Bill Gates, um dos mentores da Microsoft, maior e mais conhecida empresa de software do mundo, disse certa feita que seus filhos teriam computadores, mas antes teriam livros. “Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”, disse ele. Embora estejamos na era da tecnologia, onde boa parte da população tem em mãos smartfones e tablets com acesso à internet, muitos ainda não têm acesso à informação, sendo o livro ainda o principal objeto de disseminação de ideias, de educação e da cultura.
Porém, o livro ainda é visto como caro para a sociedade brasileira que não foi incentivada a ter o hábito da leitura. Percebemos a falta desse incentivo, quando há ainda poucas bibliotecas escolares, comunitárias e públicas. Projetos como Associação Cultural Livro em Movimento são tentativas de suprir essas carências.
O bibliotecário Joel Prata, formado pela Universidade Federal Fluminense (UFF), nos conta sobre a ONG Associação Cultural Livro em Movimento, onde exerce sua profissão e sobre sua experiência à frente da mesma. Criada em 1999, a ONG funciona no Terminal Rodoviário Presidente João Goulart, na cidade de Niterói/RJ, que é considerado a maior estação rodoviária da América Latina, com circulação de, aproximadamente, 450 mil pessoas por dia.
Conte-nos um pouco da história da Associação Cultural Livro em Movimento. Quem teve a ideia deste projeto? Quando? Por quê? Como conseguiram realizar?
A Associação Cultural Livro em Movimento começou como Espaço Cultural Livro em Movimento. Foi fundada em setembro de 1999 por Ilka Barbosa Sym, que na época havia acabado de se aposentar como técnica de documentação pelo Governo do Estado do Rio. Conheci o projeto em seu início e com o falecimento de Dona Ilka, em janeiro de 2012, foi feita uma comissão de leitores antigos, em sua maioria frequentadores dos primeiros anos do projeto. Portanto, todos sabiam da importância do projeto e como ele foi um poder transformador de várias vidas. Ao ser indicado por todos para assumir o lugar de Dona Ilka, percebemos já nos primeiros meses as dificuldades que teríamos para manter o Espaço funcionando dentro do Terminal Rodoviário Presidente João Goulart. Para resumir estes problemas, vou dizer duas palavras: Política e Dinheiro… Tivemos que procurar, com o tempo, a ajuda de alguns vereadores de Niterói, simpáticos ao Espaço, e também dos leitores/frequentadores. Enfim, tivemos que ir à Câmara Municipal para defendermos a permanência do projeto no Terminal Rodoviário, que é onde ele funciona desde seu início, antes mesmo da privatização do Terminal. Em 2013, veio a percepção de que a única saída para sobrevivência do projeto seria nos estabelecermos como uma Organização Sem Fins Lucrativos (ONG). Mas, devido à falta de dinheiro e às constantes ameaças de término do projeto, demoramos mais do que o desejado e nosso CNPJ só saiu este ano. Conseguirmos junto à Defensoria Pública Municipal e à Secretaria dos Direitos Humanos Estadual, a gratuidade de todos os trâmites necessários à concretização do nosso objetivo.
Assista o vídeo de 2010, onde a idealizadora do projeto, Ilka Barbosa Sym, conta sobre o Espaço Cultural Livro em Movimento:
Você trabalha na ONG há quanto tempo? Trabalha sempre sozinho?
Trabalho desde a sua Fundação e sou seu presidente. Estamos em busca de patrocinadores e parceiros para melhorias do projeto e, em breve, teremos estagiários na área da informação para nos ajudar em nosso dia a dia.
Qual é o público mais atendido por você?
Tem material gratuito para todos os públicos dos 8 aos 80 anos. Mas, com o tempo, percebemos uma maior necessidade de termos uma fatia maior dos materiais disponíveis para os estudantes do 2º grau [atual Ensino Médio] e para os alunos que se preparam para o Enem [Exame Nacional de Ensino Médio]. E daí, a necessidade de aumento do material de segundo grau em forma de livros e apostilas preparatórias. Temos as áreas de literatura (geral), nível superior, 1º e 2º graus, revistas, apostilas, literatura infanto-juvenil, informática & computação e línguas & literatura.
O que eles comentam sobre o projeto? Quais as carências escolares e culturais e os desejos da população?
Os comentários sobre o Projeto são os mais variados possíveis. Muitos perguntam o porquê de não colocarmos este projeto em outras cidades, já que boa parte de nosso público frequentador é das cidades de Niterói e de São Gonçalo, aproximadamente, de 50 a 60%. Porém, atendemos público também fora desse eixo. Percebo em muitas perguntas sobre o nosso Projeto uma carência muito grande de projetos parecidos que facilitem ao máximo o acesso do povo à educação e à cultura. Muitos leitores que frequentam a nossa ONG não teriam outro meio de acesso a livros, apostilas, revistas e a outros objetos informativos que disponibilizamos de graça.
Sempre há ações como a “Ato do Livro Gratuito” realizada no dia 18 de julho de 2015 para entregar livros?
