Não importa a palavra nessa corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde emerge a graça do amor, a cegueira da paixão. E o escuro onde nasce a solidão, a angústia, a saudade, a lágrima e o afago.

Essa incompreensível forma que me sustenta o coração. Que nutre os sentidos e os sentimentos. Quem é que entende a linguagem surda-muda do coração, haverá de saber também que amor é um verbo transitivo direto, e que a palavra é disfarce da coisa mais grave que inventamos para ser calada em momento de grande prazer.

E sobre um mar, dicionário, gramática aplicada, quem frequentá-las, poderá apanhá-las, palavras, com a mão, um peixe vivo, por um susto terror e inconsciente.

Esses tantos verbos, adjetivos, consoantes, construídas, constituídas, seguem deixando seu rastro por onde passam, seja nas nossas vidas, nossas vias, avenidas que vão ficando para trás. Nessa nossa vida, nos enlaçam, nos consomem e nos castigam. Agride-nos e nos dá carinho, nos amam e nos deixam em desamor e enfim, por si só, perdidos num emaranhado de frases duvidosas quando o amor nos agarra de jeito e então, deixa a saudade brotar junto a tantas vírgulas e interrogações.

E é perdido num livro que tento entender o que há comigo agora. Posto que, sem você, tudo é silêncio. Tudo são palavras silenciosas, palavras escritas, meramente escritas em caderno de caligrafia, vogal matinal, temática, que me acorda e me consola, pois estamos aprendendo a todo instante conviver com este sentimento composto.

Entretanto, preciso confessar-te urgente, que a inicial do seu nome me consome, e assim sendo, toda hora, todavia, portanto, porém, me pego, me apego, me perco pensando em você. Semfrase, sem crase, sem palavras. Poeta e escravo dessas mesmas palavras, estrelas infinitas, nas entrelinhas, desse céu vocabulário, colocando-as para ti com perfeição, expondo o que há de melhor dessas flores verbais só pra ti, desse jardim gramatical, onde numa folha que cai, de cetim ou papel machê, escritas são todas com desejos de te ver, de te ter, de te buscar no verbo amar, infinitivo, te conjugando, em tantos modos, em tantos tempos, tempo sem fim, seu corpo, pretérito mais que perfeito, que me corta, que corre nas horas por extenso, perdidas quando provo um beijo seu, quando faço poesia em você, de você, que coincidentemente é quando se faz o verbo amor.

No entanto, assim, não percebemos o tempo esvair-se, se conjugando, mas há tantos sentidos, há tantas formas deste modo, ainda assim, estas palavras são poucas pra dizer o quanto sou gramática vazia sem você.

Todavia, precisamos de um céu pra voar, de ruas pra correr, de mares pra navegar, de poesia pra viver. Nessas horas fugidias em que me encontro nos teus braços, em verso e prosa, em frase perfeita, onde me acho e me perco e sou feliz e poeta, vivendo entre o certo e o duvidoso, buscando sempre a melhor coesão. E como já dizia na canção de Chico, podes nem me ver, mas saiba, que os poetas como os cegos podem ver na escuridão.  E na escuridão que eu me encontrar, vou estar te vendo, te revendo, te inventando e reinventando, te trazendo mais pra perto, em uma carta, um livro ou um cartão postal e vou estar em todas as classes gramaticais buscando um jeito de te conquistar, de te trazer pra mim, para um verbo amor sem fim.

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