Muito se tem discutido a respeito da acessibilidade de pessoas com deficiências físicas, visuais, auditivas e até mesmo de pessoas desfavorecidas socialmente em bibliotecas, a qualificação e o tratamento dos bibliotecários no atendimento a estas pessoas. Prova disso é a Lei nº 7.853/89 e o Decreto nº 3.298/99 quando começaram as discussões em torno de acessibilidade que voltam-se para uma política nacional de integração de pessoas portadoras de deficiência. Se comparada com o Projeto de Lei do Senado Nº 402, de 2008 que garante acesso dos portadores de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) na educação básica observa-se que as discussões sobre acessibilidade de portadores de distúrbios de aprendizagem são mais recentes.

Porém, pouco se tem abordado na literatura de Biblioteconomia e Ciência da Informação, a respeito da mediação de pessoas com dislexia – e outros distúrbios de aprendizagem – do acesso ao aprendizado e desenvolvimento de hábitos de leitura e menos ainda a respeito de práticas de leitura com disléxico e a utilização da leitura de imagens como forma de mediação para o aprendizado destes.

Encontrar profissionais que busquem estratégias e facilitem a aquisição e o desenvolvimento da leitura é essencial para programas que visam à intervenção e ao bem-estar de indivíduos com distúrbios de aprendizagem, não somente na área clínica, como também na educacional. Desenvolver programas que despertem as habilidades dos portadores de dislexia é um desafio para o sistema de ensino que privilegia somente aquele que sabe ler e escrever nos parâmetros convencionais.

A educação é indispensável ao desenvolvimento de qualquer indivíduo, de modo que os estabelecimentos de ensino devem fornecer pleno acesso à educação, conforme garante o artigo três do Projeto de Lei do Senado nº 402 de 2008: “As escolas de educação básica devem assegurar às crianças e aos adolescentes com dislexia e TDAH o acesso aos recursos didáticos adequados ao desenvolvimento de sua aprendizagem”. Neste contexto, faz-se necessário que os portadores de dislexia e outros distúrbios de aprendizagem, tenham acesso aos meios pelos quais a informação é disseminada e, que na fase inicial de todo aprendizado ocorre por meio da leitura.

As bibliotecas – em geral – também devem atender a estes requisitos, pois se constituem em um local que proporcione atividades de leitura, despertando nas crianças ou adultos o seu imaginário. Em contrapartida, o bibliotecário deve buscar mais qualificações, que permita acrescentar em seu currículo, conhecimento a cerca da linguagem visual e dislexia, para que ao desenvolver a mediação com uma equipe multidisciplinar (ou sem ela) possa facilitar à leitura de crianças e/ou adultos com dislexia, por meio de práticas pedagógicas que ajudem no processo de aprendizado destes. Como mediador, o bibliotecário escolar (ou de qualquer Unidade de Informação), deve inserir-se na comunidade escolar, conhecendo e participando das propostas curriculares, integrando assim, o espaço da biblioteca á escola, proporcionando momentos de descoberta, criatividade, reflexões e aprendizagem entre outros.

Atividade de leitura na Biblioteca Parque Estadual do Rio. Foto: Hanna Gledyz / Agência Biblioo

Durante o desenvolvimento das estratégias de leitura, que envolvem o trabalho com imagens e despertam os meios multissensoriais cognitivos, tais como o Baú da leitura, a hora do conto dentre outros, é interessante, que o bibliotecário atente para os processos abrangidos tanto na leitura verbal quanto visual. O interesse pelo visual tem levado diversos educadores a discutirem sobre as imagens e sobre a necessidade de uma alfabetização visual (lúdica), como a leitura de imagens, que ajuda a assimilar o que se diz em um texto de maneira mais fácil.

LINGUAGEM VISUAL E SEUS FUNDAMENTOS

As imagens sempre foram utilizadas como meio de comunicação.  Atualmente a imagem tem se tornado uma linguagem em evidência, nas mídias, no campo da informação, comunicação e até mesmo e principalmente na educação. A linguagem visual cria efeitos que são capazes de persuadir a nossa mente, despertando o nosso interesse para um mundo visual, onde se coloca em primeiro lugar a percepção individual e logo em seguida a palavra. Vindo daí a necessidade de compreendermos a forma como a imagem comunica e transmite as suas mensagens.

