banda forró

Banda tocando forró na vídeo locadora Mac-donia / Foto: Rodolfo Targino – Agência Biblioo

Estava passando pela Rua Anita Garibaldi, em Copacabana, com Gabriela Gonçalves, minha namorada, quando um som nos chamou atenção. Era a música de Luiz Gonzaga sendo tocada e cantada por uma banda, que estava dentro de uma locadora de vídeo, iluminada com luzes de boate. Paramos para observar de fora e logo um jovem com a camisa do Flamengo levantou o braço em nossa direção e gesticulou para entrarmos.

Adentramos ao som de Gonzaga e, de imediato, lembrei de minha saudosa avó que adorava ouvir o rei do baião. Entre estantes de DVDs, a banda tocava um repertório exclusivo da região Nordeste e, em poucos minutos, fizemos amigos, conhecemos histórias. Entre uma cerveja e outra, nos sentimos acolhidos pelo lugar e pelas pessoas.

Em um instante, olhei para a calçada onde estávamos parados anteriormente e duas senhoras espiavam de longe. Assim como o jovem flamenguista, gesticulei convidando-as para entrar. Elas não pestanejaram e logo nos contaram casos de suas vidas, como se já tivéssemos sido apresentados.

Depois de conhecer essas histórias, fiquei pensando em duas coisas. A primeira é, lembrando as palavras do antropólogo, Massimo Canevacci, como a cidade é polifônica. Contrariando a narrativa de que a violência isola as pessoas através de grades e muros, uma improvável banda de forró tocando em uma locadora de filmes em época de Netflix, nos mostra que a cidade pulsa e é sociável, como alerta a arquiteta e urbanista, Raquel Rolnik.

A segunda é a capacidade da música em unir as pessoas. Ao conversar com o dono da locadora, ele nos informou que procura, de vez em quando, reunir os amigos e fazer um som. Segundo ele, “é uma maneira de matar a saudade de casa, porque não tem como ir até a Feira de São Cristóvão todos os finais de semana”.

Voltamos para casa felizes e revigorados. Afinal de contas, é nesse encontro que a música proporciona que criamos identificação com o espaço urbano e com as pessoas que, por vezes, passamos sem notar.

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