Antonio Agenor Briquet de Lemos, Professor aposentado (Universidade de Brasília)
Comunicação apresentada no Seminário BBM 10 Anos, São Paulo, 16 a 18 de maio de 2023.
Resumo. Informações sobre o bibliófilo João Antônio Alves de Carvalho (1841-1893?). Importante colecionador de livros, manuscritos e gravuras relativos ao Brasil. A Biblioteca Nacional adquiriu parte de seu acervo, que constaria de cerca de dez mil exemplares. O valor pago ao bibliófilo foi de 25 contos; o orçamento da Biblioteca Nacional era de 75 contos. O patrimônio imobiliário de João Antônio Alves de Carvalho, legado a seus herdeiros, foi a leilão em 1908, no Rio de Janeiro.
Abstract. Information was collected about the book collector João Antônio Alves de Carvalho (1841-1893?), a celebrated bibliophile interested in books, manuscripts and prints related to Brazilian history. The Biblioteca Nacional in Rio purchased approximately 10,000 items of his collection for which the amount of 25 contos was paid. That same year the budget of the Biblioteca Nacional was 75 contos. The highly valued and diversified real estate bequeathed by João Antônio Alves de Carvalho went to auction in 1908.
Sua Alteza o príncipe d. Pedro Augusto visitou anteontem a Biblioteca Nacional, onde se demorou do meio-dia às 4 horas da tarde. Sua Alteza examinou por algum tempo os manuscritos e impressos que pertenceram ao sr. dr. João Antônio Alves de Carvalho, ocupando-se depois durante três horas em classificar uma interessantíssima série de 26 águas-fortes do famoso gravador holandês van Ostade. (Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 24 jan. 1887, p. 1.)
O príncipe, aos 21 anos, formado em engenharia civil pela Politécnica do Rio de Janeiro, apaixonado por mineralogia, não resistiu por muito tempo a visitar a coleção rica de documentos sobre história natural do Brasil, que o avô, dom Pedro II, autorizara que fosse comprada, fazia pouco mais de dois meses: a brasiliana de João Antônio Alves de Carvalho que custara 25 contos de réis, pagos em três parcelas, de 1886 a 1889. Não era pouco dinheiro. Compare-se com o orçamento total da Biblioteca Nacional previsto para o último ano da quitação dessa compra, que era de 75 contos, e o do Arquivo Público, de 27 contos. Vinte e cinco contos equivaleriam hoje, com base no valor do ouro, a cerca de três milhões de reais.
E quem foi João Antônio Alves de Carvalho, esse bibliófilo de brasiliana que, aos 45 anos, tinha formado um acervo de cerca de 10 mil documentos e sobre quem pouco se encontra documentado? Relatarei aqui o que consegui encontrar sobre ele, na esteira da curiosidade pela bibliofilia e os bibliófilos despertada quando conheci Rubens Borba de Moraes.[1]
Era abril de 1968. Fui apresentado a Rubens Borba de Moraes na Universidade de Brasília (UnB). Afável, sorridente, a exuberar memórias, poucas semanas depois acedeu a que nos prontificássemos, junto a Elton Eugenio Volpini, diretor da Biblioteca Central, a selecionar livros estocados, numa sala, identificada com o letreiro ‘obras raras’. Livros de Homero Pires, Fernando de Azevedo, Osvaldo de Carvalho, Hildebrando Acióli, Pedro de Almeida Moura, Ricardo Xavier da Silveira e Agripino Grieco. Tinha-se a impressão de que a venda, em alguns casos, fora pelo sistema de ‘porteira fechada’: levem tudo.[2]
Passados os anos, encerrada a atividade de professor, comecei a de editor, e logo resolvi reeditar O bibliófilo aprendiz.[3] E, estimulado por José Mindlin, Cristina Antunes e Ana Maria de Almeida Camargo, retirei do baú do autor o manuscrito de Testemunha ocular (recordações). A leitura de O bibliófilo mais a preparação do texto de Testemunha ocular aguçaram a percepção de que existe algo mais na vida dos bibliófilos, além do que está nas linhas das histórias centradas na paixão de cada um.
