A política, a religião e o futebol estão entre os assuntos que são previsíveis de grandes discussões e de quase nunca consenso, por meio desse artigo fecho o tripé política-religião-futebol diante da Biblioteconomia, das bibliotecas e dos bibliotecários. Esses assuntos, por muitas vezes são ignorados no nosso dia a dia quando estamos em nossos locais de trabalho, isolados do mundo e concentrados na técnica, porém esquecemos que o trabalho do bibliotecário permeia as relações sociais e culturais do público alvo a que atendemos.

O futebol não tem relação direta com o desenvolvimento da Biblioteconomia no Brasil e no mundo, porém essa atividade, assunto ou paixão anda lado a lado com as bibliotecas, às vezes, como concorrente, e em outros casos como aliado.

Na cultura brasileira a presença do futebol é marcante no imaginário e na rotina do povo e em manifestações artísticas como o cinema, a música, o teatro, a dança e a literatura. A mídia tem o futebol como um de seus principais assuntos, em cadernos diários de jornais, programas televisivos, inúmeros sites de internet e é presença constante em anúncios publicitários.

Hoje temos presenciado a publicação de diversos livros sobre futebol, assim como livros publicados por ex-jogadores, eles que talvez não tenham tido muito contato com o mundo dos livros devido à vida direcionada e dedicada ao futebol veem na publicação uma oportunidade de associar a sua imagem a um produto que tem proporções de formalidade e representação cultural diante da sociedade. Exemplos de vida, histórias de superação e sucesso permeiam a temática desses livros, que além de mais um fonte de receita para os atletas torna-se um objeto de marketing pessoal deles, como por exemplo, nos eventos de lançamento e autógrafos sobre a sua obra.

Além dos atletas que publicam livros sobre futebol, temos também grandes escritores nacionais que são apaixonado por futebol e escreverem livros com esse tema: Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Eduardo Galeano, Mário Filho, Nelson Rodrigues e Jorge Amado.

Esse volume de livros sobre futebol em algum momento serão inseridos na vivência das bibliotecas, onde usuários podem perguntar ou solicitar a aquisição, e o tratamento desse tipo de obra irá demandar uma especificidade sobre a temática, além de poder angariar novos usuários interessados nesse tipo de literatura.

A temática futebol também pode ser utilizada nas bibliotecas como objeto de eventos, palestras e seminários relacionados à literatura e futebol, assim é possível aproximar o leitor das obras tanto dessa temática quanto das outras obras constantes no acervo de outros temas, isso no caso dos autores renomados já citados, o que não ocorre no caso de ex-jogadores que geralmente escrevem somente sobre o tema futebol.

Diante dos inúmeros eventos futebolísticos que ocorrem continuamente, como campeonatos regionais, nacionais, continentais, Copa do Mundo, Olimpíada e etc, as bibliotecas podem utilizar as datas mais importantes desses eventos para aproximar o lazer e o interesse do usuário pelo futebol com a biblioteca e assim fazer um marketing da instituição diante das circunstâncias diárias da paixão pelo futebol pelos brasileiros.

As bibliotecas escolares podem trabalhar em conjunto com a educação física na escola, no quesito futebol, usando a literatura como meio de inserção dos alunos na literatura em paralelo com as atividades físicas. Além da prática, a teoria literária poderia ser trabalhada em conjunto o futebol, uma oportunidade para que se mude até mesmo a mentalidade de alguns que quem segue a carreira esportiva geralmente não dá prosseguimento nos estudos.

As escolinhas de futebol também poderiam ser parceiras das bibliotecas, pois com o pressuposto de que alguns alunos estudem para prosseguir no esporte, pré-requisito esse de alguns clubes com os garotos da base, assim os aspirantes a craques além de desenvolverem o lado cultural ligado ao seu sonho de ser jogador de futebol poderiam ir sendo preparados para serem futuros escritores da sua carreira, como já ocorre com jogadores consagrados e seus livros.

