Que o cinema de terror precisa recomeçar não é segredo para ninguém. Nas últimas duas décadas, a bufonaria tomou conta de muitos roteiros, secando e varrendo para debaixo do tapete a chance de narrativas bem construídas, capazes de gerar tensões e criar expectativas, daquele tipo que permite que o público acredite no que está acontecendo a ponto de encerrar o filme se perguntando se o que viu é real ou apenas ficção.
“Boneco do Mal” (The Boy, 2015), com direção de William Brent Bell (Filha do Mal, Sinistro: A Maldição do Lobisomem), é um convite à gargalhada. Tudo começa quando Greta, personagem da atriz Lauren Cohan, conhecida por interpretar a sobrevivente Maggie em The Walking Dead, viaja para trabalhar como babá em um casarão no Reino Unido. Fugindo de um passado arriscado nos EUA, Greta cai em histriônico desespero ao saber que o menino que irá cuidar é, na verdade, um boneco de porcelana. Os pais de Brahmas, um casal idoso e imerso em névoa, parecem acreditar piamente naquela realidade – principalmente a mãe -, e ensinam à Greta todos os afazeres e atividades de Brahmas. Em seguida, partem para uma viagem misteriosa, deixando a babá na mansão com o boneco. A única companhia humana de Greta é o entregador de alimentos (vivido por Rupert Evans) que, volta e meia, aparece na casa para dar uma conferida.
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No decorrer da trama, pequenos deslizes acontecem na casa, com Brahmas aparecendo e desaparecendo, roupas sumindo e objetos remexidos. Inicialmente cética, Greta passa a acreditar que algo está errado na mansão e tenta descobrir o que está por trás dos movimentos estranhos. Apesar das tentativas para fazer com o que espectador veja e sinta tensão, o que o filme consegue é uma sequência de cenas risíveis que beiram à vergonha alheia. A cena de Greta indo parar no sótão de toalha após perambular pela casa é de uma desorganização suprema. Até mesmo a atuação de Lauren Cohan acaba caindo na vala comum, já que a desenvoltura de sua personagem – e sua posterior mudança de atitude – é teatral demais.
O desfecho de Boneco do Mal, apesar de interessante, é estragado por uma montagem pífia. Cenário e personagens rocambolescos finalizam o terror pastelão, deixando mais um vácuo movido a tédio-descrença para os amantes do gênero. Se alguém ainda tentar salvar o longa-metragem e, como uma última tentativa, alegar que filmes de terror utilizando bonecos são “complexos de deslanchar por natureza”, a franquia de Chuck: O Brinquedo Assassino, iniciada com o primeiro filme em 1988, e até mesmo o cômico Dolls (1987), são argumentos fortes para derrubar por terra a afirmativa de “dificuldade ou complexidade” em fazer um filme cujos vilões são bonecos amaldiçoados. A mudança é mais do que necessária e continua fazendo jus ao provérbio “antes tarde do que nunca”.