À procura do tema para celebrar estes dez anos da BBM, lembrei-me que Rubens, em O bibliófilo aprendiz, falara algo sobre bibliófilos que colaboraram com a Exposição de História do Brasil. Realmente, ele escreveu que “poucos particulares concorreram [para a exposição], salvo S. M. o Imperador, o juntador de livros Ramos Paz, D. Ana [sic] R. de Carvalho, o barão Homem de Melo e alguns mais”.[4]
De fato, Ramiz Galvão lamentou a falta de colaboração dos particulares, mas não deixou de consignar “alguns inteligentes amadores, de cujas coleções auferimos livremente e a mãos largas o que nos foi mister”. Seu agradecimento ia do “magnânimo Imperante” aos “mais modestos contribuintes, pois que se uniram todos em acorde e nobilíssima cruzada”.[5] Se a Exposição de História do Brasil foi a “execução de um pensamento patriótico” externado pelo barão Homem de Melo, talvez se possa dizer que o catálogo foi a concretização da sugestão feita, 30 anos antes, no Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, em 16 de fevereiro de 1850, na presença do imperador, pelo secretário Manuel Ferreira Lagos para que o Instituto incumbisse “algum dos seus membros residentes na corte de organizar uma bibliografia brasílica, contendo não só os autores nacionais, mas ainda os de qualquer outra parte do mundo que hajam escrito sobre coisas do Brasil, quer seus trabalhos se achem impressos, quer manuscritos”.[6]
A equipe de Ramiz Galvão, apesar de condições precárias, do pouco tempo e da falta de ‘amadores inteligentes’, montou no prédio da rua do Passeio, um painel literário e icônico, com mais de vinte mil documentos,[7] que retratavam o país.[8] O catálogo publicado nos Anais da Biblioteca Nacional está acessível online na Hemeroteca Digital Brasileira, na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, e na Biblioteca do Senado Federal. Na Hemeroteca e na BBM a digitalização foi feita a partir dos Anais da Biblioteca Nacional, e, no Senado, a partir da reimpressão fac-similar de 1981 da Editora Universidade de Brasília.[9]
No catálogo pesquisei por ‘Exp.’, que marca a linha do expositor. Anotei os nomes de 110 expositores individuais. Um dos que tiveram mais peças expostas foi Antônia R. [Rosa] de Carvalho, apresentado em O bibliófilo aprendiz como ‘D. Ana R. de Carvalho’.[10] Antônia R. [Rosa] de Carvalho e Joana T. [Teresa] de Carvalho, com 408 e 231 itens, colocavam-se, na contagem que fiz, atrás do imperador e do grande ‘juntador’ que foi Ramos Paz, como o classificara Rubens Borba. Quem eram elas?
O Guia de coleções da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional explica que João Antônio Alves de Carvalho era “colecionador e bibliófilo”, tendo participado, “através de suas representantes, Joana Antônia [sic] de Carvalho e Antônia de Carvalho, da Exposição de História do Brasil (1881) com inúmeros documentos históricos que, mais tarde, vieram a integrar o acervo da Divisão de Manuscritos,”[11] reconhecendo, portanto, que as duas senhoras tinham representado o bibliófilo na exposição. Joana Teresa, não Joana Antônia, e Antônia Rosa eram irmãs de João Antônio e o Guia de coleções não fala do motivo de elas terem representado o irmão, bibliófilo conceituado. Um dos irmãos, Henrique Antônio, citado por Vale Cabral[12] e por Almeida Nogueira como bibliófilo,[13] foi adido na embaixada brasileira em Assunção, e outro, José Antônio, foi cônsul-geral do Paraguai no Rio de Janeiro.[14] Há notícias de que Antônia era harpista e se apresentava em recitais; do inventário dela constam “uma harpa, mocho e estante”.
Podemos retroceder nossa história às primeiras décadas do século XIX. O avô do futuro bibliófilo João Antônio foi José Antônio Alves de Carvalho (1776-1850), imigrante português, atacadista de secos e molhados, “negociante opulentíssimo, estimado e respeitado”.[15] Uma filha casou-se com Luís Antônio Alves de Carvalho (irmão de José Antônio?), que morreu em 1878, tido como negociante e capitalista “honrado e antigo”.[16] Viria a ser o pai do bibliófilo. Este nasceu no Rio em 1841. Antônia Rosa de Carvalho (1843-1891) e Joana Teresa Alves de Carvalho (1835-1896) são as irmãs mencionadas no catálogo da exposição. Antônia Rosa ficou solteira, e Joana, que se casou com José Caetano de Paiva Pereira Tavares, alterou o nome para Joana Teresa de Carvalho Tavares.
