Instituído pela Lei 10.402 de 2002, o Dia Nacional do Livro Infantil, comemorado neste 18 de abril, marca a data de nascimento do escritor Monteiro Lobato que embora tenha contribuído com obras célebres para o público adulto, deixou um enorme legado principalmente para a literatura infanto-juvenil, já que mais da metade de seus livros era dedicada a esse público.
Sua primeira e talvez principal história infantil, “A menina do narizinho arrebitado”, foi publicada em 1920 imortalizando as personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia, Emília, o Visconde de Sabugosa, entre outros, que posteriormente se tornariam mais conhecidos no famoso programa da Rede Globo: O Sítio do Pica-Pau Amarelo.
“Visitar o Sítio do Pica-Pau Amarelo, conhecer o principezinho lindo e o vestido maravilhoso do casamento da Narizinho, onde os peixinhos dançavam, é assim uma viagem mágica, impressionante e que fica na memória de todos aqueles adoradores do texto do Lobato”, diz Anna Rennhack, editora e integrante da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).
Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Pedro Bandeira e Bia Bedran são, ao lado de Monteiro Lobato, alguns escritores que continuam a contribuir para que as literaturas infantil e juvenil forjem gerações de leitores. Isso porque, segundo os especialistas, a leitura na infância e na adolescência é fundamental para o desenvolvimento da prática leitora.
A professora e bibliotecária Cilene Oliveira, que têm uma vida dedicada à mediação de leitura com crianças e adolescentes, explica que o livro infantil permite trabalhar com o lúdico, com o imaginário e com e encantamento. “O livro infantil proporciona isso: é uma válvula de escape para muitas crianças que às vezes não têm sequer direito ao sonho”, pondera.
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Cilene, que também é mestre em biblioteconomia e hoje está à frente da Gerencia de Bibliotecas da Secretaria Municipal de Cultura do Rio, lembra que a literatura traçou o seu percurso e que os livros sempre foram de grande importância na sua vida. “A leitura muitas vezes me tirou de um estado depressivo ou de um momento de aflição”, recorda.
Ela também lembra que uma pessoa que lê tem um vocabulário melhor, além de ter mais possibilidades de competir no mercado de trabalho, cabendo aos pais e à escola o papel de incentivar. Mas como bibliotecária, Cilene acha importante o papel dos bibliotecários, principalmente os que atuam em bibliotecas públicas.
“O bibliotecário precisa sair do gabinete e fazer o corpo a corpo, sair das quatro paredes da biblioteca, fazer projetos em que ele saia, em que ele ocupe escolas, que ele procure outras instituições…”, defende a bibliotecária para quem mais do que hábito, a leitura é um ato político, um direito de toda criança.
Ainda sobre a questão do lúdico que a literatura infantil pode proporcionar, Rennhack lembra que existe uma situação “sutil”, em que algumas pessoas defendem que a criança não precisa do “fantástico” e do “maravilhoso”, mas sim da “realidade”, posição que, segundo ela, pode transformar as crianças em adultos “profundamente limitados”. “É através do mágico, da sensação do medo, de lidar com o desconhecido que nós vamos, como adultos, nos preparar para lidar com as dificuldades da vida”, defende.
Para Pedro Gerolimich, superintendente de Leitura e Conhecimento da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (SEC), órgão responsável por três das quatro unidades das bibliotecas-parque estaduais, o contato com o livro na infância é fundamental para se construir o leitor, pois é através desse contato que, segundo ele, se adquire o prazer.
“A gente entende que esse primeiro contato, o contato da infância é fundamental para construir o leitor, porque é nesse contato que se adquire o prazer. A escola cumpre um papel fundamental, mas ela tem um papel educacional. Agora o papel cultural, o papel da formação do hábito deve ser feito pelo prazer”, defende o criador do projeto “Livro de Rua”.
Para lembrar o Dia Nacional do Livro Infantil, a Superintendência comandada por Pedro realizou hoje uma edição especial do Conversa Literária, um projeto idealizado pela professora e curadora do evento, Cíntia Barreto. Mesas de bate-papo, sessão de autógrafos, oficinas e a libertação de livros movimentaram a Biblioteca-Parque Estadual durante todo o dia.
“A gente entende que a Biblioteca vai ter uma vida muito mais bacana, vai ter muito mais efervescência quando a gente traz a sociedade para cá. Então a gente não podia deixar de comemorar o Dia Nacional do Livro Infantil sem ter justamente essas parcerias com a sociedade”, se orgulha.
O mercado dos livros infantis
Mas apesar da sua importância no processo de formação de leitores, os livros infantis e também os juvenis têm padecido com a intensa crise que se abateu nos últimos anos sobre o mercado editorial brasileiro. É o que mostra uma levantamento periódico feito pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
A pesquisa, uma estimativa elaborada a partir dos dados de uma amostra de editoras, revela que de 2016 para 2017 houve uma variação negativa de 3,80% nas vendas de livros infantis e de 4,99% nos juvenis. Foram cerca de 1 milhão de exemplares a menos vendidos nas duas categorias de um ano para o outro, o que contribuiu para a falência de algumas editoras.
Anna Rennhack, que também é mestre em Educação e membro do Grupo de Trabalho do Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas do Rio de Janeiro (PELLLB/RJ), acredita que a situação de crise neste segmento do mercado editorial, iniciada em 2014 quando o governo federal deixou de comprar parte desta produção, deve se refletir inclusive nos níveis de leitura, hoje considerados já bastante baixos.
“Este déficit, de 2014 até agora, vai refletir significativamente nas novas estatísticas sobre leitura no nosso país. Então aquele material que sai de cinco em cinco anos, que é o “Retratos da Leitura no Brasil”, nós vamos ver com certeza uma queda dos índices de leitura ocasionada pela falta de acervo e de reposição de livros de literatura nas escolas”, pondera.
Segundo Rennhack este é um dos fatores que pode inviabilizar o cumprimento da lei das bibliotecas escolares (Lei nº 12.244 de 2010), que estabelece o ano de 2020 como prazo para que todas as escolas do ensino básico tenham bibliotecas. “As editoras têm o seu trabalho de divulgação, de produzir pacotes de livros, de orientar as escolas e as prefeituras, mas o grande comprador de livros infantis e juvenis ainda é o governo”, lembra.
Rennhack explica que nos primeiros meses de 2019 houve uma queda nas vendas dos livros infantis e juvenis da ordem de 25% causada, segundo ela, em função da crise que no ano passado atingiu principalmente as livrarias Saraiva e Cultura. “Não é só uma questão localizada do problema do mercado. São várias questões: preço de livro, distribuição, consignação […], as editoras estão publicando menos”, lembra.
Abaixo algumas imagens do “Conversa Literária”: