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A tenda dos autores momentos antes do início da Festa Literária de Paraty - Márcia Foletto / Agência O Globo

A tenda dos autores momentos antes do início da Festa Literária de Paraty – Márcia Foletto / Agência O Globo

A Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) começa hoje, com mudanças em sua estrutura que podem surpreender os visitantes acostumados com o evento. O maior impacto fica por conta da Tenda dos Autores: o imponente espaço de outros anos, uma marca registrada da Flip, foi substituído por uma espécie de pavilhão, mais simples, apesar de manter os mesmos 850 assentos do ano passado.

A Tenda do Telão deixou de existir e nem aparece mais no mapa oficial da Flip: hoje há dois telões, um à esquerda da Igreja Matriz, numa quadra de basquete sem cobertura, e outro acoplado nos fundos da Tenda dos Autores, com proteção parcial. Ambos têm acesso gratuito, mas a capacidade caiu para quase metade. A impressão de quem chega a Paraty é que a Flip está menor.

O orçamento da Flip para este ano é de R$ 9,3 milhões, maior do que os R$ 8,6 milhões de 2013. Segundo o arquiteto Mauro Munhoz, diretor-presidente da Casa Azul, instituição que organiza a Flip, o aumento se deve à inflação do período. Munhoz diz, ainda, que a captação está em 72% e deve continuar até o fim do ano, com recursos de renúncia fiscal por mecanismos federais e estaduais e também com patrocínio não incentivado.

Funcionários da produção da Flip, porém, dizem em conversas privadas que a ordem do ano foi conter despesas para as contas fecharem. Um dos motivos teria sido a Copa do Mundo: em 2014, os investimentos de marketing das empresas foi direcionado ao esporte, afetando o mercado cultural. Fornecedores da Flip chegaram a ser procurados com pedido de compreensão para uma possível demora nos pagamentos.

— Há uma questão importante: o aumento dos preços de fornecedores para eventos é acima da inflação. A indústria de eventos vem crescendo e se encarecendo no Brasil. O que nós fazemos é tentar sensibilizar os fornecedores que a Flip não é um evento comercial ou de marketing. É de interesse público — diz Munhoz.

Na tarde de terça-feira, funcionários ainda faziam os últimos ajustes - André Teixeira / Agência O Globo

Na tarde de terça-feira, funcionários ainda faziam os últimos ajustes – André Teixeira / Agência O Globo

Outra surpresa no início da Flip em relação a anos anteriores é a oferta de vagas em pousadas às vésperas do início do evento. De acordo com Sebastian Buffa Urquijo, diretor executivo do Paraty Convention & Visitors Bureau, organização que representa o setor turístico, a ocupação das cerca de 500 pousadas do município está menor. O adiamento da Flip por conta da Copa do Mundo — em agosto, as férias escolares já terminaram — pode explicar em parte essa questão.

— Em anos anteriores, a cidade ultrapassava os 100% de ocupação e superava a capacidade total. Tinha gente que vinha para cá sem nem ter onde ficar. Este ano, a ocupação da cidade deve ficar entre 80% e 90%. Mas eu acho que é uma taxa muito boa. Acho que a Flip encontrou seu público cativo — afirma Urquijo.

Apesar de possíveis dificuldades em fechar as contas, Munhoz afirma que a mudança estrutural da Flip não teve relação com o orçamento. A nova Tenda dos Autores, também um projeto dele, assim como a tenda antiga, seria uma “evolução natural” do modelo anterior, diz ele, contando que ambas tiveram o mesmo custo.

— Ela parece menor, mas é maior, o espaço interno é mais generoso. Pelos ganhos estruturais do sistema, é uma tenda que valoriza a paisagem. Há mais intimismo entre a plateia e o palco, e a visão dos espectadores será melhor. É uma nova geração que, eu concordo, não se parece mais com uma tenda, e sim com um pavilhão — diz Munhoz.

Além do visual externo, os visitantes perceberão mudanças dentro da Tenda dos Autores. O palco está localizado do lado oposto dos anos anteriores, e o pé-direito é mais baixo. Atrás, do lado de fora, o café também mudou: ele está localizado na lateral, de frente para o canal, com menos espaço para mesas e cadeiras. É ali, próximo ao café, que fica a Praça do Telão, com uma cobertura para 200 cadeiras. Já a livraria e o espaço dos autógrafos mantiveram sua localização e tamanho. Já a antiga Tenda do Telão, que ficava no fim do encontro do Rio Perequê-Açu e a Praia do Pontal, deixou de existir.

Do outro lado do rio, a Tenda da Flipinha, o braço infantil da Flip, também mudou. Ela hoje está localizada entre a Igreja da Matriz e o rio, e é lá que vai se realizar o show de Gal Costa, hoje à noite. A FlipZona, a seção juvenil da festa, por sua vez, não tem mais um espaço próprio como nos últimos anos: suas atividades serão distribuídas entre a Casa da Cultura de Paraty e a Tenda da Flipinha.

Antes do início da Flip, crianças de uma escola municipal se divertiram com apresentações na Tenda da Flipinha - Márcia Foletto / Agência O Globo

Antes do início da Flip, crianças de uma escola municipal se divertiram com apresentações na Tenda da Flipinha – Márcia Foletto / Agência O Globo

A poucos metros dali, numa quadra de basquete aberta e mal conservada, foi instalado um segundo telão, sem assentos nem cobertura. De acordo com a organização da Flip, os dois telões juntos têm capacidade para cerca de 800 pessoas, um número levemente maior do que os 750 lugares de 2013 — esses, porém, eram sentados. Mais uma novidade é que este ano o acesso é gratuito.

— Dentro da política de democratização do acesso de conteúdo da Flip, não vamos cobrar ingresso no telão. E haverá fones para tradução simultânea — diz Mauro Munhoz.

A Flip segue até domingo. Hoje, antes do show de Gal Costa, a abertura da festa, que este ano tem Millôr Fernandes como autor homenageado, terá uma conferência do crítico de arte Agnaldo Farias e um bate-papo entre o cartunista Jaguar, grande amigo de Millôr e colega dele no “Pasquim”, e os humoristas Reinaldo e Hubert, que começaram a carreira na revista antes de fundarem o “Planeta Diário”, um dos embriões do “Casseta & Planeta”. Durante os próximos cinco dias, passarão por Paraty autores como o americano Andrew Solomon, o israelense Etgar Keret, a britânica de origem indiana Jhumpa Lahiri e a neozelandesa Eleanor Catton.

Na manhã desta quarta, muitos turistas já estavam no clima literário, lendo nas praças de Paraty - Felipe Hanower / Agência O Globo

Na manhã desta quarta, muitos turistas já estavam no clima literário, lendo nas praças de Paraty – Felipe Hanower / Agência O Globo

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