Por Leonardo Cazes de O Globo
Em dez anos, o mercado editorial brasileiro encolheu 14%. É o que revela um levantamento inédito realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a partir da compilação dos dados da Pesquisa de Produção e Vendas do Setor Editorial, realizada anualmente por encomenda da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (Snel). Pela primeira vez, a Fipe deflacionou os números, tomando como base o ano de 2015, o que permite comparar os resultados de cada ano.
O principal responsável pela queda foi o segmento de obras gerais. O faturamento do subsetor caiu de R$ 1,84 bilhão em 2006 para R$ 1,14 bilhão em 2015, depois de atingir R$ 1,86 bilhão em 2009. O péssimo desempenho não pode ser explicado apenas pela recessão econômica brasileira. Em 2014, o segmento registrou um faturamento de R$ 1,41 bilhão. No ano passado, o cancelamento do programa de compras governamentais para bibliotecas públicas ajudou a jogar o resultado para baixo.
Para Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel, a pesquisa mostra um cenário muito preocupante para toda a cadeia do livro. Pereira, dono da Editora Sextante, afirma que a aposta na redução dos preços dos livros, que seria compensada pela expansão do mercado consumidor, se revelou equivocada. De 2006 a 2015, o preço médio das obras gerais vendidas no mercado caiu de R$ 17,54 para R$ 9,86.
— A conclusão da pesquisa é dramática. A aposta que a gente fez lá atrás, que a diminuição do preço criaria um aumento de volume, infelizmente não se concretizou. Nos primeiros anos, até observamos uma manutenção do faturamento. Com o aumento da inflação, foi um desastre — diz o presidente do Snel. — Os livros de interesse geral são vendidos, fundamentalmente, em livrarias. Não houve aumento do volume, mas aconteceu uma queda brutal do preço. Os livreiros sofreram muito nesses últimos anos também.
Na outra ponta, o subsetor de livros religiosos foi o único cujo faturamento em 2015, de R$ 559,04 milhões, foi maior do que em 2006, de R$ 517,43 milhões. Mesmo assim, foi um desempenho muito abaixo de 2010, quando alcançou o seu melhor resultado, de R$ 698,3 milhões. Pereira associa o bom resultado do segmento à ascensão da classe C durante os anos de forte crescimento econômico no Brasil.
— A ascensão da classe C teve um impacto muito maior no livro religioso do que nas obras gerais. A pesquisa “Retratos da Leitura” (sobre o hábito de leitura dos brasileiros) já tinha apontado nessa direção, já que a bíblia é o livro mais lido.
Já os subsetores de didáticos e científico-técnico-profisionais (CTP) sofreram menos oscilações ao longo dos últimos dez anos. Os didáticos tiveram resultados ruins nos anos de 2014 e 2015, por causa da redução das compras governamentais. O melhor desempenho do segmento foi em 2010, com faturamento de R$ 3,15 bilhões, quando as aquisições dos governos responderam por 50% das vendas. Os CTP, por sua vez, foram beneficiados pelo crescimento das matrículas no ensino superior, com resultados positivos entre 2011 e 2014. No ano passado, o subsetor sofreu um tombo de 22%, tendo a pior perfomance desde 2007.