Discordo.
Depois de ter criado homem e mulher, não necessariamente assim nessa ordem, o Senhor foi descansar no sétimo dia com uma pulga atrás da orelha. Sim, Deus tem orelha. E, sim, as pulgas já cumpriam uma função metafórica em sua existência. Pois ele foi descansar com uma desconfiança de artista. Faltava algo em sua famosa obra de arte. Faltava um brilho. Faltava algo da alma que ficasse em evidência.
Ele foi dormir e teve pesadelos. O primeiro de tantos. Logo que acordou começou a colocar em prática seu plano de aperfeiçoamento da criatura humana. Primeiro modelou uma plantinha dessas que você não dá nada por ela, mas que é poderosa. E plantou-a no Jardim do Éden, bem perto da cabana de Adão e Eva.
Depois, preparou um banquete farto para o casal. Tinha tudo naquela ceia. Era pra celebrarem a novidade. Mas não contou nada a eles. Os dois se refestelaram. Comeram tanto que aí já pecaram pela gula, foi o primeiro pecado capital. Depois, ambos tiveram uma baita dor de barriga. E correram para o mato. Fizeram o número dois por muito tempo. Eles nunca tinham – me desculpem a palavra – feito merda. Descobriram aí que estavam na fase anal.
E tiveram que limpar a bunda…
Foi então que Adão (ele mesmo) teve a ideia de pegar aquela folha felpuda da planta que Deus criara. Pegou uma folha e ofereceu a Eva, o cavalheiro. Pegou outra folha e limparam suas partes íntimas. Foi um “Deus nos acuda”. Aquela folha tinha minúsculos espinhos que, em contato com a pele, coçavam demais. Foi aí que nasceu a expressão “fogo no rabo”. Adão corria prum lado; Eva corria pra outro.
Os macacos vieram ver e acharam aquilo uma coisa tão louca, tão nova, que decidiram também seguir o casal sagrado, imitando-o. Adão e Eva se esparramaram na lama e os macacos também. Ninguém sabia quem era homem e quem era macaco. No final, todos caíram no lago para se refrescar.
E foi uma risada geral. Deus não é mesmo um cara gozado?! Fez o riso nascer da boca dos homens e dos macacos. E viu que isso era muito bom.
Todos os anos, mesmo depois de terem sido expulsos do paraíso, os homens se reuniam para lembrar desse acontecimento e rir a valer. Dizem que o Diabo, invejoso como ele só, quando fez o inferno, trouxe muitas mudas daquela planta e vive passando na bunda dos inquilinos, para que eles possam rir sem parar, o que não é nada justo. Riso tem que ter medida. É que o Cramunhão quer competir com Deus até na risada.
Se quiserem algo mais substancial, algo mais acadêmico sobre o que falei, indico o livro A História do Riso e do Escárnio, do francês Georges Minois. Vão ver que, para o riso diabólico, nada melhor do que uma boa dose de gargalhada. Sempre foi assim. Essa é minha versão sobre a origem do carnaval.
Ah, já ia me esquecendo. Aquela plantinha que desatou a coceira e o riso nos homens é chamada “Cansanção” ou “Urtiga”. Cuidado com ela, moçada! Bom carnaval!
Título: A historia do riso e do escarnio
Organizador: Georges Minois
Idioma: Português
Editora: UNESP