Em 1852, os rapazes estudavam no Liceu Comercial, na rua das Laranjeiras.[17] Dos três irmãos que ingressaram na Academia de Direito de São Paulo, parece que Henrique Antônio foi o único a se formar,[18] e está na lista de bacharéis de 1866.[19] Desde cedo os filhos assumiram os negócios do pai, que, pelas categorias ocupacionais do censo de 1870, o colocariam como comerciante, capitalista e proprietário. João Antônio fez parte do conselho de jurados da corte, atividade não remunerada, mas que dava prestígio e acesso aos círculos do poder.[20]
Com 33 anos, era reconhecido como colecionista importante por Vale Cabral: “[…] indo eu ontem visitar a copiosa e magnífica coleção de livros relativos ao Brasil pertencente ao sr. dr. João Antônio Alves de Carvalho […] fui surpreendido deparando nesta coleção com uma outra edição do livro de Nuno Marques Pereira!”[21]; um “dos nossos mais insignes bibliófilos”.[22] Para José Alexandre Teixeira de Melo, “grande amador de livros e de delicado tato para os escolher”.[23] Para Luís Francisco da Veiga, um dos expositores de 1871, a biblioteca de João Antônio era “opulentíssima de livros e manuscritos brasileiros ou sobre o Brasil […] (um precioso tesouro)”.[24]
Em 9 de junho de 1875, Ramiz Galvão enviou ofício ao ministro dos Negócios do Império, solicitando a compra de manuscritos (a ‘coleção Carvalho’) para a Biblioteca Nacional. A ‘relação sumária’ desses manuscritos tem 43 páginas (folhas?) é datada de 1886 e relaciona 417 títulos.[25]
Em 1877, com 32 anos, era solteiro, negociante, e residia na rua do Catete, 182, com renda de seis mil-réis.[26] Nesse ano vendeu de sua biblioteca 2 889 obras em 3 532 volumes e 1 139 folhetos, que talvez tenha sido a primeira transação com a Biblioteca Nacional, e mais 84 títulos impressos.[27] Em 1879, vendeu a Mémoire sur le Brésil, de Langsdorff
Paris: Denugon, 1820. 20 p.), e, em 1883, 774 estampas, sendo 397 retratos, quase todos de brasileiros.[28]
Vale Cabral registra que dos manuscritos que João Antônio possuía da Viagem Filosófica, de cinco ele havia feito cópias “por letra sua”. Os documentos da expedição de Alexandre Rodrigues Ferreira[29] e da Inconfidência Mineira reunidos por João Antônio são uma das mais importantes contribuições de um bibliófilo para nossa memória histórica e cultural.
Em dezembro de 1886 ocorreu a venda principal. O governo providenciou a dotação extraordinária de 25 contos destinados à compra da “livraria do dr. João Antônio Alves de Carvalho, grande amador de livros e de delicado tato para os escolher. Acompanhavam-na 401 mapas geográficos e inúmeros manuscritos de incontestável valia”.19 O diretor da Biblioteca Nacional era José Alexandre Teixeira de Melo, um dos expositores de 1881. Para o ministro dos Negócios do Império tratava-se de uma “bela e rica coleção de manuscritos e impressos […], a mais importante que no Brasil já possuíram particulares”.[30] A quantia seria paga a José Caetano de Paiva Pereira Tavares, marido de Joana Teresa de Carvalho Tavares, portanto, cunhado de João Antônio, e a Antônia Rosa de Carvalho. O contrato esclarecia que era a coleção que “possuía o dr. João Antônio Alves de Carvalho, e que passou a pertencer-lhes” [grifo meu].[31] O pagamento de outra parcela foi autorizado em outubro de 1887.[32] Em janeiro de 1888 saiu autorização do pagamento de seis contos duzentos e cinquenta mil-réis correspondentes ao resto da segunda e metade da terceira prestação da quantia de 25 contos “pela qual foi vendida a coleção de manuscritos e impressos que pertenceram ao falecido [grifo meu] dr. João Alves de Carvalho”.[33] Em 1888, estava a ser concluída a classificação “dos livros de grande valor que pertenceram ao dr. João Antonio Alves de Carvalho, os quais se acham em excelente estado de conservação. Esta importante coleção, comprada pela quantia de 25:000$000, é de cerca de 10 000 exemplares.”[34]
