RIO – Profissionais de ramos distintos, Luciano Cezareto e José Lavaquial se dedicam atualmente a um tipo de negócio pouco explorado pelo mercado: o gerenciamento da informação. Cezareto e Lavaquial são, respectivamente, diretor de marketing e presidente da DocPro Bibliotecas Virtuais, empresa sediada no Rio de Janeiro responsável pelo desenvolvimento da tecnologia doc reader. Nesta entrevista eles falam sobre a empresa, o mercado e de outros assuntos referentes à questão da informação.
Chico de Paula: Como surgiu a DocPro?
José Lavaquial: Na verdade chamamos isso de “acidente DocPro”. Nós tínhamos outra empresa na área de software ERT e veio um cliente de São Paulo para fechar um negócio – nós representávamos uma empresa europeia no Brasil nessa época. Eles vieram à tarde para fechar um negócio e, durante a reunião, foi necessário um documento que tinha vindo por fax especificando detalhes sobre essa transação. Esse documento não foi encontrado e eles foram embora sem assinar o contrato. Ficou uma situação bem ruim.
C. P: Vocês perderam o negócio por conta disso?
J. L.: Não perdemos o negócio, mas na hora ficou essa sensação. Após eles saírem começou aquela discussão interna a respeito de não termos achado o papel. Alguém falou: “se esse documento estivesse salvo em um cd nós não tínhamos perdido o negócio”, que era a sensação do momento. Resultado: “então amanhã compra um negócio desses para controlarmos nossa documentação” e na verdade não encontramos nada rápido e fácil para colocar a documentação. Tinha que cadastrar muita coisa e queríamos algo mais ágil, sendo fácil de encontrar e instalar. Porque essa balança tem que estar equilibrada: não adianta ser muito fácil de encontrar e ser muito difícil de armazenar a informação. Tem que ter o equilíbrio e isso nós não encontramos. Somos todos da área tecnológica e encaramos isso como uma boa oportunidade. Começamos a entrevistar nossos clientes de outras coisas e todo mundo tinha uma história parecida com essa de não encontrar o documento no tempo e na hora. Então começamos acreditar que isso seria um bom negócio. Iniciamos entrevistas com esses clientes e conhecidos perguntando exatamente o que um sistema deveria ter. Cada um deu sua opinião e compilamos aquilo, montamos um protótipo e a versão 0.9. Não tínhamos uma documentação real para testar. Chegamos para um cliente nosso do ramo de papel e propomos o seguinte: passamos seis meses e não vamos cobrar nada de vocês. Passamos esse tempo evoluindo o produto. Eles aceitaram e quando voltamos para o Rio de Janeiro trouxemos a versão 1.5 e atualmente estamos quase chegando a 8.0. Algumas versões são anuais e digo o seguinte: quem tem o grande mérito dessa tecnologia são os nossos clientes. Nós talvez temos o mérito de aglutinar essas ideias e generalizá-las. Temos conseguido esse caminho desde então. Devido a isso, talvez, hoje nós não temos exatamente uma concorrência porque ela é feita de fora para dentro. Nós não chegamos e vendemos um software, o software é um meio de apoiar o trabalho que realizamos para criar bibliotecas e arquivos virtuais, etc. O software é o reflexo de estar a tempo todo em contato com o cliente. Talvez por isso que hoje nós não temos uma concorrência com alguém fazendo a mesma coisa.
C. P.: Em que consiste a tecnologia DocPro?
Luciano Cezareto: A tecnologia DocPro é uma ferramenta de amplo atendimento. A essência é pesquisar e encontrar a informação de forma simples e rápida. Hoje é muito natural você precisar de uma informação para uma prova ou um treinamento e ir ao Google fazer a pesquisa. Isso vale para todos os acervos públicos, mas as pessoas preferem encontrar a informação nos seus próprios acervos e papéis. Não existe uma ferramenta tão simples e ágil como a tecnologia DocPro para achar isso.
C. P.: Então vocês digitalizam e possibilitam encontrar os documentos que o indivíduo está procurando por meio de uma indexação eletrônica, digamos assim?
L. C.: Exatamente. A digitalização é uma necessidade, mas o grande objetivo final é localizar a informação. No Google nós não nos preocupamos como foi digitalizado e como a informação está por trás. Pesquisamos e encontramos o resultado, da mesma forma é a tecnologia DocPro. É localizar a informação só que nos nossos acervos e de uma forma muito prática, sem ter pré-requisitos tecnológicos ou estruturais para isso funcionar. Hoje a infraestrutura que você já tem em seu computador, sua rede, você já consegue ter resultados imediatos.
C. P.: Existe mercado no Brasil para esse produto que vocês estão oferecendo atualmente?
J. L.: Existe. A DocPro cresce desde então com uma taxa anual bastante significativa com progresso. É um crescimento contínuo e eu diria que poderia ser muito maior do que é hoje. Talvez nossa área comercial e de marketing seja um pouco tímida. Nós atendemos a pessoas físicas e grandes corporações.
C. P.: Um dos produtos que vocês mais trabalham é com a memória das instituições. As instituições públicas e privadas estão sensíveis em relação à questão da memória ou isso ainda é uma ignorância por parte das pessoas?
