Quase metade dos alunos do terceiro ciclo (que vai do 7º ao 9º anos de escolaridade) e secundário (47,5%) da educação básica em Portugal vão às bibliotecas escolar fazer tarefas escolares ou acessar à internet (37%), mas apenas 16% procuram livros para ler. Um estudo sobre as práticas de leitura dos estudantes em Lisboa, divulgado no final de setembro, mostra que mais de um terço não lê livros por prazer.

Segundo o estudo, um em cada quatro alunos tem menos de 20 livros em casa, enquanto 1% respondeu não ter um único livro. Comparativamente a uma pesquisa feita em 2007, o estudo revelou que os alunos leem cada vez menos, especialmente por prazer. As estudantes leem mais que os rapazes e o contexto familiar é determinante: quanto mais livros têm em casa mais os alunos vão à biblioteca e requisitam livros.

A pesquisa ainda revelou que em Lisboa quase 60% dos alunos são de famílias onde a prática de leitura é “fraca” ou “distante”. Comparativamente à pesquisa de 2007, passou de 15,3 para 31,1%, em 2019, os alunos que responderam “nunca” ver familiares lendo em voz alta. Ou seja, conclui o estudo, a maioria das leituras são feitas no âmbito da disciplina de Língu Portuguesa no contexto da sala de aula.

No momento em que o estudo foi feito, 71,2% dos alunos responderam que não estavam lendo nenhum livro por prazer. No ano anterior à consulta, 21,6 responderam o mesmo, mas quase metade (47,3%) afirmaram ter lido entre um a três livros nesse período; 22,1% leram entre 4 a 10 livros e 9% mais do que 11.

Os alunos responderam dedicar quase cinco horas por dia no smartphone e/ou tablet (3,23 horas) ou assistindo televisão (1,6 horas), mas apenas cerca de 45 minutos lendo. Mais de dois terços assumem participar de “chats”, mas apenas um quarto lê notícias online. Apesar das horas passadas a olhar para a tela, os alunos continuam a preferir ler em papel, informa a pesquisa feita a partir da parceria entre o Plano Nacional de Leitura 2017-2027 (PNL2027) e o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE).

“Vê-se que há muitas práticas de leitura na sala de aula, mas temos de questionar se estamos contribuindo, de facto, para incentivar a leitura autônoma ou criando anticorpos” à prática, problematizou a ex-ministra da Educação de Portugal, Isabel Alçada. Já a sua antecessora na pasta, Maria de Lurdes Rodrigues, atual reitora do ISCTE, defendeu que programas como o Plano Nacional de Leitura ou a Rede de Bibliotecas Escolares têm de ser continuados, “com resiliência” e “sem descontinuidades” ao nível do investimento ou dinâmicas.

“As hesitações em Educação atingem gerações inteiras, sendo as crianças e jovens vítimas dessas hesitações”, insistiu Maria de Lurdes Rodrigues.

*Publicado originalmente no jornal português JN sob o título “Alunos vão à biblioteca fazer trabalhos mas não para requisitar livros” | Adaptação: Chico de Paula

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