As pluralidades são nossa maior riqueza cultural. Desde muito novos aprendemos que o Brasil é um gigante, detentor de uma história construída em cima de muitos sacrifícios. Uma história recente, verdade. Mas que já é palco para inúmeras contradições. Só quando começou o Século XX que a Biblioteconomia chegou por aqui, em um país de História construída (fabricada).
Hoje, passados mais de um século de Biblioteconomia no Brasil, é ainda mais evidente o papel de bibliotecárias/os no que se relaciona à saúde e/ou manutenção da democracia, arranhada, que ainda temos por aqui. Não se pode fingir normalidade diante de um governo que sabota, saqueia e ataca o próprio país. E tudo isso com o aval de uma parcela considerável da população. E aqui um fato curioso: bibliotecárias/os que deveriam ter como principal faculdade o discernimento para repelir discursos e pautas do atual governo o apoiam, a idiossincrasia de reflexão e conhecimento aparentemente não é inerente a todos.
O atual governo federal tem um histórico de ataques e sabotagens em vários campos da Educação, alguns exemplos aqui a fim de relembrar: Ataque aos cursos de Ciências Humanas: Filosofia e Sociologia principalmente, mas sabe-se também da aversão à História, Geografia e todas as disciplinas que promovam a reflexão e senso crítico.
O corte de 30% no orçamento das universidades federais. As universidades públicas já vinham sofrendo ataques desde governos anteriores, sim. Mas tudo veio piorando a partir deste governo. O governo federal estendeu o corte orçamentário para toda a pasta de educação. A famosa demagogia de promessa de campanha, ele prometeu investir na educação, mas o que se vê é o contrário disso.
O bloqueio de bolsas da Capes. Esse governo bloqueou bolsas de mestrado e doutorado oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Sempre foi muita clara a intenção desse governo: sabotar um país, pois sem investimentos em Educação a consequência é a dependência de outras potências.
O Ministério da Educação beneficiando as instituições privadas enquanto sucateia as universidades públicas, uma forma de tirar chances e oportunidades reais de crescimento profissional e de melhorias para as populações mais carentes. Em entrevista o atual presidente do Brasil chamou estudantes de idiotas úteis. Na concepção dele os não idiotas são aquelas pessoas que olham para o crescimento patrimonial dele e da sua família, que é incoerente aos seus salários, sem se perguntarem o porquê (esqueceram do açaí da Val, dos cheques do Queiroz, funcionários fantasmas, denúncias do crime de rachadinha?).
Esses foram só alguns exemplos do que se pode traçar como perfil do governo federal. O que acaba provocando certo constrangimento à uma classe profissional que tem como principal objeto a informação, mas que ainda encontra entre os seus alguns asseclas de um governo inimigo da educação, ciência, cultura e informação. E por falar em informação é importante chamar a atenção sobre um tema que também merece destaque: a Lei de Acesso à Informação (LAI).
A LAI completou 10 anos em novembro de 2021, e desde sua criação vem incomodando muita gente, inclusive, ou principalmente, este governo. Quando falamos em informação pensamos em biblioteca e imprensa, naturalmente. E sobre a imprensa é mais que evidente que esta (ou parte dela) é inimiga deste governo. As bibliotecas então, talvez nem tanto por serem mais frágeis no sentido de mais dependentes de recursos e por estarem dentro das instituições que estão sendo sucateadas/atacadas por ele, mas nem por isso são menos inimigas, até porque bibliotecas representam tudo o que esse governo tem aversão: informação, conhecimento, cultura.
Mas a LAI, em seus 10 anos de existência, talvez esteja enfrentando o período de maior adversidade. No dia 18 de novembro foi ao ar uma matéria comemorativa no Jornal Globonews, edição das 16. Nesta matéria comemorava-se os 10 anos da LAI. Foram inúmeras denúncias de como o governo federal atua de forma arbitrária e indo contra a Lei.
Nesse contexto o papel de bibliotecárias/os fica bem claro: atuar como agentes que levam informação às comunidades, como se fosse uma estratégia que visa garantir acesso à cidadania. Num país onde a democracia ainda é tão frágil, atuar como agente de informação e fomento, direto ou indireto, para manutenção da democracia é missão louvável e de como deve(ria) ser todo profissional da informação. Garantir acesso à informação e pavimentar os caminhos para o conhecimento é um desafio que vale a pena.
O ano de 2022 é de esperança, de mudanças (espera-se). Todas as lições precisam estar bem vivas, bibliotecária e bibliotecário nenhum pode deixar isso se perder. É importante pensar nas políticas públicas a partir da educação, isso deve ser um compromisso de todos. Organizar as entidades de classe e entender o papel delas para o fortalecimento da profissão também é importante, assim como a forma como elas atuam, precisamos de bons representantes em todos os lugares. E em todos os lugares significa, também, nos parlamentos. Já viram quantas vezes as palavras bibliotecas e bibliotecários foram proferidas nas tribunas das suas cidades, de seus estados, nas câmaras federais? Em mais de 100 anos de História já deveríamos ter mais força, mais atuação, mais importância. Sabemos bem o que significamos para a sociedade, mas ela ainda não sabe do quanto precisa de nós, e cabe a nós fazer com que isso aconteça.