Fechada desde o final de 2016, a Biblioteca-Parque do Estado (BPE) deve reabrir as portas nesta quinta-feira, 17. Ao contrário do que aconteceu com as unidades da Rocinha e de Manguinhos, reinauguradas recentemente, a BPE deve voltar a funcionar sem muitos alardes, envolvida pela inauguração da segunda edição da “LER – Salão Carioca do Livro”, que começa amanhã e será realizada nas dependências da Biblioteca.
Localizada na Avenida Presidente Vargas, número 1261, no Centro do Rio, a BPE tem 15 mil metros quadrados divididos por amplos ambientes que incluem salão de leitura, salas de estudo, auditório e até teatro. Até seu fechamento, a unidade havia recebido pelo menos 1 milhão de visitantes.
Procurada pela Biblioo, a Secretaria de Cultura do Estado (SEC) informou por meio de nota que após a LER, a unidade será definitivamente aberta ao público sob a gestão da própria Secretaria. “A organização solicitou quatro dias para a desmontagem do evento e reorganização do espaço, que encerra no dia 24. Aproveitaremos o dia 25 para ajuste dos últimos detalhes visando a reabertura no [dia] 28”, diz o documento.
“Com a reabertura serão retomadas aos poucos as atividades inicialmente idealizadas para cada um dos espaços, permitindo ao público usuário o acesso ao acervo de 200 mil títulos, ao espaços multimídia, ao teatro, etc. As outras bibliotecas parque também estão inseridas nesse processo de resgate da unidade, com a exploração de todas as suas potencialidades, a partir da realização de atividades literárias e culturais de maneira geral”, completa a nota..
A SEC já havia informado anterioriormente que a reinauguração da BPE só seria possível em função de um acordo firmado entre a pasta e a Eletrobrás. Pelo acordo, a estatal federal ocupará um anexo da Biblioteca, onde será instalado o “Memorial da eletricidade”, sendo que em troca a Secretaria ficará em um andar no prédio da Eletrobrás, deixando de pagar aluguel.
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De acordo com notícia do Jornal do Brasil, alguns funcionários estão preocupados com o futuro da biblioteca, principalmente no que se refere à seção intitulada Guanabarina, onde obras raras, sobretudo relativas à história do Rio de janeiro, precisam de cuidados para sua conservação. “A Guanabarina está nessa biblioteca desde que ela se chamava Celso Kelly nos anos 1980. Trata-se de livros importantíssimos sobre o Rio e que resistiram ao incêndio que ocorreu na biblioteca em 1984. É fundamental cuidá-los”, disse ao JB o arquiteto Glauco Campello que fez o projeto da biblioteca no fim dos anos 1980.
De fato, pessoas que tem acesso ao prédio confirmaram à Biblioo que o prédio tem marcas de deterioração no seu interior. Nós também procuramos a SEC para saber se foi feito algum reparo estrutural ou reforma da Biblioteca visando sua reabertura, mas até o fechamento desta reportagem não havíamos recebido retorno sobre este tema.
Sobre o quadro de funcionários, a Secretaria de Cultura deve, assim como fez com as Bibliotecas da Rocinha e de Manguinhos, deslocar para a BPE servidores do seu expediente. Segundo o secretário estadual de Cultura, Leandro Monteiro, serão necessários cerca de 30 trabalhadores para garantir o funcionamento da unidade. A Biblioo também indagou à SEC sobre quantas dessas pessoas são bibliotecários e/ou técnicos e auxiliares de biblioteca, mas ainda não obteve resposta.
“É importante ter bibliotecários minimamente qualificados. Quem acompanha o Diário Oficial sabe que não houve contratação de novos bibliotecários, tanto para acompanhamento público como para processamento técnico. Gostaríamos de saber o que a Eletrobrás vai fazer para que essa memória não se perca”, disse um funcionário ao Jornal do Brasil.
Promessas frustradas
Vale lembrar que este não é o primeiro anúncio de reabertura da BPE. Em março de 2017, o então secretário de Cultura, André Lazaroni, informou que a Biblioteca voltaria a funcionar com o emprego de servidores da área da Educação, o que acabou não acontecendo. Em julho do mesmo ano a organização não-governamental (ONG) Espaço Jango anunciou que poderia assumir a administração das bibliotecas, mas a proposta também não seguiu adiante.
LER – Salão Carioca do Livro
A despeito destes fatos, a segunda edição da “LER – Salão Carioca do Livro” ocupará os espaços da Biblioteca-Parque Estadual de amanhã (17) até o próximo domingo (22). Na programação estão artistas e escritores como Lázaro Ramos, Conceição Evaristo, Marcia Tiburi, Elisa Lucinda, entre outros. Também estão previstas oficinas, exposições, dinâmicas literárias, palestras, saraus e muito mais.
“A LER, Salão Carioca do Livro é o Festival do Leitor! […] Um evento criado para elevar a paixão pela leitura em todas as idades e de todos os jeitos, 100% interativo, que reúne todos os agentes da cadeia do livro e da economia criativa e fortalece o livro e a leitura, trazendo e trocando conhecimentos, durante seus quatro dias de realização”, diz a apresentação do evento.
Na primeira edição da LER, realizada nos Armazéns 2 e 3 do Píer Mauá em 2016, participaram 115 autores, com centenas de atividades e atrações dirigidas para a literatura, educação, música e teatro voltadas para mais de 80 mil pessoas.