J. L.: Na verdade sim. Acredito que é um processo um pouco complexo porque existem vários atores. Existe aquele que conhece e quer preservar, existe aquele que tem de escrever um projeto para sensibilizar outras pessoas e existe o dinheiro que precisa para que isso aconteça. Você pega, por exemplo, a Lei Rouanet ou as leis estaduais… Primeiro tem que ter alguém que teve a ideia de que aquele acervo deve ser preservado. Normalmente essa pessoa não sabe escrever um projeto para que consiga aprovar algo pela Lei Rouanet. Então tem que ter um escritor de projeto. Só que a Lei Rouanet só te dá o direito de ir atrás de uma empresa para se isentar de um imposto e usar esse imposto para ser o mecenas daquele projeto, normalmente acontece problema. Porque agora eu precisei de três, da Lei Rouanet, do escritor e do dono do acervo, e, além disso, correr atrás de alguém que tenha imposto a pagar e ao invés de pagar esse imposto se sensibilize com aquilo. Como as leis são muito rígidas, como tem de ser, isso também complica. Fizemos uma vez esse processo para um cliente nosso. Ele tinha um acervo e queria, não tinha ninguém, nós juntamos o projeto, entramos na Lei Rouanet e fomos correr atrás de patrocinadores. A DocPro fez todo o processo. E depois controlar. Porque o controle é nível de cada táxi que você pega para ir a algum lugar, cada sedex que você manda, ou seja é um controle muito rigoroso. Não é qualquer um que tem a nossa estrutura financeira e o hábito de um controle tão rigoroso. Então esse conjunto que faz não ter aquilo que se poderia ter em termo de resultado final, que são os acervos. Mesmo assim, apesar de todas as dificuldades, não vejo falta de interesse na manutenção, vejo dificuldade de até chegar de novo e estar o produto pronto. Empresas como a Petrobrás, que faz muito incentivo nessa área, você vê que vários produtos que deveriam ficar prontos e não acabam. Porque tem que planejar o projeto e fazer acontecer. Tempo para fazer acontecer muitos deles não conseguem.
C. P.: Quais empresas vocês prestam serviços atualmente e que trabalhos estão sendo realizados?
J. L.: Vou citar algumas. Na área de instituições: Biblioteca Nacional, [Biblioteca ] Mário de Andrade [em São Paulo], Casa de Rui Barbosa, CPDOC, Fiocruz, FGV (Conjuntura Econômica e o acervo do CPDOC), Petrobrás (Engenharia, área jurídica, de RH, de contratos, exploração, produção). São setores absolutamente distintos como se fossem empresas diferentes. A TV Globo da mesma forma, lida muito com documentação histórica e documentação do dia-a-dia em maior volume.
L. C.: Tipicamente dentro das corporações existe uma estratégia de gerir o legado. Chegamos hoje na empresa e existe um legado e um corpo de papel. Existe uma estratégia para digerir isso e emergencialmente a parte gerada do dia-a-dia precisa ser pesquisada, que é uma parte menor do que já tem de histórico e legado. Então as duas áreas são colocadas em prática para a pesquisa.
J. L.: O que nós fazemos normalmente é dividir em duas estratégias, porque você não pode começar o legado e não estar fazendo o dia-a-dia. O que fazemos como estratégia é ir tocando o dia-a-dia e outra estratégia que faz o legado.
C. P.: Qual a estratégia da empresa para alcançar esses clientes?
L. C.: Hoje existe uma demanda de trabalho tipicamente pela indicação dos próprios clientes. Visualizamos facilmente na DocPro os acervos públicos, como o acervo da Biblioteca Nacional. Periodicamente recebemos e-mails de elogios e agradecimentos pela disponibilidade hoje que o acervo tem. Isso é um grande cartão de visita, primeiro pelo uso, pela facilidade e condições da tecnologia e segundo pelo nossa capacidade em desenvolver um trabalho nesse volume. Hoje no caso desse projeto, por exemplo, desenvolvemos algo em torno de 100 mil páginas por dia de processamento. Poucas instituições e empresas tem uma capacidade de processo nesse volume e com nível de organização. Então dentro de uma velocidade e de uma facilidade de pesquisa, isso gera indicação entre os próprios clientes, o grande expositor. Existem várias empresas, mas como são documentos corporativos isso não fica exposto para todo mundo. Estamos frequentemente dentro de eventos participando com palestras e conferências educacionais. Para mostrar para o público principalmente que só digitalizar não resolve, ainda há a dificuldade de localizar a informação. Tem um novo nicho que é um grande expositor e a ferramenta sempre pode fazer isso para ampliar um pouco mais que são as publicações periódicas. Dados recentes da revista Exame revelam que o volume de pessoas que leem jornais e periódicos em dispositivos móveis ultrapassou o número de pessoas que leem no papel. Isso é um caminho sem volta. É uma bolha onde os dispositivos móveis se tornarão uma ferramenta de leitura e mais do que isso pesquisas do dia-a-dia. Os acervos periódicos hoje são tipicamente um grande alvo da nossa tecnologia e com um grande diferencial: todas as tecnologias que temos hoje no mercado, você consegue ler e pesquisar na edição. Com a tecnologia DocPro você pesquisa no acervo inteiro. Um exemplo típico: basta você entrar no portal da revista Conjuntura Econômica e uma pesquisa só na edição que você está lendo. Você pesquisa um assunto em todo acervo que são quase oito décadas de acervo. Nenhuma tecnologia no mercado faz uma pesquisa completa como essa. Em geral você tem que abrir cada edição para fazer sua pesquisa.
C. P.: A empresa está localizada no Rio de Janeiro. Caso um leitor da Revista Biblioo queira entrar em contato, como faz para encontrar a empresa?
L.C.: Através do nosso site: www.docpro.com.br ou por telefone: (21) 2533-4448.
J. L.: Pelo e-mail: comercial@docpro.com.br
L. C.: Eventualmente nos eventos, basta nos abordar para bater um papo. Também pelo facepage no facebook que tem uma série de novidade com mais periodicidade.