O incêndio que atingiu o Museu Nacional no ano passado destruiu o maior acervo bibliográfico em antropologia e ciências humanas de toda a América do Sul. Além dos livros da Biblioteca Francisca Keller (BFK), do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), o fogo devastou um espaço de convivência crítica, de vida intelectual plural e diversa. Agora, menos de um ano após a tragédia, a instituição está pronta para inaugurar uma nova biblioteca fruto das doações de milhares de livros vindos do Brasil e do Exterior.

Segundo a instituição, já foram recebidos 10.500 volumes, sendo que outros 8 mil já estão a caminho, mas a expectativa é atingir a marca de 40 mil livros ao fim de três anos. Para isso está sendo realizada uma campanha de financiamento coletivo, cuja meta é R$ 59 mil, sendo que até o fechamento dessa matéria tinham sido arrecadados R$ 6.840,00. As contribuições podem ser feitas por qualquer pessoa a depender da condição de cada um.

“É chegada a hora de colocar esses livros nas estantes e torná-los disponíveis ao público. Livros livres para serem consultados, emprestados e lidos. Para tirar os livros das caixas, para torná-los vivos novamente, precisamos de seu apoio financeiro para a reforma do espaço em que a nova biblioteca será inaugurada”, diz o texto da campanha que promete recompensas aos doares.

A vista dos fundos do Museu Nacional deixa bem claro o tamanho do estrago provocado pelo incêndio. Foto: Chico de Paula / Agência Biblioo

O que é o PPGAS?

O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi fundado em 1968 e já formou cerca de 350 doutores e 500 mestres, fornecendo um número expressivo de docentes e pesquisadores para universidades, centros de pesquisa, órgãos governamentais e ONGs no Brasil e na América Latina.

De acordo com a entidade, desde a sua fundação, o sistema de avaliação da CAPES concedeu-lhe a mais alta nota, o que faz dele o principal programa em sua área no Brasil. “Ao longo de cinco décadas, o PPGAS estabeleceu redes nacionais e internacionais muito fortes que permitiram, após o incêndio, mobilizar um grande número de pessoas e instituições visando a sua reconstrução, em particular da BFK”, esclarecem.

A Biblioteca Francisca Keller, por sua vez, que é parte do PPGAS, era considerada uma das mais importantes bibliotecas de ciências sociais do Brasil que abrigou um inestimável acervo de literatura antropológica que contava com cerca de 37 mil volumes, entre obras de referência, livros, periódicos, teses, dissertações, anais de congressos, folhetos, entre outros materiais especiais.

Logo após o incêndio, uma intensa corrente de solidariedade foi surgindo no Brasil e no exterior. As doações estão sendo feitas por indivíduos, bibliotecas, livrarias, universidades e editoras de todas as partes do mundo, sendo que mais de 10 mil livros estão sendo processados, outros 8 mil a caminho e cerca de 5 mil já em negociação. “Precisamos dar uma casa para esses livros e torná-los vivos nas mãos de nossos leitores”, conclama a campanha.

Uma nova casa

A arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFRJ), Marina Correia, foi convidada a elaborar um projeto. A ação também contou com a participação da professora Miriam Lins e alunos da FAU-UFRJ. “O projeto envolveu um estudo amplo de toda a área do entorno da Quinta da Boa Vista de forma a pensar a intervenção de forma integrada à cidade e ao parque imperial. A Biblioteca Francisca Keller passará a ser localizado agora no prédio da Biblioteca Central do Museu Nacional, a qual se encontra no Horto Botânico”, explicam.

O projeto da nova Biblioteca do Museu Nacional foi elaborado por professores e alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ. Imagem: divulgação

“A proposta de intervenção no espaço se dará em quatro etapas. Os recursos solicitados agora contemplam a fase 1: a reforma de uma sala que comportará 600 metros lineares de estantes, permitindo abrigar os 18 mil livros já em processo de incorporação ao acervo. Contemplará ainda 20 postos de trabalho para os usuários da BFK, criando um espaço essencial para a sobrevivência institucional do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social. A segunda etapa contemplará a reforma de uma nova sala contígua”, esclarecem.

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