Tal expressão – leitura de imagens- começou a circular na área de comunicação e artes, devido a explosão dos sistemas de comunicação audiovisuais, na década de 70. Na psicologia, a leitura de imagens foi utilizada como estudo devido a percepção gerada pela imagem, uma vez que a experiência de produção e recepção supõe um processo perceptivo que é considerado como uma elaboração ativa que transforma a informação recebida. A proposta de leitura de imagens fundamentada na “racionalidade” perceptiva e comunicativa justifica o uso e desenvolvimento da linguagem visual como facilitador da comunicação, constituindo-se também em uma forma de conhecimento que pode favorecer o desenvolvimento intelectual para a racionalidade cognitiva.

A linguagem visual recentemente tem provocado nas leituras, analogias com a alfabetização, já que ao ver uma imagem o cérebro capta a mensagem através dos mecanismos de leitura e decodificação de imagens. Os signos originam-se das relações entre os homens, que criam ferramentas que permitem a troca de comunicação entre as pessoas.

Muitas dessas ferramentas são instrumentos simbólicos que agem sobre a cognição psicomotora das pessoas, facilita a comunicação e a interação entre seus semelhantes e o meio social ao qual vive.

MEDIAÇÃO COMO FAZER DO BIBLIOTECÁRIO E DA BIBLIOTECA ESCOLAR

Um dos segmentos da mediação explícita mais abrangente é a disseminação da informação, trabalhado em atividades culturais como a ação cultural, leitura, mediação da leitura e animação da leitura, preocupando-se desta forma com as manipulações aplicadas nestas atividades. Esse processo de interferência depende do conhecimento do mediador e das condições simbólicas da linguagem, pois a transformação da informação para o conhecimento envolve a construção de signos. As atividades da mediação, por meio dos elementos simbólicos, visam a continuidade da relação entre a informação e o sujeito, viabilizando a dominância da linguagem verbal, sonora e visual.

Para o sistema educacional a dislexia é um entrave que compromete a leitura, o entendimento das palavras escritas ou impressas e da pronúncia das palavras durante a leitura. Há, no entanto, na literatura educacional diversos exemplos de intervenções que surtem efeito satisfatório no processo de aprendizagem dos disléxicos. Sendo admitida neste caso, a presença de elementos (signos) capazes de estabelecer ligações entre realidade objetiva (externa) e pensamento.

Como mediador, o bibliotecário deve fundamentar-se no uso de práticas pedagógicas que possam ajudar no desenvolvimento de suas atividades. Em inúmeros casos, o mediador propõe trabalho de analogia entre diversas obras, entre um texto e/ou objetos e imagens que facilitem a compreensão do texto.

O bibliotecário deve fundamentar-se no uso de práticas pedagógicas que possam ajudar no desenvolvimento de suas atividades. Foto: Divulgação

O mediador ao desenvolver estratégias de leitura, leva em consideração as individualidades, singularidades e necessidades do leitor, compreendendo o seu histórico de aprendizado, fazendo com que o leitor desperte para um olhar critico e construa aos poucos uma nova racionalidade. Esses objetivos só são alcançados por meio de ações de leitura, que devem ser criadas com características de liberdade e ludicidade, voltadas não apenas para o hábito da leitura, como também proporcionar ao leitor interação, convívio e diálogo.

Dentro de uma biblioteca escolar o bibliotecário, é visto como catalisador da colaboração, não só por iniciar ações de relacionamento com seus usuários e outros profissionais como também por criar cultura de colaboração. A participação dos bibliotecários em uma equipe multidisciplinar permite uma construção de possibilidades no processo de aprendizado.

Essa colaboração na mediação é essencial, pois significa o envolvimento não só do bibliotecário como também de outros profissionais, visto que a leitura envolve diferentes tipos de linguagem, possibilitando a troca de experiências com outras áreas, contribuindo assim, na formação de uma equipe multidisciplinar, na implantação e desenvolvimento de atividades voltadas para o aprendizado de pessoas com dislexia, que podem ser assistidas por estes profissionais.

O ESPAÇO DA BIBLIOTECA ESCOLAR PARA MEDIAÇÃO

Tendo em vista sua função cultural, as bibliotecas são vistas atualmente como uma alternativa de inclusão social com espaço democrático, tendo a informação como ferramenta de conscientização dos direitos e deveres dos cidadãos.

