Lembra-se de 2013; das manifestações de junho em Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro? O mote para que milhares de pessoas fossem às ruas naquele ano foi apenas um: o aumento abusivo dos preços das passagens de ônibus. Lembram como os manifestantes foram tratados pela grande mídia “imperial” brasileira? Pois é, quatro anos se passaram e temos algumas respostas sobre porque fomos às ruas em junho daquele ano.
O transporte, dito público no Brasil, sofre constantes reclamações por parte dos milhões de usuários que fazem uso do sistema diariamente. Isso se deve ao regular para péssimo serviço prestado, a falta de compromisso das empresas com os passageiros (que se reflete em falta de respeito ao usuário), aos longos trajetos que algumas linhas fazem e, sem sombra de dúvida, o elevadíssimo preço das tarifas que não condizem com a realidade do serviço prestado.
Há anos, depois de uma onda de privatizações de várias áreas do setor público, o transporte passou (na maioria das grandes cidades brasileiras), para as mãos de empresas privadas que acima de tudo (nem precisamos evocar Karl Marx para entendermos isso) visam o lucro puro e simples, independente da forma com que o mesmo será alcançado.
Isso posto, é de se imaginar que as empresas que controlam os serviços de transportes nas cidades, em nome da obtenção e acumulo de capital (olha Marx aí de novo), não lançarão uma investida contra o seu próprio patrimônio, gastando o que determina os órgãos controladores, ou seja, na lógica das empresas privadas, detentoras da concessão de exploração dos transportes públicos, enquanto não houver um acidente grave que venha vitimar várias pessoas e incitar a opinião pública para o fato. Deixemos as coisas como elas estão!
Foi com essa lógica altamente capitalista de obtenção e acumulo de capital que em 2013 algumas cidades do Brasil (através de seus prefeitos e secretários de transportes), permitiram que os preços das passagens dos transportes públicos sofressem alteração para mais (doravante, ao escrever transportes públicos, leia-se empresas de ônibus).
A primeira cidade a eclodir as manifestações contrárias à elevação dos preços das passagens dos transportes públicos foi à capital do Rio Grande do Sul. Por volta de março/abril de 2013, milhares de pessoas ocuparam as ruas de Porto Alegre contra o aumento abusivo das passagens, exigindo que os preços fossem revisados para menos. Foram momentos de intensa repressão policial e resistência por parte dos manifestantes, até que a notícia ganhou proporções que ultrapassaram os limites do Rio Grande do Sul e uma onda de protestos com o mesmo mote tomou conta do país.
Fechando um pouco o leque do assunto, passo a discorrer apenas sobre o caso das empresas de transportes públicos do Rio de Janeiro, mais especificamente da capital fluminense. Baseado em conhecimentos prévios obtidos pessoalmente e/ou por meio de conhecidos que residem em diversas cidades, não tenho ciência de haver em outra cidade (das que conheço e/ou tenho conhecidos) um laço tão estreito entre os setores que deveriam fiscalizar os transportes públicos e as empresas que detém a concessão para exploração dos mesmos.
Na cidade do Rio de Janeiro as manifestações contra o aumento das passagens do transporte público ocorreram em Junho de 2013. Começou tímida em ruas do Centro da cidade e desde o seu cerne foi reprimida violentamente pela Polícia Militar. Mediante a tanta brutalidade por parte do aparato de segurança pública, as convocações para outras manifestações ganharam força nas redes sociais e no dia 17 de junho mais de 100 mil pessoas marcharam da Praça da Candelária, passando pela lendária Avenida Rio Branco, em direção ao prédio da Assembléia Legislativa (ALERJ).
Dois dias depois o então prefeito Eduardo Paes (PMDB) recuou de sua própria decisão de manter os valores da passagem com o reajuste e decretou que a mesma voltasse ao valor de antes do aumento, mas que isso custaria aos cofres públicos, devido uma contrapartida que deveria dar as empresas de ônibus naquele momento.
Ora, porque o prefeito da cidade do Rio de Janeiro fez questão de repassar as chamadas “contrapartidas” às empresas de ônibus? Sabe-se que a campanha para a prefeitura do então candidato desconhecido Eduardo Paes foi majoritariamente financiada pelas empresas de ônibus, principalmente as que fazem parte do “Grupo Guanabara”, cujo mandatário é comumente chamado de “rei do ônibus”, o senhor Jacob Barata Filho!
O agora ex-prefeito da cidade, Eduardo Paes, chegou à prefeitura vencendo as eleições municipais de 2008. Até então desconhecido por boa parte da população carioca, ele foi apresentado por ninguém menos do que Sérgio Cabral Filho (PMDB), então governador do estado do Rio de Janeiro em seu primeiro mandato.
Enquanto Eduardo Paes esteve ocupando o cargo máximo do executivo municipal, os preços das passagens foram subindo de forma a não respeitar o cálculo que fora estabelecido para o aumento, ou seja, o índice da inflação do período. De 2010 até o último aumento (2 de janeiro de 2016), a evolução dos preços das passagens dos transportes públicos na cidade do Rio de Janeiro foi à seguinte: 2010 R$ 2,30; 2011 R$ 2,50; 2012 R$ 2,75 (aumento de 10%, acima da inflação que foi de 6,64%); 2013 R$ 2,95 (depois recuou para 2,75 devido as manifestações); 2014 R$ 3,00; 2015 R$ 3,40 (13,3% de aumento, com promessa de ter toda a frota com ar condicionado até o fim de 2016); 2016 R$ 3,80.
Como se pode constatar, na gestão Eduardo Paes as empresas de ônibus do município do Rio lucraram e muito com os aumentos abusivos dados pelo poder executivo. Ao contrário do que se pensa (para quem não mora no Rio e não sabe como funciona o transporte público por aqui), os ônibus não são confortáveis; as linhas são mal planejadas e transportam de maneira insuficiente os usuários; os ônibus (em sua grande maioria) são mal conservados, uns tantos com problemas mecânicos visíveis; os intervalos entre as viagens são irregulares; os motoristas (que além do mais, exercem dupla função) andam acima do limite de velocidade; as empresas não pagam as multas que chegam por conta das infrações de trânsito, etc., etc., etc.
Por trás de tudo isso, há a covardia do poder executivo em não cobrar as atribuições devidas às empresas; covardia ou conivência?! A gente sabe quem fez doações milionárias para as campanhas de Sérgio Cabral, Eduardo Paes, Jorge Picciani dentre outros (inclusive vereadores e deputados estaduais). Sabemos também da influencia que o mesmo doador majoritário de verbas para campanhas eleitorais, tem com membro do judiciário… Sabemos desde 2013, mas só agora a grande mídia imperial brasileira resolveu expor este câncer que está com raízes profundas lançadas no seio da sociedade, o câncer da corrupção! No próximo texto, daremos sequência a este assunto, até breve.