar nas manchetes do mundo inteiro, como um péssimo exemplo na condução de medidas para enfrentar a pandemia. Felizmente, e por ora, esta pecha coube certo ao chefe do executivo e aos seus asseclas mais ideologicamente alinhados nas aventuras promovidas pelo capitão.

Desde o início da crise de saúde, o governo do Brasil fingia que não tinha nada a ver com o assunto. Fez de “João sem braço” (no jargão popular), passando a impressão de que nada poderia fazer diante de uma crise que já se mostrava global. Com esta desculpa que não convenceu nem os bolsonaristas mais crentes (se bem que encontramos uns que morrem pelo capitão), o governo estimulava as atividades normais do cotidiano, ignorando as constantes e repetidas ameaças de contágio, se continuássemos a levar a vida como antes.

Por sorte, e seguindo as orientações das autoridades de saúde mundial, governadores e prefeitos, atendendo os apelos do Ministério da Saúde, soltaram uma série de decretos, restringindo o trânsito de pessoas nas cidades, evitando assim que o vírus se propagasse com muito mais força, nos grande aglomerados de pessoas, principalmente nos transportes públicos superlotados das grandes metrópoles.

Na contramão de todas as medidas tomadas por diversos países no mundo, inclusive os Estados Unidos, que liberaram centenas de milhares de dólares e euros para salvar suas economias, bem como auxiliar emergencialmente a população mais vulnerável, o governo brasileiro, vendo que não tinha mais como evitar o imbróglio, anunciou (tardiamente), no fim de março, um auxílio no ínfimo valor de R$ 200 para a população que sofreria diretamente com a suspensão das atividades. Por experiência própria de dono de casa que sou, com 200 reais a gente não sai com mais do que três sacolas do mercado, isso ficando apenas na questão da alimentação, que não é o único gasto que as famílias têm por mês.

A Câmara dos Deputados, com uma forte atuação dos partidos da oposição (lê-se esquerda), votou para que o auxílio fosse de R$ 600, o que não adiantava muita coisa, mas que supera o anunciado pelo governo em três vezes. É preciso fazer uma observação aqui: o Congresso Nacional, a despeito do que se pode falar da maioria dos seus atores, tem atuado com um olhar realista para que passemos por esta crise sem maiores traumas, além dos que já teremos normalmente.

Como bem conhecemos o chefe do Executivo federal, as considerações feitas pelo Ministério da Saúde (do seu governo) foram solenemente ignoradas por ele. Juntou-se a populares que se aglomeraram em frente ao Palácio do Planalto; foi passear em padarias, farmácias e prédio residencial; visitou canteiro de obra pública, além de ter feito cinco pronunciamentos oficiais, cujo o assunto era a pandemia, mas que, não deixando seu jeito peculiar de se comunicar, disse que se tratava de “uma gripezinha”, que “a economia precisava retomar seu estado normal’, e que ele, “uma vez acometido pela doença, não sentiria muita coisa, devido o seu histórico de atleta”. Não satisfeito com as falas e atuações do ministro da saúde, o demitiu no dia 16 de abril último.

O presidente, imbuído pelos alvitres de empresários que estão sentindo o que é não ter quem produza seus produtos, para viverem da mais-valia (ou seja, o lucro exacerbado sobre o que fora produzido), fica a todo momento repetindo que as coisas precisam voltar ao normal, que o Brasil sofrerá uma forte resseção (de resto, o mundo todo sofrerá), e que os empregos estão sendo extintos. Ora, presidente, não se faz economia sem pessoas, pois embora o mercado seja um ente inanimado, são as pessoas, que vendem suas forças de trabalho, que produzem riquezas. E se essas pessoas adoecerem, não haverá mão de obra para ser explorada.

Embora se saiba que as relações de trabalho não são nem de longe satisfatórias aos proletariados, a crise econômica que apenas começa, escancara quem de fato move a economia mundial. São os trabalhadores e trabalhadoras que, uma vez tendo consciência de classe, mudariam sem muito esforço, as relações de trabalho determinadas por quem detém os meios de produção. Esses mesmos burgueses que sentem agora que sem a mão de obra abundante, que receber salários irrisórios, não têm como levarem seus empreendimentos a frente.

Com um discurso que pretende manter a alienação no tocante ao emprego, afirmando que é necessário trabalhar para se ter dignidade e enobrecimento (sabemos até onde se é necessário trabalhar, e não se ignora aqui a manutenção dos empregos para a sobrevivência da maioria da população do país), o representante da burguesia brasileira, na contramão do mundo, vai escrevendo uma página dantesca, na sua já surrada e obscura biografia. De nós cabe a torcida para que o distanciamento social se mantenha, para a manutenção das vidas, pois bem sabemos que o nosso sistema de saúde entrará em colapso, tão logo um número considerável de pacientes adentre às UTIs espalhada pelo nosso querido Brasil. É esperar e torcer que tudo fique bem!

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