Senti-me muito honrado com o convite para participar das publicações do Biblioo, e não poderia haver data melhor para isso do que neste Dia do Escritor. Quero me apresentar ao amigo leitor. Em 1947 nasci em Bella Vista Norte, Paraguai, durante a revolução que levou ao poder o partido Colorado; nasci às margens do rio Apa devido a circunstâncias de que pretendo falar quando escrever sobre o bandoleiro Silvino Jacques, o famoso afilhado do presidente Getúlio Vargas.

É importante registrar que, na revolução paraguaia, o diplomata e extraordinário escritor Guimarães Rosa chegou a perambular pela pequena cidade guarani onde nasci dois meses após. Ali cresci até os seis anos quando, no lombo da égua Arruana, passei para o Brasil em companhia do meu pai que em Bela Vista (MS) abriu um bolicho, um mercadinho de secos e molhados. Por ser filho de emigrantes brasileiros, fui registrado no lendário distrito de Nunca-Te-Vi. Completei meus estudos num seminário no Paraná, quando, num concurso de poesia, fiz a estreia na literatura e ganhei uma caneta Parker de tinteiro.

De Ponta Grossa retornei para servir ao exército na fronteira. Dada a contribuição cívica, segui para São Paulo, a terra prometida da juventude da época, e, de onde retornei quando meu pai sofreu um acidente de moto, e ali fiquei em Bela Vista. Trabalhei na prefeitura local e administrei o serviço de água e esgoto, e, por fim, concursado, entrei no Banco do Brasil.

A serviço do Banco viajei pelo Brasil, tendo trabalhado em várias regiões, inclusive no Nordeste, para depois retornar para este estado do Mato Grosso do Sul. Em resumo resumido, esses sãos os trajetos da minha caminhada até 1986 quando lancei minha primeira obra: “SILVINO JACQUES, o último dos bandoleiros”, a que se seguiram outras e outras, de que vou tratar mais para frente.

Agora quero falar do escritor.

Quando criança, ainda no Paraguai, depois de uma chuvarada, em que o chão ficava lavado embaixo dos pés de mangas, ali eu me divertia rabiscando garatujas de letras e deixando a imaginação enxergar caravelas nos pingos da chuva nas poças de água. Quando comecei a estudar em escolas no Brasil fiquei encantado pela língua portuguesa, porque, até então, só falava o guarani e estudava o espanhol. Lembro que apreciava fazer uma salada de sílabas inventando línguas estranhas que mais se assemelhavam ao esperanto.

No seminário tive intimidade com o latim, o grego e francês, além de pitadas de italiano e alemão. Todas elas me encantavam e faziam vibrar a minha sensibilidade para traduzir as emoções e o deslumbramento com a complexidade e pluralidade dos costumes e tradições pelo mundo afora. Entendo que o escritor é o elo entre as comunidades e as nações, e que sua missão sagrada é a de conduzir a humanidade ao seu destino, isto é, ligar o seu fim ao seu início, pois, com certeza, retornaremos um dia ao começo de tudo, provavelmente no universo das estrelas.

No fundo, no fundo, somos mercadores de sonhos; muitos até deliram, como os poetas, no turbilhão dos seus encantamentos e amores. Sou mais contador de estórias e fotógrafo da fronteira ao registrar os fatos históricos desta região e de tantas outras por onde andei neste mundo de viventes. Vivi e vi coisas de que não ouso nem falar para quem não esteja minimamente evoluído com entendimento existencial e espiritual para tanto; é perigoso.

Nas minhas veias correm sangue espanhol, inglesa e guarani, o que me permite um bom caleidoscópio do mundo com seus gostos diversos; mas, neste mundo de hoje, quando a ignorância campeia pelas discriminações e castas sociais, muitas vezes as entrelinhas falam mais claramente.

Acredito que, a título de apresentação, já me sinto contemplado. E, quero concluir afirmando categoricamente que não há dor maior para um escritor do que ter sua obra literária censurada principalmente por fantoches de ditadores, o que já me ocorreu por duas vezes. Neste momento, o romance “MARTÍ, sem a luz do teu olhar”, que escrevi para homenagear esta cidade de Dourados (MS), onde vivo há tempos, foi censurado pela própria prefeitura dentro do infame projeto de escola sem partido, apenas porque expus o descaso das autoridades com as periferias e a violência contumaz contra as mulheres.

Logo, logo vou lhe convidar de novo para tomar um tererê literário comigo. Enquanto isso prepare o tererê com água geladinha e limão, e erva-mate da hora. Na sombra de uma árvore é mais gostoso. Parabéns a todos os escritores, guerreiros das letras!

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