No Brasil encontramos alguns museus do futebol com bibliotecas inseridas, recentemente foi lançada a Biblioteca do Futebol em Pernambuco, além das bibliotecas dos clubes de futebol, geralmente alocadas em suas dependências sociais. Não conhecemos muitos profissionais bibliotecários trabalhando nesses locais, porém apesar de ter uma demanda pouco explorada é possível que essa prática com o passar do tempo passe a ser mais constante, com a economia brasileira e dos clubes em alta, as obras em seus centros de treinamento e a construção de estádios com a ideia de arena também contemplam museus, teatros e por que não, bibliotecas.

Infelizmente a paixão nacional pelo futebol não é na mesma proporção da paixão nacional pelos livros e pelas bibliotecas, muito preferem comprar a camisa do seu time de coração a comprar um livro, ir ao estádio de futebol e gastar uma parte do orçamento nos gastos com ingresso, transporte e alimentação do que comprar um livro ou ir a uma biblioteca, nem que seja para ler a parte esportes do jornal, dificilmente teremos algum dia à equivalência de minutos de uma partida de futebol, 90 minutos, com esse mesmo tempo gasto em visita, pesquisa ou estudos na biblioteca.

O futebol de toda semana e o seu posterior happy hour nunca será substituído pela ida à biblioteca, caso ocorresse isso teríamos a possibilidade de degustar as ideias literárias apropriadas nos livros com os amigos na mesa do bar, porém a paixão fala mais alto e as filosofias das alegrias proporcionadas pelo ato de jogar futebol ainda merecem muitas explicações psicológicas, sociológicas e filosóficas.

Para a Biblioteconomia, as bibliotecas e os bibliotecários o futebol tem muito a ensinar, o espírito e o trabalho em equipe são importantes em locais em que se trabalham muitos bibliotecários em conjunto com auxiliares, técnicos e estagiários. Assim a biblioteca pode se tornar um time ou uma equipe de colaboradores que honrem e suem a camisa, a paixão pela profissão assim como a paixão pelo futebol, o símbolo deveria ser beijado a cada gol de placa na aquisição, tratamento, disseminação e disponibilização das informações para os usuários.

Assim o dia a dia dos bibliotecários deve ter sempre um carinho por trás das dificuldades e um toque de classe nas atividades, o empate é símbolo de passividade desse profissional, ou seja, deve-se ter a busca pelo resultado da vitória como horizonte, o time da biblioteca precisa estar à frente e não na retranca, e um belo lançamento à frente pode garantir o contrário de estádios de futebol cheios e bibliotecas vazias.

A escalação do time que irá comandar o dia a dia da biblioteca deve priorizar aqueles que levam, assim como no futebol, emoção, tensão e alegrias aos usuários, um sorriso ao correr atrás da bola e do livro ajuda no ganho do fôlego para enfrentar o cansaço e as dores musculares, de tanto carregar livros. A saúde dos atletas deve ser olhada com carinho, pois qualquer contusão desfalcará o time e a reposição de um craque bibliotecário sempre será dificultosa, pois o valor do passe dos melhores está em alta e o seu direito de imagem alegre está em falta.

A Biblioteconomia nem sempre está próxima das demandas da sociedade e, às vezes está presente a elas, mas prefere não se manifestar ou acha que tais reflexos não são representativos para a sua atuação, porém pode-se verificar como é possível e importante que a vida das  bibliotecas seja feita de um modo mais próximo com as demandas de seu público alvo, essa percepção está inserida no estudo de usuário das bibliotecas ou de potenciais usuários. Aquém do que competir com o futebol às bibliotecas devem aproximar essas temáticas a seu favor, e a Biblioteconomia e os bibliotecários podem buscar exemplos de reflexão e questionamento sobre a profissão e o seu desenvolvimento, que podem ser encontrados nos aspectos da paixão nacional pelo futebol.

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