“Nenhuma profissão ligada à administração de uma instituição pública, como a biblioteca, pode ignorar a necessidade de promover sérias pesquisas na esfera político-econômica das políticas públicas. Compreender a permanente ligação entre economia e política é crucial para compreender o atual domínio político da Biblioteconomia.”
(William Birdsall)
A ideia de criação do grupo de pesquisa: biblioteca pública no Brasil: reflexão e prática da Escola de Biblioteconomia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) surgiu durante a realização do II Fórum Brasileiro de Bibliotecas Públicas, realizado em Maceió no ano de 2011. Dois anos depois essa ideia foi institucionalizada e o grupo de pesquisa pode então ser oficializado e iniciar suas atividades.
O grupo é formado nesse primeiro momento por Alberto Calil, Elisa Machado, Deise Sabbag, Daniele Achilles e Patrícia Vargas, ambos professores do Departamento de Estudos e Processos Biblioteconômicos (DEPB) da UNIRIO. Os alunos de graduação e interessados pelo tema também poderão participar das atividades de pesquisa através da abertura de edital para inscrições.
Atualmente a situação das bibliotecas públicas na cidade maravilhosa não é a ideal. A biblioteca pública do Estado do Rio de Janeiro (BPERJ) está com suas portas fechadas desde 2008 para reformas de modernização. Esse espaço não está realizando sua missão principal, a de fornecer acesso à leitura e informação a população carioca. Recentemente a Fundação Biblioteca Nacional entrou em um período de crise política e econômica.
Nesse contexto, a criação do grupo de pesquisa, bibliotecas públicas no Brasil: reflexões e práticas. Surge como uma iniciativa em prol das discussões e do interesse em pesquisar questões referentes as bibliotecas públicas brasileiras.
Segundo um dos coordenadores do grupo, o professor Alberto Calil, “é preciso tornar visível a biblioteca pública neste país. A biblioteca precisa começar, de fato, fazer parte da vida do cidadão. Ocupar um espaço que ela tem potencial para ocupar. A pesquisa no campo da Biblioteconomia pública pode vir a colaborar com isso, quer seja tornando a biblioteca, de alguma forma visível, quer seja fomentando a discussão sobre políticas públicas para bibliotecas no país”.
Esperamos que essa iniciativa venha incentivar a levantar discussões, reflexões e pesquisas a respeito das questões que envolvem as bibliotecas públicas no Brasil. A área de Biblioteconomia precisa compreender as questões que estão envolvidas na criação das políticas públicas para as bibliotecas.
De acordo com William Birdsall, em seu artigo intitulado: “Uma economia política da Biblioteconomia?”¹. “Atualmente, o foco da atenção dos bibliotecários para a política e a economia é a defesa política da geração de maiores recursos financeiros para as bibliotecas […] Entretanto, afirmo que os bibliotecários necessitam investir mais esforços em pesquisar as dinâmicas políticas e econômicas que definem os contextos passados e atuais das bibliotecas”.
Iniciativas como essas são de suma importância para contribuir com a defesa das bibliotecas públicas brasileiras. Infelizmente o espaço para esse tema nas matrizes curriculares dos cursos de graduação no Brasil, em grande parte, é pequeno e em alguns casos marginalizados. O incentivo a pesquisa e ao estudo histórico sobre as bibliotecas públicas brasileiras é importante no sentido de contribuir para o fortalecimento da consciência da classe profissional e da dimensão política da área de Biblioteconomia.
A ideologia de um mundo cada vez mais globalizado e as transformações políticas decorrentes do advento da doutrina econômica conhecida como neoliberalismo, determina um novo cenário no que diz respeito às políticas públicas. A desregulamentação estatal, as leis do mercado, “a livre concorrência” e os avanços das tecnologias da informação são algumas das premissas ditadas pelas grandes potências mundiais como uma condição inevitável, um fatalismo.
Nesse contexto que envolve relações de poder, disputas e interesses econômicos. A área de Biblioteconomia precisa compreender e pesquisar as questões que estão envolvidas na criação das políticas públicas.
Os conselhos de Birdsall servem para reflexão: “os bibliotecários tendem a projetar a biblioteconomia como uma profissão objetiva que transcende quaisquer imperativos políticos ou morais específicos. Seu ideal é refugiar-se em uma ciência da informação livre de valores. Tal atitude é insustentável num momento em que a existência das bibliotecas é ameaçada por uma ideologia bastante disseminada que sustenta que a geração, distribuição e condições de acesso ao conhecimento devem ser providas através de uma economia de mercado baseada em uma infovia construída e controlada pelo setor privado”.
Referências:
1. Tradução disponível em: http://www.uff.br/ppgci/editais/birdsall.pdf
Clique aqui para ler integralmente a entrevista de Alberto Calil que compôs essa reportagem.