A Festa Literária Internacional de Paraty 2018 (Flip) começa hoje (25) com uma programação bastante diversa, tentando, em muitos momentos, atualizar a edição do ano passado, conforme confessou Josélia Aguiar, curadora do evento. Essa pluralidade na programação reforça, segundo os organizadores, o caráter artístico, com novos formatos de mesa e um elenco de autores e autoras que atuam em campos diversos, expandindo a literatura além fronteiras.

“Depois de um programa que, em 2017, festejou um autor cujo projeto literário dialogou diretamente com questões sociais e políticas de seu tempo – Lima Barreto –, este ano as mesas literárias estão estruturadas em torno de temas como o amor, o sexo, a morte, Deus, a finitude e a transcendência – todos presentes na obra de Hilda Hilst – , configurando, assim, uma Flip que será mais íntima”, afirma a curadora.

Pensando nisso, preparamos algumas dicas tanto da programação principal, quando da paralela. A programação principal, por exemplo, reúne 33 autores e autoras. Já a programação paralela reúne 22 Casas, como a da Libre e Nuvem de Livros, Café Literário do Sesc, entre outros. Confira:

Programação principal

Sexta-feira, 27 de julho

12h | Mesa 8 | “Minha casa”, com Fabio Pusterla e Igiaba Scego

Fazer literatura tendo uma língua comum – o italiano – e diferentes aportes, fronteiras e paisagens geográficas e literárias: nesse diálogo, reúnem-se o poeta de um país poliglota, que é tradutor do português, e uma romancista filha de imigrantes da Somália, que escreveu sobre Caetano Veloso.

15h30 | Mesa 9 | “Memórias de porco-espinho”, com Alain Mabanckou

O absurdo e o riso, Beckett, culturas africanas, escrita criativa e crítica da razão negra: a trajetória e o pensamento de um poeta e romancista franco-congolês premiado se revelam nessa conversa com dois entrevistadores.

17h30 | Mesa 10 | “Interdito”, com André Aciman e Leila Slimani

O exercício da liberdade de escrever e a escolha de temas tabu ou proibidos – a exemplo do homoerotismo, da sexualidade feminina e da religião —são as questões tratadas nesse diálogo entre dois romancistas, um judeu americano de origem egípcia e uma francesa de origem marroquina.

Sábado, 28 de julho

15h30 | Mesa 14 | “Obscena, de tão lúcida”, com Isabela Figueiredo e Juliano Garcia Pessanha

Uma romancista portuguesa nascida em Moçambique que tratou de temas como o racismo e a gordofobia se encontra com um narrador de gênero híbrido e filosófico para discutir a escrita de si, os diários e as memórias, o corpo e o desnudamento.

17h30 | Mesa 15 | “Atravessar o sol”, com Colson Whitehead e Geovani Martins

O americano vencedor do Pulitzer com um romance histórico sobre escravizados que construíram sua rota de fuga se encontra com um estreante que, da favela do Vidigal, inventa com liberdade seu jeito de narrar e usar as palavras.

Programação paralela

26/07 (quinta-feira), 18h.

A criação em família do livro Catálogo de pedras

João Anzanello Carrascoza e Juliana Carrascoza

Casa Sesi SP Editora

A programação completa pode ser conferida aqui

27/07 (sexta-feira), 19h30

Mulherio das Letras na Flip 2018

Lançamento coletivo

A programação completa pode ser conferida aqui

27/07 (sexta-feira), 18h

Casa Libre e Nuvem de Livros

Vozes que não se podem calar: Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e Marielle Franco

Com Conceição Evaristo, Janaína Damasceno, Tom Farias e Marcelo Freixo

A programação completa pode ser conferida aqui

28/07 (sábado), 11h

Café Literário (SESC Santa Rita)