Para L’Étoile du Sud, quinzenário carioca, eram “vários milhares de documentos”, englobando “mil mapas e seis mil documentos originais sobre a história e a geografia do Brasil”,[35] notícia também veiculada por The Rio News.[36]Em 1893, nova compra de 67 títulos (impressos, manuscritos, estampas e mapas). Dessa compra o diretor exaltava uma obra “raríssima e de elevado custo”, o Vocabulario de la lengua guarani, de Ruiz de Montoya, impresso em 1722, em Santa María La Mayor.[37]
Na Biblioteca Nacional há manuscritos catalogados como da autoria de João Antônio: um ‘catálogo corográfico do Império do Brasil’, de 1867, 113 páginas, e uma ‘dissertação sobre fatos da história do Brasil: guerra de Pernambuco, tratado de paz de Portugal com a Espanha e a Holanda, povoação interior do Brasil, ataque francês ao Rio de Janeiro’, 6 folhas, sem data. Consta um manuscrito de seu tempo de aluno do Liceu Comercial, ‘exercícios de caligrafia’, de 3 a 28 de setembro de 1852, com 6 páginas. E cartas de Antônio Pereira Pinto, sobre discursos de políticos, e de Francisco Inácio Marcondes Homem de Melo, restituindo manuscrito de José Custódio de Sá Faria.
Em julho de 1882, com 41 anos, João Antônio casou-se com Maria Leopoldina de Bastos Varela, natural da Bahia. Era o ano seguinte ao da exposição, cujo catálogo ficou carente da informação sobre a propriedade dos tesouros que cedera para o sucesso do grande evento. Em 11 de abril de 1890 seu nome ainda estava no Jornal do Commercio como membro do conselho de jurados. Em 8 de setembro de 1891, o casal, irmãos e cunhados convidaram para a missa de sétimo dia da morte de Antônia Rosa de Carvalho.[38] O que põe em dúvida as notícias anteriores que o davam como morto. É provável que sua morte tenha ocorrido depois de 1891, pois, nesse ano, em 2 de setembro, ele entregou ao cartório o testamento da irmã Antônia Rosa, falecida na véspera. E, em 7 de agosto de 1893, conforme registro n° 825 da 4ª Circunscrição do Rio de Janeiro, ali esteve “o doutor João Antônio Alves de Carvalho, morador à rua Correia Dutra, número três” para declarar o nascimento de uma criança, natimorta, filha provavelmente de uma criada.
Em 1883, Garnier cedeu a Jerônimo Teixeira Boavista[39] uma dívida contraída por João Antônio. Diante da inadimplência, o cessionário entrou com ação de execução, que implicou a penhora de bens do casal.[40] Isso aconteceu passados quatorze anos de uma ação impetrada por Garnier, um dos livreiros de João Antônio Alves de Carvalho. Em 30 de julho de 1869, a segunda vara comercial do Rio publicou esta notificação: “Ação de dez dias. A B. L. Garnier, Sr. Dr. João Antonio Alves de Carvalho. Condenado o réu.”[41]
Em testamento, de 1890, Antônia Rosa deixou todos os bens à irmã Joana Teresa. Aos demais irmãos deixou um legado de duzentos mil-réis a serem pagos ao longo de seis anos. Nenhum livro aparece no inventário.[42] A venda em 1886 da livraria, no valor de 25 contos, teria sido uma forma de obter dinheiro para pagar a dívida com B. L. Garnier e preservar o patrimônio imobiliário? Qual processo teria sido adotado para que os livros não fossem penhorados?
