RIO – O governo do estado do Rio de Janeiro, vinculado ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), implantou o modelo de biblioteca parque nas bibliotecas públicas do Rio. Após visitar países como Colômbia, Chile, França, entre outros, adotou esse modelo inspirado nas bibliotecas parque das cidades de Medellín e Bogotá, na Colômbia.
De acordo com a secretária estadual de Cultura, Adriana Rattes, as bibliotecas se chamam parque porque não são somente um lugar de estudo e pesquisa, mas também de convivência, lazer e festa. “Queremos que as famílias venham e passeiem pela biblioteca como se estivessem num parque”, destaca Rattes.
As bibliotecas parque do Rio são caracterizadas como espaços que oferecem multiplicidade de artes, cultura, além de contarem com uma arquitetura super moderna. Durante a reinauguração da Biblioteca Parque do Estado do Rio de Janeiro, a superintendente da Leitura e do Conhecimento da Secretaria de Cultura do estado do Rio, Vera Saboya, afirmou à Revista Biblioo que “as bibliotecas parque representam uma mudança no próprio conceito de biblioteca, onde não se tem acesso somente à leitura e pesquisa, mas também as artes, experiências estéticas, ao cinema, a fotografia, a música”.
Atualmente, o estado do Rio de Janeiro conta com quatro bibliotecas neste modelo, sendo três localizadas no município carioca e uma na cidade de Niterói. Esses espaços funcionam de segunda à sexta, das 10h às 20h e nos sábados e domingos, das 11h às 17h.
A Biblioteca Parque de Manguinhos (BPM), o primeiro modelo de biblioteca parque do país, foi inaugurada em abril de 2010, tendo como diretor o geógrafo Alexandre de Oliveira Pimentel.
A Biblioteca Parque de Niterói (BPN) foi reaberta ao público em julho de 2011. Em entrevista à Revista Biblioo em 2012, a bibliotecária e ex-diretora da Biblioteca Pública de Niterói, Glória Blauth, afirmou que foi a primeira vez em trinta anos de sua atuação na BPN que a biblioteca foi contemplada com “investimentos de tal maneira e muito bem aplicados”.
Já a Biblioteca Parque da Rocinha (BPR) foi inaugurada em junho de 2012 e tem como diretora a produtora cultural, Daniele Ramalho.
A Biblioteca Parque do Estado do Rio de Janeiro (BPE), cuja reforma demorou mais de cinco anos, reabriu no dia 29 de abril de 2014. Apresenta um suntuoso espaço, marcado pelas modernas instalações e equipamentos, que retratam nitidamente seu slogan: “Uma biblioteca que tem de tudo. Até livro.” Ironicamente, com todo o investimento feito, a BPE reabriu após cinco anos sem o acervo totalmente catalogado.
A reinauguração foi marcada pelo costumeiro espetáculo político. A presença do então governador, Sergio Cabral, e seu vice há época, Pezão (atualmente governador), e do prefeito Eduardo Paes, deu o tom já rotineiro às inaugurações de obras públicas: a personalização da benfeitoria a um governo específico.
E os direitos trabalhistas dos bibliotecários?
Antes da reinauguração alguns comentários e reclamações em redes sociais de bibliotecários que participaram do processo seletivo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) para a contratação de bibliotecários para atuar na BPE refletem a invisibilidade desses profissionais num local onde obviamente deveriam ser protagonistas. Segundo as reclamações, o processo seletivo foi desorganizado e sem transparência.
Esta invisibilidade também se corrobora a partir do momento em que existe uma legislação que busca garantir os direitos salariais dos bibliotecários que não são respeitados. Como exemplo, segundo alguns bibliotecários que trabalharam em projetos na BPE, a empresa contratada para prestação de serviços de processamento técnico de material bibliográfico e audiovisual, Datacoop, atrasa pagamentos e não respeita direitos trabalhistas.
Diante dos exemplos supracitados, é possível perceber que ainda há muito a se conquistar no que tange à força política de nossas entidades representativas e até mesmo dos profissionais inseridos no mercado de trabalho.
Com a criação das bibliotecas parque existe uma demanda de trabalho para os bibliotecários atuarem nesses espaços. A ideia é expandir esse modelo de biblioteca para outros pontos da cidade do Rio e quem sabe do Brasil. Segundo Vera Saboya, as próximas comunidades que serão contempladas com bibliotecas parque são: o Alemão, Lins, Mangueira, Fazenda do Colubandê em São Gonçalo e interior do estado.
Mesmo com essa previsão de expansão, em oito anos do governo Cabral, não teve nenhuma discussão de proposta para abertura de concursos públicos para a contratação de bibliotecários para atuar nas bibliotecas parque. A insistência em adotar o modelo de terceirização da mão de obra bibliotecária e a entrega do serviço de contratação desses profissionais nas mãos da iniciativa privada, corrobora a falta de transparência e dá margem para a manutenção da lógica de contratação do “quem indica”.
A equipe da Revista Biblioo entrou em contato por telefone e e-mail com a Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro (ASCOM) no dia 03 de abril de 2014 para levantar informações a respeito da quantidade de bibliotecários que atuam nas bibliotecas parque do Rio de Janeiro e da previsão de abertura de concurso público. Até o fechamento dessa edição não recebemos nenhuma resposta por parte da ASCOM.
O desafio colocado em ano de eleição e em uma possível mudança de governo é a continuidade da necessidade de investimentos nestes espaços para além de governos em curso. Diante disso é preciso enfatizar a importância da ocupação dos bibliotecários nestes espaços de cultura, uma vez que a atividade destes profissionais não deveria ser encarada somente como uma atividade técnica, mas também como uma atividade intelectual e política.