O Manifesto da Unesco de 1976 considera a biblioteca escolar como “[…] a porta de entrada para o conhecimento, fornece as condições básicas para o aprendizado permanente, autonomia das decisões e para o desenvolvimento cultural dos indivíduos e dos grupos sociais”.

A biblioteca escolar como espaço para formação do leitor requer um olhar atento para suas condições de funcionamento e práticas pedagógicas, porém essa função só será cumprida se o mediador que atuar nesse espaço for dinâmico. Muitas das atividades pedagógicas desenvolvidas em seu meio auxiliam no processo de desenvolvimento cognitivo da criança.

O bibliotecário como mediador deve propiciar a leitura em todos os âmbitos e espaços, no intuito de envolver os sujeitos. Um dos grandes desafios enfrentados pelos bibliotecários – em se tratando de bibliotecas escolares – é a dificuldade em mudar a maneira em como as escolas incentivam as crianças apenas a busca por determinado assunto, sem que haja uma interação do usuário com o seu material de ensino, além da ausência de infraestrutura adequada de informação.

Quando se trata de biblioteca escolar, a função de agente social educativa de um bibliotecário torna-se importante quando analisamos uma biblioteca, devido ao fato do público infantil ir em busca do saber em sua mais primária instância. Ao longo do tempo a preocupação com a capacitação do bibliotecário e com os seus recursos informacionais utilizados na mediação, tem se tornado visível, o que culminou na criação de práticas pedagógicas destinadas especialmente a atingir esse objetivo.

Ao discorrer sobre o papel do bibliotecário na leitura de imagens para disléxicos, observou-se com base nas várias tentativas de contatos com as escolas, tanto públicas como particulares, e insistência para realizar esta pesquisa que são poucas as escolas que voltam o espaço de suas bibliotecas para a aplicação de praticas pedagógicas. Quanto aos materias utilizados para esta prática, observou-se que em sua maioria são materias que, utilizam a linguagem visual, com elementos que atraem a atenção tanto de crianças, como de adultos, com sua textura, cor e forma.

Atividade de leitura na Festa Literária de Santa Teresa, no Rio. Foto: Hanna Gledyz / Agência Biblioo

Diante desse contexto, arrisca-se a fazer algumas considerações (com base na entrevista de algumas bibliotecárias) na falta de conhecimento – constatada durante a realização deste trabalho – da leitura de imagens e atuação do bibliotecário como mediador. A primeira é a de que se precisa romper com as barreiras cognitivas, arquitetônicas, emocionais, de atitudes e de comunicação ao atuar – com ou até mesmo sem uma equipe multidisciplinar – no desenvolvimento de práticas pedagógicas, fazendo uso de imagens na leitura e outras atividades lúdicas, que podem auxilia-lo durante a mediação e não aplicar a leitura de imagens apenas por aplicar, mas procurando entender seus processos e suas etapas.

A segunda consideração chama a atenção para a acomodação dos bibliotecários, em não utilizar o espaço da biblioteca escolar – e de outras unidades de informação – para proporcionar momentos de dinâmica e de interatividade, precisando, portanto, atentar para as necessidades de seus usuários. Lembrando que uma biblioteca escolar atende a crianças, adolescentes e adultos.

Nesse contexto, sugere-se que o bibliotecário acrescente em seu currículo mais qualificações, que permita, conhecimento a cerca da linguagem visual e dislexia (além de outros distúrbios de aprendizado), para que ao desenvolver a mediação com uma equipe multidisciplinar (ou sem ela) possa facilitar à leitura de crianças e/ou adultos com dislexia, por meio de práticas pedagógicas que ajudem no processo de aprendizado destes.

Ressalta-se, mais uma vez – sem a intenção de ser redundante, mas destacar a complexidade do tema da leitura de imagens para disléxicos – que a realização deste trabalho foi um desafio (por se ter pouco conhecimento de práticas pedagógicas a respeito de tal), e que por isso, mesmo tendo-se a plena consciência de que este trabalho seja insuficiente para se chegar a conclusões definitivas, chama-se, aqui, a atenção para sensibilizar o bibliotecário sobre a importância do auxilio deste, aos alunos disléxicos, ao atuar com uma equipe multidisciplinar, no processo de aquisição da leitura e ressaltar seu papel pedagógico nas bibliotecas e sua relevância na formação de leitores, de uma forma democrática e lúdica.

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