Tempos de esplendor e tempos de desesperança. As crises da monarquia, da guerra do Paraguai, passando pela seca de 77 até o Encilhamento, levaram à situação descrita por José Caetano, cunhado de João Antônio, em petição de 19 de março de 1892:
[…] considerando o estado grave da crise comercial por que estamos passando a ponto de vários estabelecimentos bancários não poderem continuar e serem forçados à liquidação, acarretando consequências desastrosas que não é possível calcular e prever, pois nem mais descontam, correndo iminente perigo os dinheiros depositados, pois estamos ameaçados de uma catástrofe pior de quantas têm havido, quer por isso a bem de seus direitos e interesses levantar do Banco de Depósitos e Descontos a quantia que aí tem do dito espólio […]
O inventário dos bens dele, como herdeiro universal da família Alves de Carvalho, alcançou mais de 389 contos, em abril de 1900. Em 1901, o inventário da falência de João Antônio Alves de Carvalho, do qual era inventariante a viúva Maria Leopoldina Varela de Carvalho, teve o julgamento convertido em diligência.[43] A partir daí perdi o rastro de João Antônio. Dele nem mesmo ficou anúncio fúnebre, como os de Henrique Antônio, em 1886, e Antônia Rosa, em 1891.[44]
Em 1908, os bens foram a leilão.[45] Como epílogo, “o velho casarão da família Alves de Carvalho” foi demolido para dar lugar, na década de 1960, à sede da revista Manchete.[46] Hoje, um edifício de salas comerciais.
Conclusão
Essa é uma história em aberto. Como costumam ser histórias que envolvem fortunas, heranças, paixões e loucuras, mesmo mansas, como a bibliofilia. Caberá a cada um abrir outras indagações e chegar a conclusões que pareçam mais apropriadas. Arrisco-me apenas a concluir que, se não fossem as atividades de nossos bibliófilos, que vão dos temas e motivos mais recônditos e extravagantes aos mais triviais e corriqueiros, de manuscritos inéditos e ex-líbris a folhetos de cordel e histórias em quadrinhos, o patrimônio bibliográfico brasileiro estaria bastante mutilado. Mesmo que, às vezes, desse esforço tenham resultado perdas de outros bens, como aqueles que exibem mais concretude, porém sem a perene subjetividade das criações da mente.
AGRADECIMENTOS. A Raphael Diego Greenhalgh e Cléofas Minari Righetti, da Biblioteca Central da Universidade de Brasília, e ao professor Murilo Bastos da Cunha (UnB), por confirmarem essas informações. A Neide De Sordi, ex-aluna e sempre amiga, por me encaminhar a Gilberto de Souza Cardoso, diretor da Divisão de Gestão de Documentos do Poder Judiciário do Rio de Janeiro, que, com seus colegas, me propiciaram a consulta aos inventários citados. A Gilda Maria Whitaker Verri, Valeria Gauz e Helena Vilar de Lemos as valiosas sugestões e observações críticas.
OBSERVAÇÃO. Dados biográficos coligidos na Hemeroteca Digital Brasileira e em registros cartoriais e paroquiais na base FamilySearch. Estão à disposição dos interessados as listas dos expositores individuais da Exposição de História do Brasil de 1881 e das peças exp
[1] Curiosidade que explica o interesse por Jerônimo Ferreira das Neves, William Gropp e Jacques Renout, em LEMOS, Antonio Agenor Briquet de. Em busca de bibliófilos esquecidos. Revista BBM, v. 2, n. 1, p. 35-55, 282-283, jan./jun. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.11606/issn.2595-5802.v2i1p35-55. Uma contribuição à prosopografia de ‘brasileiros ilustres’ do mundo dos livros. Ver, por exemplo, os trabalhos do colóquio organizado em 2005 pela École Nationale Supérieure des Sciences de l’Information et des Bibliothèques, da França, coordenado por Frédéric Barbier (https://www.enssib.fr/ bibliotheque-numerique/documents/1459-la-prosopographie-des-hommes-du-livre.pdf. E, em outra área, BONTEMPI JUNIOR, Bruno. Usos da prosopografia para a história dos intelectuais da educação. Educação e Filosofia, v. 33, n. 67, 2019, p. 57-82, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.14393/revedfil.v33n67a2019-47897
[2] “A Biblioteca Central possui um acervo de grande valor em obras raras. Esta coleção está sendo organizada por dois professores da Faculdade de Biblioteconomia e Informação Científica, cuja colaboração espontânea para com a Biblioteca Central devemos salientar. Era um problema que muito nos afligia e que, agora, entregue a dois bibliotecários capacitados que são o prof. Rubens Borba de Moraes e o prof. Antonio Briquet de Lemos, muito nos tranquiliza”, segundo Elton Eugenio Volpini, diretor da Biblioteca Central, no seu relatório de 1968 (p. 13). Por essa sala passara a bibliotecária paulista Laura do Val Penteado, de 1966 a 1967. Depois de 1971, Cláudia Rossi Gonçalves, que ali fez o estágio do curso de biblioteconomia, e, formada, foi contratada. Ela recorria a Rubens Borba, até ele se aposentar em 1973, quando a biblioteca mudou para o prédio de cuja comissão de planejamento foi um dos membros mais atuantes.
