Um homem se joga do telhado de uma mansão rural. Antes, ele é atormentado por imagens sussurrantes refletidas em um espelho. Saindo da paisagem campestre, visualiza-se o tumultuado cenário urbano onde a famosa violoncelista Matilda Gray (Lydia Wilson) vive um pesado drama pessoal. Há sangue, há loucura, há mistério e há morte no primeiro episódio da série inglesa “Requiem, criada por Kris Mrksa, produzida pela BBC One e distribuída pela Netflix.
O sobrenatural, misturado com suspense policial, tem início com a jornada de Matilda para descobrir os enigmas que cercam seu passado e sua vida. A famosa musicista é empurrada, junto com o seu fiel amigo e parceiro de trabalho Hal (Joel Fry), para uma pacata cidadezinha galesa chamada Penllynith. Chegando lá, a dupla enfrenta a hostilidade dos moradores ao tentar cavar fundo informações sobre uma antiga história de desaparecimento. Munida apenas de fotografias velhas e um cordão encontrado em uma caixa escondida pela mãe, Matilda vai desenrolando a complexa teia de intrigas e mentiras que rondam a cidade.
Com uma pegada que mistura cenas clássicas de terror (chuveiros, bosques sombrios, sussurros indecifráveis, pesadelos e mentiras descaradas), Requiem começa com todos os elementos para montar uma boa trama. De fato, é o que acontece, mas o espectador só vai ter certeza disso nos dois episódios finais.
Durante quatro episódios de sessenta minutos cada, é difícil não se sentir abraçado pelo tédio e pela monotonia ao observar dois músicos jovens, sem qualquer experiência investigativa, entrarem de cabeça em deduções e dramas pessoais sem que, com isso, cheguem a lugar algum – pelo menos de forma consistente. Personagens secundários desnecessários também pipocam na trama para tentar deixar o labirinto ainda mais complexo. O grande “elefante branco”de Requiem é o fato de demorar demais para catapultar o verdadeiro leitmotiv da série. Ao invés de dar voltas e voltas para abrir a porta, o roteiro poderia tê-la arrebentado, com êxtase, no terceiro ou quarto episódio.
A ideia central – que traz entidades sobrenaturais resgatadas por entusiastas de uma antiga seita – é incrível. Se tivesse sido melhor trabalhada, com a ênfase que merece, conquistaria em cheio os fãs do gênero. De forma galante, ainda por cima. Só nos dois episódios finais é que a série ganha fôlego, encerrando da forma como deveria ter elaborado em episódios anteriores para dar tempo e mais conteúdo para o espectador. No último episódio, o único desejo reinante é conhecer a história das entidades e a conexão delas com Matilda. Durante toda a temporada, nada disso fica claro. Teria sido uma ótima oportunidade para desmembrarem essa conexão como peça-chave do trabalho.
Se você tem tempo, paciência e não se aborrece com estradas longas, cheias de buracos e placas confusas, assista a temporada na ordem cronológica. Caso contrário, pegue atalhos.