Liberdade: a Vez da Voz, com Letícia Brito e Cuti

A programação completa SESC na Flip pode ser conferida aqui

28/07, (sábado), 15h30

Casa Bondelê

Bate-papo com Sheila Smanioto, autora de Desterro. Mediação: Júlia Rosemberg

A programação completa da Casa Bondelê pode ser conferida aqui

O que ler

Capa de “Da poesia” de Hilda Hilst. Imagem: divulgação

Da Poesia, de Hilda Hilst

A obra reúne, pela primeira vez, toda a lavra poética da autora de Bufólicas em um só livro, que inclui, além de mais de 20 títulos, uma seção de inéditos e fortuna crítica. O material contém posfácio de Victor Heringer, carta de Caio Fernando Abreu para Hilda, dois trechos de Lygia Fagundes Telles sobre a amiga e uma entrevista cedida a Vilma Arêas e a Berta Waldman, publicada no Jornal do Brasil em 1989. A poesia de Hilda – que ganha forma em cantigas, baladas, sonetos e poemas de verso livre – explora a morte, a solidão, o amor erótico, a loucura e o misticismo. Ao fundir o sagrado e o profano, a poeta se firmou como uma das vozes mais transgressoras da literatura brasileira do século XX.

 

 

 

Capa “Me chame pelo seu nome”. Imagem: divulgação

Me chame pelo seu nome, de André Aciman

Com rara sensibilidade, André Aciman constrói uma viva e sincera elegia à paixão, em um romance no qual se reconhecem as mais delicadas e brutais emoções da juventude. Uma narrativa magnética, inquieta e profundamente tocante.

 

 

 

 

 

 

Capa de “Memorias de porco espinho”. Imagem: divulgação

Memórias de porco-espinho, Alain Mabanckou

Em “Memórias de porco-espinho”, Alain Mabanckou revisita, com amor e ironia, uma série de lugares fundadores da literatura e cultura africana. Parodia livremente uma lenda popular de que todo ser humano possui seu duplo animal, que nesta narrativa é um porco-espinho surpreendente. O pequeno animal, filósofo e malicioso, executa os macabros desejos de seu mestre e realiza uma série de assassinatos. Mabanckou revela que, apesar de o romance ter sido escrito em francês, o ritmo da narrativa advém das línguas orais africanas, faladas no Congo, o que transparece na construção da história.

 

 

 

Capa “The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade”. Imagem: divulgação

The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade, de Colson Whitehead

Do vencedor do Man Book Booker Prize e autor best-seller do The New York Times, chega às livrarias o aclamado “The Underground Railroad: Os caminhos para a liberdade”. Cora é uma jovem escrava em uma plantação de algodão na Georgia. A vida é infernal para todos os escravos, mas especialmente terrível para Cora. Uma pária até entre outros africanos, ela está chegando à maturidade, que a tornará vítima de dores ainda maiores. Quando um recém-chegado da Virgínia, Caesar, revela uma rota de fuga chamada, a ferrovia subterrânea, ambos decidem escapar de seus algozes. Mas nada sai como planejado. Cora e Caesar sabem que estão sendo caçados: a qualquer momento podem ser levados de volta a uma existência terrível sem liberdade.

 

 

Capa de “Adua”. Imagem: divulgação

Adua, de  Igiaba Scego

Em diversos planos narrativos, tanto espaciais quanto temporais, a infâmia a que Adua é submetida é entremeada com a história de seu pai, um intérprete multilíngue que foi trabalhar ainda muito jovem para os militares fascistas na Roma da década de 1930. A relação com a figura ausente e opressiva do pai é um dos eixos principais deste livro que expõe, de maneira mordaz e autoirônica, dores terríveis como a da mutilação genital das mulheres somalis.

No entanto, mesmo diante de tanta brutalidade, terminamos a leitura enlevados com o cheiro de canela de Mogadíscio, com o som do sibilo das saias romanas em arco-íris, com a beleza simbólica de um turbante azul. Pois, tomando de empréstimo uma bela expressão do avô de Adua, o adivinho Hagi Safar, este romance tem a imensidão tão infinita quanto a porção de céu contida nos olhos de um anjo.

 

Capa “A gorda”. Imagem: divulgação

A gorda, de Isabela Figueiredo

O romance da escritora moçambicana Isabela Figueiredo é uma poderosa sátira a respeito de autoimagem e preconceito de um dos nomes mais destacados da literatura portuguesa contemporânea. Maria Luísa, a protagonista deste romance tão engraçado quanto cruel, é uma moça inteligente, boa aluna, voluntariosa e dona de uma forte personalidade. Porém, ela é gorda. E inapelavelmente gorda. Essa característica física a incomoda de tal maneira que parece colocar todo o resto em xeque: sua relação com o mundo, sua vida sentimental (a relação complicada com David, seu primeiro amor), sua postura diante dos fatos.

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