Inspirado no romance escrito por Annie Barrows e Mary Ann Shaffer (esta última, falecida em 2008), o filme “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata” (original The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society), um nome longo e carregado de certa dose de humor, foi lançado recentemente pelo Netflix e já conta com a aprovação do público. A história é simples: em meio a uma crise criativa, a escritora Juliet Ashton (Lily James) recebe uma inesperada carta do fazendeiro Dawsey (Michiel Huisman), relatando como um livro o ajudou a passar pelos tortuosos dias de guerra. Intrigada com a missiva e com a existência de uma sociedade literária que carrega o nome de um alimento, Juliet conta com a colaboração de seu editor Sidney (vivido pelo excelente ator Matthew Goode, mas que ficou completamente obliterado no longa) e do noivo diplomata Mark (Glen Powell) e parte para Guernsey, uma das Ilhas do Canal tomada pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.

Lá chegando, conhece os outros membros do grupo literário e se envolve em suas narrativas pessoais, carregadas de perdas e problemas, como acontece com qualquer sociedade vítima de torturas e assassinatos bélicos. Juliet vai com a missão de escrever uma coluna para o jornal “Times” sobre a sociedade inusitada, mas logo se vê completamente absorvida por aqueles desconhecidos de rostos tão familiares. Para aquelas pessoas, os livros salvaram suas vidas, dando-lhes o sentido de comunidade, trazendo a esperança do lar, da amizade e do fim das trevas, sentimento igualmente compartilhado – e enfatizado – pela jovem escritora.

Permeado por flashbacks, o roteiro transita entre os últimos anos de ocupação nazista e o período posterior à guerra, trazendo os dramas e perdas dos personagens. A atuação de Lily James, que traz na mochila trabalhos como Downton Abbey e o live-action de Cinderela, dá a chance ao espectador de gostar ou estranhar o filme. Digo isso porque sua expressão caricata pode ter esse efeito duplo, pois o rosto e os movimentos faciais da atriz são profundamente – excessivamente, eu diria – marcados. Pessoalmente, gostei de conhecer um pouco mais da atuação de James, agora como protagonista não ofuscada. Outro detalhe agradável foi reconhecer alguns membros do elenco da série Downton Abbey atuando no filme, como os já citados Lily James e Matthew Goode, e as atrizes Penelope Wilton e Jessica Brown Findlay. Sem ofensas ao trabalho de James, mas gostaria de ter visto Jessica Brown Findlay no papel principal. Interpretando a forte e corajosa Elizabeth, a atriz aparece espaçadamente nas lembranças cronológicas dos personagens, e acho que seu jeito vivaz e eloquente, sem deixar de ser doce e abrindo mão das caras e bocas que Lily James faz, merecia o papel da protagonista.

Trata-se de um filme previsível, com cheiro e sabor de um bom almoço de domingo. Não há motivo para choro ou vela, apesar das cenas melodramáticas. O figurino, muito bem construído, especialmente nas cenas de festas e alegrias entre Juliet e o noivo Mark, é um detalhe chamativo na produção. A ambientação pós-guerra também não deixa muito a desejar, mas poderia ser melhor, mais realista, principalmente na pequena ilha de Guernsey, que parece um lugar paradisíaco já reconstruído em tão pouco tempo.

 O desfecho agrada aos românticos, apesar de pouco crível, e finaliza a história com a pitada de dramalhão e certo charme que edifica produções do gênero. A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata é um doce que vende e, embora seja doce até demais, não enjoa.

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