Por Haroldo Ceravolo Sereza, do Blog Ágora

A Folha traz neste domingo (23/11) reportagem sobre a queda do preço dos livros no mercado brasileiro com a entrada da Amazon na comercialização de livros físicos.

A disputa é real, mas é preciso atentar para alguns detalhes.

Primeiro, dos exemplares vendidos nas maiores livrarias do Brasil, 70% (dados da Nielsen) estão fora dos “top 500″, os livros em que a disputa realmente se dá.

Só essa divisão do mercado já mostra a especificidade do mercado livreiro: que outro setor da economia a lista dos mais vendidos tem 500 itens tão diferentes entre si? E em que outro setor os 500 mais vendidos representam apenas 30% do mercado?

Ou seja, na imensa maioria dos livros vendidos no Brasil, essa guerra de preços ou não existe ou é insignificante.

O segundo detalhe é que a Amazon não vende livros. Seu principal dirigente no Brasil diz que não vai entregar o segredo de a Amazon vender tão barato. Então eu explico por ele.

O segredo da Amazon é um só: seu dinheiro vem de muitos lugares, e a venda de livros é o menos importante deles. Quando compramos na Amazon, vendemos a preço de banana nossas informações – cadastrais, de consumo, de preferências.

Quando compramos livros digitais, vendemos até o trecho em que paramos ou que prosseguimos a leitura. Vendemos onde estivemos, que lugares frequentamos. O que pensamos.

Vendemos nossas amizades, nossas recomendações. Esses dados só têm valor para quem pode processá-los, grandes monopólios e governos.

 Você acha que está comprando livro, mas está vendendo sua vida e a dos seus pelo desconto do livro.

É uma concorrência leal ou desleal? É bom para o país uma empresa privada estrangeira saber tanto sobre você, e sua vizinha, e seus amigos?

É bom para o país ter apenas um distribuidor de livros?

Os Estados Unidos acham que é.

A Europa tem suas restrições, e as transforma em leis. Nem impede, nem estimula.

A lei do preço fixo é urgentemente necessária.

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