O sociólogo Juca Ribeiro é o mais novo titular da Superintendência da Leitura e do Conhecimento, que faz parte da estrutura da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (SEC-RJ) e é responsável por, entre outros, implementar políticas públicas nas áreas do livro, leitura e bibliotecas. Ele assume no lugar de Vera Schroeder, que estava no cargo desde 2012.
Um dos principais desafios de Ribeiro é restabelecer o funcionamento das bibliotecas-parque (Manguinhos, Rocinha, Centro do Rio e Niterói), fechadas desde o final do ano passado, quando o Instituto de desenvolvimento e Gestão (IDG), organização social (OS) responsável pelo gerenciamento dos espaços, rompeu o contrato com a SEC-RJ, que mantinha as unidades funcionando.
Conforme a Biblioo já havia adiantado, a Biblioteca-Parque Estadual, localizada no Centro do Rio, deve voltar a funcionar em breve com o emprego de servidores da área da Educação, gerando críticas por parte dos bibliotecários, que se sentem alijados do processo. As unidades de Manguinhos e Rocinha, por sua vez, devem restabelecer suas atividades por meio de uma parceria com os pontos de cultura locais, segundo informou o secretário de Cultura, André Lazaroni.
Além dos problemas com as bibliotecas-parque, Ribeiro deve enfrentar outras dificuldades decorrentes a severa crise financeira e política pela qual o estado do Rio tem passado. Um exemplo é o Plano Estadual do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PELLLB-RJ), que embora esteja sendo desenvolvido por um grupo de trabalho com representantes também da sociedade civil, o papel do governo é fundamental como apoio institucional.
Embora acredite ser prematuro dar uma posição sobre a reabertura das bibliotecas, Juca informou à Biblioo que já existem alguns diálogos entre as prefeituras do Rio e de Niterói para garantir a manutenção dos espaços. “Esperamos ai nos próximos 30 dias uma notícia alvissareira para todas as pessoas que fazem parte desta cadeia de organizações no âmbito da leitura, das bibliotecas e da literatura”, disse o novo superintendente.
Indagado pela nossa equipe sobre a participação dos bibliotecários no restabelecimento dos serviços das bibliotecas, Ribeiro garantiu que em breve fará um chamado aos profissionais para se buscar “uma solução conjugada”. Confira abaixo a entrevista.
Juca, como começou sua relação com os livros, a leitura e as bibliotecas?
Minha relação com os livros, a leitura e as bibliotecas começou há muito tempo, antes mesmo de eu estar na graduação. Eu sou natural da cidade de São João de Meriti [Baixada Fluminense] e eu adorava circular na cidade, de chinelos, chinelos havaina, de short, entre os livreiros populares de São João de Meriti, que ficavam particularmente na Praça de São João de Meriti, onde ficavam aqueles senhores, ofertando troca de livros e vendendo livros antigos.
Ali começou minha paixão por livros. Obviamente São João de Meriti era distante da capital, portanto minha infância foi nestas livrarias populares de rua e nas bancas de jornal para eu ter acesso a algumas publicações. Ai começou a paixão e foi evoluindo no decorrer da minha formação acadêmica, na publicação do meu mestrado, do meu vinculo com alguns autores, do meu desejo inclusive de escrever uma bibliografia de um empresário bem sucedido do Rio de Janeiro; que chegou ao Rio de Janeiro do Nordeste, muito pobre, muito muito pobre, ao ponto de dormir na rua, ter construído um patrimônio bastante relevante do ponto de vista financeiro.
Portanto, passa um pouco por ai. O próximo desafio é convencer esse meu grande amigo, fraternal amigo, a escrever a bibliografia dele. Ai minha trajetória foi pelos direitos humanos, particularmente pelos direitos humanos urbanos, particularmente na Baixada Fluminense e muito vinculado, há alguns anos, há 20, 25 anos em pastorais sociais da Igreja Católica.
Você acabou de assumir a Superintendência da Leitura e do Conhecimento do estado do Rio de Janeiro. Como se deu esse processo?
Se deu através de uma indicação de natureza política, pelo reconhecimento da minha trajetória. E eu coloquei que eu assumiria essa posição conquanto eu pudesse fortalecer os seguimentos de livro, leitura e bibliotecas de forma plena, no sentido inclusive de ter um diálogo muito franco e direto com todos os profissionais deste seguimento. Portanto eu me sinto absolutamente em casa e com o desejo realmente de produzir diálogo e construir realmente uma cadeia que fortaleça este seguimento; uma cadeia forte e de fortalecimento do seguimento.
Juca, você está assumindo a Superintendência num momento delicado do ponto de vista político e econômico. Como superar estas questões e fortalecer essas áreas que são tão carentes no estado do Rio?
Primeiro eu acho que a gente vai ter de mitigar a nossa resiliência. Resiliência é a palavra carro-chefe dentro deste processo. E construir alternativas por meio de parcerias; parcerias que admiram a cultura, admiram a leitura, admiram o ambiente da biblioteca. Eu acho que nós podemos sensibilizar as pessoas através da cultura, pois através da cultura a gente consegue romper barreiras de raça, barreiras de classe e todo tipo de barreira que impede o diálogo entre pessoas. Pessoas que querem a libertação através da educação e da leitura.
Talvez o seu maior trabalho seja com as bibliotecas-parque que estão fechadas há algum tempo. Que planos vocês estão traçando para restabelecer o funcionamento das bibliotecas-parque?
Olha, nós estamos trabalhando de forma muito tenaz no sentido de reabertura das bibliotecas-parque. Ainda é prematuro eu dar uma posição de reabertura. Já existem alguns diálogos entre a prefeitura do Rio e a prefeitura de Niterói, e esperamos ai nos próximos 30 dias uma notícia alvissareira para todas as pessoas que fazem parte desta cadeia de organizações no âmbito da leitura, das bibliotecas e da literatura.
Seu trabalho está muito incipiente, Juca, mas você poderia adiantar, por exemplo, se neste projeto tem envolvido bibliotecários, para serem chamados a este trabalho, seja de forma terceirizada, seja de forma direta? Você tem algum planejamento neste sentido?
Olha, tem duas semanas que nós assumimos a superintendência. Obviamente agora eu estou fazendo um alinhamento interno; um alinhamento interno com os profissionais da Superintendência, pensando no planejamento interno, conhecendo os profissionais, mas em breve eu devo estar chamando os profissionais da área, os bibliotecários para um diálogo, para buscarmos uma solução conjugada. É essa minha ideia.