O Brasil não possui bibliotecas em número suficiente, com serviços de qualidade, para atender as demandas de informação e leitura da população. É isso que diz um manifesto lançado hoje (4) pela Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários (FEBAB) no último dia de programação Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD), que acontece na cidade de Vitória, ES.

Segundo a instituição, o país não avançou nem na ampliação e nem no fortalecimento das bibliotecas, sendo que muitas daquelas que tiveram investimentos ou foram priorizadas pelo poder público sofreram descontinuidade, como o é caso das bibliotecas-parque do estado do Rio de Janeiro, que nos últimos anos têm passado por problemas.

De acordo com os dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o Brasil tem 6057 bibliotecas públicas municipais, distritais, estaduais e federais, nos 26 estados e no Distrito Federal (dados de 2015). Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o total de municípios brasileiros com bibliotecas públicas sofreu queda de quase 10% em quatro anos. O número caiu de 97,7%, em 2014, a 87,7%, em 2018.

Por aqui existe uma biblioteca para cada 34 mil habitantes. Para se ter uma ideia, o Brasil, com 210 milhões de habitantes, tem quase o mesmo número deste tipo de equipamento que a Itália, que tem 60 milhões de habitantes. O ranking é liderado pela Índia que tem mais de 146 mil bibliotecas, seguida da Rússia com 37 unidades. Os dados são do Library Map of The World, uma iniciativa da Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA, na sigla em inglês).

Para a FEBAB, parte da fragilidade das bibliotecas públicas brasileiras pode ser atribuída pelo fato do país não ter avançado na formalização de marcos legais para a constituição e manutenção desses equipamentos.

“O país tem uma lei para o livro, tem uma lei para o fomento da leitura e escrita, entretanto não tem uma lei específica que garanta a existência e o bom funcionamento de bibliotecas públicas em seu território, coerente com a sua realidade, realidade esta marcada pela grandeza territorial e pela diversidade cultural, econômica e social”, diz o manifesto.

Segue abaixo a integra do documento:

No ano 2019 os estudos internacionais liderados pela Seção de Bibliotecas Públicas da Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (IFLA) completaram 46 anos, e o “Manifesto da IFLA/UNESCO sobre bibliotecas públicas” completou 25 anos de sua publicação.

Esses documentos internacionais, bem como outros em defesa da biblioteca pública e da prestação de serviços bibliotecários de qualidade à população, são reconhecidos, difundidos e avançam na atualização e adequação às mudanças tecnológicas e de comportamento da sociedade em geral. No entanto, o estado brasileiro não conseguiu seguir as diretrizes propostas pela IFLA/UNESCO. O país não possui bibliotecas em número suficiente, com serviços de qualidade, para atender as demandas de informação e leitura da população. O Brasil não avançou nem na ampliação e nem no fortalecimento das bibliotecas, ao contrário, muitas daquelas que tiveram investimentos ou foram priorizadas pelo poder público sofreram descontinuidade, como o caso das bibliotecas parque do estado do Rio de Janeiro.

Parte da fragilidade das bibliotecas públicas brasileiras pode ser atribuída pelo fato do país não ter avançado na formalização de marcos legais para a constituição e manutenção desses equipamentos.  O país tem uma lei para o livro, tem uma lei para o fomento da leitura e escrita, entretanto não tem uma lei específica que garanta a existência e o bom funcionamento de bibliotecas públicas em seu território, coerente com a sua realidade, realidade esta marcada pela grandeza territorial e pela diversidade cultural, econômica e social.  Uma lei que estabeleça parâmetros para a sua criação e funcionamento, e que garanta investimentos financeiros contínuos para a sua manutenção.

Essa situação marca e expõe o atraso do país em relação à democratização do acesso à leitura, à informação e ao conhecimento, direitos dos cidadãos, garantidos na Constituição de 1988. Não é concebível que, em pleno século XXI, a população brasileira não tenha à sua disposição bibliotecas públicas municipais, estaduais e federal com infraestrutura, espaço, acervo, serviços e pessoal qualificado para atendê-la. Falamos da biblioteca pública entendida como um espaço público de cultura e educação, que possibilita meios para a inserção e desenvolvimento da população, em todas as áreas que afetam direta ou indiretamente a vida das pessoas. 

A ausência ou mesmo a descontinuidade dos investimentos em políticas públicas para o setor foram ainda mais impactados com a recente extinção do Ministério da Cultura (MinC) e a realocação do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP) para a Secretaria da Economia Criativa, dentro do Ministério da Cidadania, dificultando o diálogo e as articulações com esse órgão.

Até a presente data não sabemos qual o plano de ação do SNBP para os próximos anos e, muito menos, quais os recursos destinados pelo governo federal para essa área. O mapeamento das bibliotecas públicas no país está parado e os dados disponíveis desatualizados, além disso no período de 2015 até a presente data foi lançado apenas um edital de apoio às bibliotecas públicas para atender 20 bibliotecas dentre as mais de 6.000 bibliotecas públicas espalhadas pelo país. 

Para agravar a situação, em setembro de 2019, com menos de uma semana para a realização do VI Fórum Brasileiro de Bibliotecas Públicas, que estava programado para acontecer durante o XXVIII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, nos dias 03 e 04 de outubro, o SNBP comunicou o cancelamento justificando “restrições orçamentárias impostas para o presente exercício aos Ministérios”. Destaca-se a importância do evento, já em sua VI edição, cujo objetivo é a aproximação e articulação do órgão com interlocutores da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação que atuam, pesquisam, valorizam e defendem as bibliotecas públicas no país. Com isso, o SNBP não aproveitou a oportunidade de estabelecer o diálogo com seus interlocutores e dar transparência a suas ações.

Diante do exposto, a FEBAB, suas associações filiadas localizadas em todo território brasileiro, e participantes do XXVIII CBBD, vêm a público manifestar-se contra o desmonte das políticas públicas para o setor, e registrar seu repúdio à falta de investimentos no âmbito federal, estadual e municipal em bibliotecas públicas brasileiras, espaço democrático fundamental para uma efetiva transformação social para a população brasileira.

Pelo direito à leitura!

Pelo direito ao acesso à informação e à cultura!

Pelo direito às bibliotecas públicas municipais e estaduais de qualidade em todo território nacional!

#Digasimabibliotecapublica

#Nosapoiamosasbibliotecaspublicas

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