Nossa intenção é realizar o Ato do Livro Gratuito uma vez por mês, mas isso ainda não foi possível. O próximo, aliás, será no próximo dia 14 de Novembro de 2015. Temos a intenção de também, em um sábado do mês, fazermos lançamentos literários de escritores fluminenses (novos autores de preferência) e eventos infanto-juvenis.
Em média são doados quantos livros por mês? E que tipos de livros (didáticos, clássicos, etc… literatura nacional ou estrangeira) são mais procurados?
Temos em média uma frequência de 150 a 180 pessoas por semana, de terça-feira aos sábados. Destas, muitas entram para conhecer. Temos regras flexíveis de uso e, na média, permitimos até três livros por leitor. Os mais procurados são de literatura (romances, poesias), livros de ensino médio e as apostilas dos mesmos e livros de ensino superior. Nesta ordem são os mais procurados. Especificamente, doamos em média de 80 a 100 livros por mês, além de revistas e de apostilas.
Quais as maiores dificuldades encontradas pela Associação Cultural Livro em Movimento? A ONG possui parceiros e incentivadores?
Temos um histórico de dificuldades, mas, graças a Deus e aos amigos, temos também um histórico de vitórias. As maiores dificuldades sempre foram às perseguições que o Projeto sempre sofreu. Ele foi fundado em setembro de 1999 antes da privatização do Terminal. Quando assumimos há quatro anos, passamos por vários desafios e vimos a necessidade de nos organizarmos como ONG. Estamos buscando parceiros e incentivo financeiro para melhorar ainda mais a ONG.
A Associação Cultural Livro em Movimento foi idealizada para a cidade de Niterói? Não pensam em levar este projeto para outras cidades?
Esta pergunta está condicionada a anterior. Nosso plano é que com as parcerias e os incentivos financeiros, conseguirmos em breve colocar núcleos do Livro em Movimento em várias cidades e atendermos, principalmente, quem não tem acesso ao livro e à informação de uma maneira geral. Vamos conseguir.
Como você vê a atuação do bibliotecário nesses tipos de projetos? Como você se sente?
Como bibliotecário me sinto um privilegiado. Exerço meu lado empreendedor o tempo todo no que tange à logística de funcionamento da ONG e sua busca por crescimento. Como bibliotecário, o desafio também é orientar todo tipo de público, do professor que está pesquisando sobre sua Tese de Mestrado, passando pelo morador em situação de rua, alunos de 1º e 2º graus [Ensino Fundamental e Médio], passando por crianças e jovens em busca de revistas e mangás. É um desafio diário.
Algo mais a dizer? Se houver, conte-nos mais…
Aguardamos todos no III ATO DO LIVRO GRATUITO [14 de novembro de 2015]. Vamos neste dia distribuir mais de mil livros no Terminal Rodoviário Presidente João Goulart aqui em Niterói. E antes disso, vamos recolocar no ar nosso site: www.livroemmovimento.org.br
Joel Prata, agradeço a atenção comigo ao doar o seu tempo para a Revista Biblioo e poder conhecer com mais detalhes a Associação Cultural Livro Em Movimento, idealizada pela D. Ilka Sym. São projetos como esse que nos fazem acreditar que podemos ter uma sociedade mais justa e igualitária e que Associação Cultural Livro Em Movimento sirva de exemplo para outros projetos que visem o acesso à informação, à educação e à cultura, pois “Bendito é aquele que semeia livros e faz o povo pensar” (Castro Alves).
Serviço
ONG Associação Cultural Livro em Movimento
Endereço: Av. Visconde do Rio Branco, s/n – Centro, Niterói – RJ – CEP: 24020-000 (Terminal Rodoviário Presidente João Goulart) – Próximo à loja RIOCARD.
Horário: terça a sexta: 09 às 17h / sábado: 09 às 14h
Facebook: https://www.facebook.com/llivroemmovimento/?fref=ts
Site: www.livroemmovimento.org.br
Estatuto Social da “Associação Cultural Livro Em Movimento”
“Acreditamos na importância da leitura na formação da consciência social de um indivíduo, e que por meio dela podemos formar cidadãos críticos, uma condição imprescindível para o exercício da cidadania, na medida em que este hábito pode torna o indivíduo capaz de compreender o significado das inúmeras vozes que se manifestam no debate social e de pronunciar-se com sua própria voz, tomando consciência de todos os seus direitos, aprendendo a lutar por eles e perceber que a leitura tem o poder de transformar a sua realidade e a de todos que o cerca. Para alcançar esta finalidade especifica, vamos nos valer de doações de livros, revistas, apostilas, e todos os demais materiais que contenham informação, repassando gratuitamente os mesmos para os usuários da “Associação”, respeitando a necessidade informacional e de pesquisa de cada um. […]”
(Estatuto Social da “Associação Cultural Livro Em Movimento” Capítulo I – Da Denominação, Duração, Sede e Finalidade – Parágrafo Único)