[3] MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. 3. ed. Brasília: Briquet de Lemos; Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 1998.
[4] MORAES, Rubens Borba de. O bibliófilo aprendiz. 5. ed. São Paulo: Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, 2018, p. 144.
[5] Anais da Biblioteca Nacional, v. 9, 1881-1882, v. 1, p. vi.
[6] Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, v. 13, p. 132, 1850.
[7] Houve erros na numeração dos itens. O 554 recuou para 454, e o 19 288 saltou para 19 303, ocorrendo, no cômputo final, um acréscimo de 85 itens, chegando-se ao total de 20 422 livros e outros impressos, manuscritos, mapas, moedas, medalhas, vistas e paisagens, retratos, estátuas e pinturas. (Paul Otlet, em 1934, disse que documento é a “representação da realidade em forma literária (o bíblion, o escrito, o texto), gráfica ou plástica (o ícone, a imagem)” (p. 580 de seu Tratado de documentação.)
[8] Sobre a exposição e seu curador, ver, CALDEIRA, Ana Paula Sampaio. O bibliotecário perfeito: o historiador Ramiz Galvão na Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2015, p. 188-226. Doutorado de história. Em livro: Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2017. 390 p.
[9] José Honório Rodrigues, na introdução dessa edição, disse que o Manual bibliográfico de estudos brasileiros, organizado por Rubens Borba e William Berrien, deixava a desejar e que “nem continuou, nem completou, nem seguiu o empenho do catálogo deixado para a posteridade por Ramiz Galvão”. Supérfluo dizer que José Honório e Rubens Borba não se bicavam, desde os tempos da Biblioteca Nacional. Na versão do Senado (1998), Otaciano Nogueira manteve o texto de José Honório, com a correção, necessária e diplomática, ao reconhecer o Manual bibliográfico como um “esforço admirável”.
[10] MORAES, Rubens Borba de. Op. cit, p. 144.
[11] PEREZ, Eliane, org. Guia de coleções da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, 2018, p. 149. https://antigo.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/miscelanea/2019/20190312_guia-4980. pdf
[12] DICCIONARIO bibliographico brazileiro. Gazeta Litteraria, a. 1, n. 14, p. 280. No catálogo da exposição citam-se como dele as peças 906 e 12 905.
[13] NOGUEIRA, José Luís de Almeida. Academia de S. Paulo: tradições e reminiscências. Segunda série. São Paulo: Vanorden, 1907, p. 229: “Estudante regular e rico. Tinha uma rica e escolhida biblioteca, cujos volumes eram todos de encadernação vermelha. Era um bibliófilo, muito preocupado, também, pela estética das suas estantes”.
[14] Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, 1873, p.190.
[15] Necrológio no Jornal do Commercio de 18 de maio de 1850, p. 2.
[16] “Faleceu o velho negociante e capitalista […] Luís Antônio Alves de Carvalho.” A Provincia de São Paulo, 13 jun. 1878, p. 1. “Faleceu na chácara Cochrane, na Tijuca, às 10 horas da manhã de ontem, o honrado e antigo negociante […] o sr. Luís Antônio Alves de Carvalho.” Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 11 jun. 1878.
[17] Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 19 dez. 1852, p. 3.
[18] DISSERTAÇÕES de alumnos da Faculdade de Direito. São Paulo: Faculdade de Direito de São Paulo, 1857-. V. 30, 1859, 1 e v. 88, 1863. [Manuscrito na biblioteca da Faculdade de Direito da USP.]
[19] MAIA, Julio Joaquim Gonçalves. Lista geral dos bachareis e doutores formados pela Faculdade de Direito de S. Paulo e dos lentes e directores effectivos até 1900. Revista da Faculdade de Direito de São Paulo, v. 8, 1900 p. 242. Disponível em:https://doi.org/10.11606/issn.2318-8227.v8i0p209-291
[20] OLIVEIRA FILHO, Cândido de. A reforma do jury. Rio de Janeiro: 1932, p. 18-19, apud LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. 2. ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1972, p. 210-211.
