Profetizando sobre “livros eletrônicos” assim como foi profetizado em 1938 que“máquina de escrever que irá substituir a caneta”, tivemos em 1985, na revista PC Magazine, Gary Kildall, apresentado como fundador da Digital Research Incorporated, prevendo que o livro eletrônico iria substituir o de papel até o fim do século XX segundo nos informa em artigo do professor  José Luís Jobim da UERJ e UFF.

Pensar como formas tecnológicas de leitura e escrita modernas irão afetar as formas de aprendizagem do conhecimento como um todo e na redefinição de paradigmas sobre circulação conhecimento é uma das preocupações centrais da agenda política de qualquer nação que queira despontar economicamente.  Pensar sobre se o arquivo digital que constitui o livro eletrônico suplantará o livro impresso é algo já “previsto” desde o início da década de 1980.

Em A produção textual e a leitura: entre o livro e o computador?,  artigo da revista Gragoatá (2001), do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFF, o professor  José Luís Jobim, professor titular de Teoria da Literatura na UERJ, lecionando a mesma disciplina na UFF, nos propõe analisar algumas questões referentes à introdução do computador em práticas de leitura e escrita.

Segundo este autor há um exercício de “futurologia” por parte de empresas que dominam o ramo tecnológico computacional no sentido de veicularem discursos “persuasivos” com pretensões de fazerem valer suas ideias, suas experiências para o resto da humanidade, no sentido de uma generalização. Os verbos estão conjugados sempre no futuro do presente e são umas das estratégias de persuasão de convencer o público-alvo de que será inevitável a concretização do que se prediz.

Caro leitor, sabemos que isto tem um intuito mercadológico de criar-se uma necessidade de tecnologia computacional. Neste ramo“computacional” há problemas sérios de se criar necessidades e dependência tecnológica.

Arquivistas e bibliotecários são as categorias profissionais que mais se preocupam com os novos suportes em formato eletrônicos e sua obsolescência.  Durante a formação dos respectivos profissionais nos bancos universitários eles estão sempre a discutir estas questões.  Gera-se até um estado de “lugar comum” discursivo da área da Arquivologia, por exemplo.

A maior parte dos exercícios de futurologia computacional fracassou em suas profecias, mas, segundo o autor isto não importa. Certamente seria possível discutir estas e outras previsões, que podem ter-se concretizado ou não. Contudo, o que nos interessa, no momento, é chamar a atenção sobre um certo modo discursivo de construção de um saber social sobre computação.

Jobim aponta algumas questões que, de certa forma, apontam um resumo de sua investigação no campo da leitura, mídia e computação que, caro leitor, interessa-nos do campo das ciências documentais/informação:

1- Quais as implicações sociais de propostas de introdução e disseminação de formas eletrônicas de leitura e escrita no sistema escolar?;

2- Sob qual agenda política se vai definir o que é relevante ter ou acessar?;

3- Quais as implicações das novas formas textuais para (re)definição de leitura e escrita?;

4 – Será que o livro está prestes a ser substituído por arquivos eletrônicos?;

5- O destino da literatura está ligado ao destino do livro?;

6 – Será que o “mecanismo diferente” faz diferença? E finaliza que é problemático escrever acerva dos efeitos de hardware e software sobre a leitura e escrita, por causa dos grandes números de variáveis permanentemente em mudança e alega que se deva mais se produzir reflexões sobre este assunto.

Em específico sobre os livros eletrônicos substituírem os livros impressos, o autor nos confirma o que sabemos por prática nos arquivos e bibliotecas e em nossa cultura como cidadãos modernos (que tem acesso mínimo a computadores e sabemos que há desigualdade social de acesso aos computadores): até o momento os arquivos eletrônicos, bancos de texto on-line, CD-ROMs e e-book não eliminaram o livro, mas isto sim, se justapuseram a ele, inclusive transformando sua forma de produção. A previsão de Gary Kilday, de que o livro eletrônico iria substituir o de papel até o fim do século XX não se concretizou.

Portanto, caro leitor, vamos conviver com livros e textos em formato eletrônico e em suporte em papel convivendo bastante tempo ainda. A questão que se coloca é sobre a relação entre os novos formatos e sua efetiva funcionalidade em termos de preservação. Mas este assunto deixaremos para outro texto crítico.

Saudações arquivísticas!

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