O que leva esse pequeno grupo de rapazes e moças bem sucedidos, com família, com dinheiro, com tudo que pediram a Deus, a se suicidar? Por quê? E como, tendo todos eles morrido, ficamos sabendo da história? Como tudo aconteceu? E, pior, como terminou do jeito que terminou?

O jovem escritor Raphael Montes traça um panorama assustador da juventude que não mede consequências para conseguir o que quer, ainda que tenha que magoar os sentimentos dos outros, usar os amigos ou, usar o dinheiro e a influência de seus pais para pular algumas etapas da burocracia. Numa geração em que ninguém é de ninguém, a preocupação com o futuro e com a própria integridade física fica em segundo plano.

Para contar essa história, o autor fez uma árdua pesquisa sobre o suicídio – tema ainda hoje considerado tabu – e mostra como é cada vez mais (terrivelmente) fácil atingir este objetivo, pois existem fóruns na internet, nos quais suicidas em potencial se encontram com estimuladores cheios de hormônios, e ali este incentiva aquele a levar adiante sua mórbida ideia de tirar a própria vida. Neste ponto, o leitor vai intimamente desejar que isso seja ficção, porém, infelizmente não é, e está acessível na internet para quem quiser ver.

Um romance cheio de reviravoltas que alterna dois tipos de narrativa: em primeira pessoa, conhecemos Alessandro, ou Alê, o tímido amigo e escritor do grupo, que tem a missão de registrar todos os acontecimentos daquela fatídica noite em tempo real, enquanto todos os outros se embebedam, se drogam e choram suas mágoas; em segundo plano, conhecemos Diana, a delegada responsável pela investigação do caso, ocorrido há um ano, que, em memória à data, resolve reunir as mães dos jovens para um bate-papo sobre o ocorrido e revelar uma prova até então desconhecida: o diário, feito por Alê, é encontrado em seu quarto e ali é revelado os motivos e a forma como cada um morreu. Ainda assim, Alê não foi o último a morrer, então, o que aconteceu entre a sua morte e o final da história?

A alternância de narrativas é um recurso muito peculiar dos romances policiais e aqui ajuda não só a quebrar o clima, de quem está lendo (afinal, nos trechos do diário por muitas vezes o leitor irá flagrar-se prendendo a respiração), mas também nos faz raciocinar sobre a evolução dos acontecimentos na trama e, junto com as mães das personagens, tentar entender o grau de intimidade que havia entre os garotos, pois alguns deles sequer se conheciam direito. São nessas pausas para reflexão, que as piores verdades são jogadas na mesa e ninguém sai imune da lavagem de roupa suja.

Enquanto o leitor tenta desvendar quem é quem na trama, Raphael delineia outros percalços da sociedade, levando o leitor atento a se questionar sobre a dificuldade de conseguir publicar um livro e ser acolhido pelas grandes editoras; o alto índice de suicídios em locais públicos como a UERJ, o descaso dos pais de classe média em relação ao mundo de seus filhos, pois muitas vezes sequer sabem por onde andam etc. O painel da sociedade carioca (que, cá entre nós, poderia ser qualquer outra cidade) é evidenciado sem dó nem piedade e o nível doentio das mortes demonstra o quanto o próprio autor se aprofundou no tema – o que não deixa de ser assustador.

O livro é excelente e aponta Raphael Montes, estudante de Direito da UERJ, como uma grande promessa da literatura nacional. Oxalá continue no gênero policial, presenteando-nos com esses enredos mirabolantes. Entretanto, este livro é para quem tem estômago forte e não torce o nariz para temas pesados. Se este não for o seu caso, melhor pular algumas páginas…

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