[21] Diário do Rio de Janeiro, n. 301, 31 out. 1874, e Relatório da Repartição dos Negócios do Império, 1875, p. 39.
[22] Vale Cabral em O Globo, Rio de Janeiro, 1 mar. 1875, e Relatório da Repartição dos Negócios do Império de 1875, p. 37.
[23] Anais da Biblioteca Nacional, v. 19, 1897, p. 228.
[24] Diario de Pernambuco, Recife, 14 dez. 1877, p. 8, conclusão em 16 dez. 1877, p. 8
[25] PEREZ, Eliane, org. Guia de coleções da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, op. cit., p. 153. https://antigo.bn.gov.br/sites/default/files/documentos/miscelanea/2019/20190312_guia-4980.pdf
[26] Diário do Rio de Janeiro, 26 jan. 1877, p. 2.
[27] Guia de coleções da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, p. 150 e Relatório da Repartição dos Negócios do Império, 1877, p. 3.
[28] Anais da Biblioteca Nacional, 1883, v. 11, p. 583.
[29] CABRAL, Alfredo do Vale. Alexandre Rodrigues Ferreira. Noticia das obras manuscriptas e inéditas relativas á viagem philosophia [sic] do Dr. Alexandre Rodrigues Ferreira, pelas capitanias do Grão-Pará, Rio-Negro, Matto-Grosso e Cuyabá. (1783-92). Anais da Biblioteca Nacional, v. 3, p. 54-67, 324-331, 1877. Importante contribuição para a epopeia da documentação da viagem filosófica encontra-se em DOMINGUES, Ângela Maria Vieira. No trilho da ‘viagem filosófica’ de Alexandre Rodrigues Ferreira: uma breve história das suas coleções e sua disseminação. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Humanas, v. 16, n. 3, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2178-2547-BGOELDI-2020-0109
[30] Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1887, p. 72; Gazeta de Notícias, 29 out. 1886, p. 1.
[31] Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 24 dez. 1886, p. 1.
[32] Gazeta de Notícias, Rio de Janeiro, 22 out. 1887, p. 1
[33] A Época, Rio de Janeiro, 14 jan. 1888, p. 1. Também em Cidade do Rio, Rio de Janeiro, 13 jan. 1888, p. 2.
[34] Relatório da Repartição dos Negócios do Império. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889, p. 70 e p. 172.
[35] L’Étoile du Sud, Rio de Janeiro, a. 6, n. 105, p. 2, déc./jan. 1887.
[36] “The minister of empire has authorized the libarian of the National Library to purchase the manuscripts, etc., belonging to the late Dr. João Antonio Alves de Carvalho. The price is 25.000$. The Rio News, 5 Nov. 1886, p. 4.
[37] Relatório da Bibliotheca Nacional [de 1894], p. 16.
[38] Jornal do Commercio, 8 set. 1891, p. 5.
[39] Jerônimo Teixeira Boavista (1841-1922), português, comerciante e capitalista. Seu filho Alberto Teixeira Boavista (1881-1940) fundou, em 1924, com Tomás Óscar Pinto da Cunha Saavedra, terceiro barão de Saavedra, a Casa Bancária Boavista, que se tornou, em 1927, o Banco Boavista, do qual o neto, Roberto Teixeira Boavista, foi presidente.
[40] Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 25 jun. 1883, p. 3; 12 jul. 1883, p. 4, e 27 ago. 1883, p. 4.
[41] Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 3 ago. 1869, p. 4.
[42] 1908. Provedoria e Residuos. N° 531. Inventário de Antônia Rosa de Carvalho (f), inventariante dr. José Caetano de Paiva Pereira Tavares, f. 11,12-24, passim. No arquivo do Poder Judiciário do Rio de Janeiro.
[43] Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 20 set. 1901, p. 4.
[44] Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 13 nov. 1886, p. 4, e 8 set. 1891.
[45] Ibid. Inventário de Joana Teresa de Carvalho, inventariante Herculano Marcos Inglês de Sousa, f. 59, passim. Se, em 1860, segundo se estima, um conto de réis equivaleria hoje a cerca de R$ 120 000,00, pode-se supor, que estamos falando de algo em torno de 46 milhões de reais de 2023.
[46] RHEINGANTZ, Carlos G. Um passeio no Rio antigo. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, v. 281, 1968, p. 124.