Por Milena Coppi de O Globo

Inspirado nos HQs de Jack Kirby, um dos criadores do universo Marvel ao lado de Stan Lee, o quadrinista baiano Hugo Canuto recriou uma capa clássica de “Os Vingadores” e substituiu os famosos heróis da saga por divindades oriundas de religiões afro-brasileiras. Em sua versão, batizada de “The Orixás”, Xangô e Ogún trocam de lugar com Capitão América e Homem de Ferro.

— Resolvi imaginar o que aconteceria se Kirby resolvesse produzir uma saga baseada nas lendas da cultura afro-brasileira, assim como ele fazia com outras mitologias em seus quadrinhos — afirmou ele.

— Quis abordar a estética pop do quadrinho americano e trazer para a elementos da nossa cultura. Acredito que precisamos de referências próprias nesse aspecto.

A ideia surgiu despretensiosamente como forma de juntar duas de suas paixões, a cultura brasileira e os HQs, e de homenagear o quadrinista americano que, se estivesse vivo, completaria 99 anos em agosto. Mantendo a estética usada por Kirby, a versão de Hugo teve grande repercussão em sua página no Facebook.

 —Fiquei muito surpreso com a repercussão positiva das pessoas em relação aos desenhos. Muitas curtiram e se sentiram representados — declarou o quadrinista.

Há oito anos, Hugo criou o HQ “A Canção de Mayrube”, inspirada nas grandes mitologias da América. A partir desse projeto, o artista se aprofundou ainda mais no tema e levou as referências que buscou para seus trabalhos mais recentes.

— Queria fazer algo diferente, mas sempre tomando cuidado com a mensagem para não desrespeitar ninguém. Sei que algumas pessoas demonizam e atacam a cultura afro-brasileira. Mas, como artista, não posso deixar de realizar esse trabalho por conta de visões exclusivas da realidade.

Para criar a história, Hugo busca referências em livros de autores como Edison Carneiro e Pierre Verger. Ele também pretende sair de São Paulo e voltar a morar em Salvador para ficar mais próximo da cultura que o inspirou.

— Quero mergulhar nesse universo não apenas para criar um trabalho interessante, mas para não faltar com respeito. Sou um espiritualista e procuro entender todas as crenças. Como nasci na Bahia, é muito natural para mim entender várias visões de religiosidade — comentou ele.

Com os sucessos dos desenhos, o quadrinista já ensaia para transformar o projeto online em uma HQ.

— Por enquanto, vou continuar fazendo essas artes homenageando os Orixás dentro dessa estética. Mas estamos empolgados com a ideia de fazer um quadrinho. Queremos botar o projeto de pé com a ajuda de financiamento coletivo.

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