“Haja o que houver, eu estou aqui/ Haja o que houver, espero por ti/ Volta no vento, oh meu amor/Volta depressa, por favor.” A paixão embebida em tristeza flutua das cordas do violão para a voz angelical de Teresa Salgueiro. Para o ouvinte, a sensação é de doce melancolia, certo aperto no peito e lágrimas involuntárias. Apostando em uma viagem imagética mais intensa, há a possibilidade de visualizar a música de trovadores medievais. Essas são as emoções que a banda portuguesa Madredeus é capaz de evocar.

Formada em 1985, a banda é conhecida mundialmente por unir elementos da música tradicional portuguesa – que vai muito além do fado, vale lembrar – à música erudita, além de influências de canções populares contemporâneas. Outra partícula viva no trabalho do Madredeus são as composições saudosas, regadas pelo amor e pela dor da ausência: paixões que se vão, andanças pela terra dos sonhos ou o amor escancarado por Portugal.

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Banda Madredeus / Foto: Reprodução

A compilação ‘Antologia’ (2000) comprova os elogios e o reconhecimento que a banda alcançou em quinze anos de carreira (à época do lançamento). A edição dupla do álbum conta com trinta canções de sucesso do Madredeus, produção em que poesia, voz, palavra e som encontram a identidade portuguesa. Entre as canções da antologia, o público brasileiro topa com as conhecidas “O Pastor”, “Haja o que houver” (citada no começo deste texto) e a instrumental “As ilhas dos açores”, músicas que fazem parte da encantadora trilha sonora da minissérie “Os Maias”, exibida pela Rede Globo em 2001.

Com arranjos ornados por modulações, tons altissonantes, repetições e um som que renova as tradições do fado, é reconfortante ouvir músicas que misturam ritmos e criam arranjos finos, repletos de sutilezas. Destaque para as inconfundíveis “O Pomar das Laranjeiras”, “O Tejo”, “A Vaca de Fogo”, “As Brumas do Futuro”, “O Labirinto Parado”, “Moro em Lisboa”, “Ecos na Catedral” e “Coisas Pequenas”, uma lista longa de preferidas que incluem também as mais conhecidas pelo público brasileiro.

Hoje, com três décadas de existência e uma formação totalmente reformulada, o Madredeus vive outra fase – para mim, menos cativante desde a saída da cantora Teresa Salgueiro, uma estrela à parte que brilha agora em carreira solo.

Lembrando as recentes atividades promovidas pela festa cultural portuguesa, que aconteceu nos últimos dias 10 a 12 na Praça XV de Novembro, no Centro do Rio, fica a dica do sopro no vento que é ‘Antologia’, uma representação clara do trabalho do Madredeus.

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