RIO e JUAZEIRO DO NORTE, CE – Quando pensamos na cultura nordestina, lembramos dos bonecos de Olinda, das Marionetes, da Literatura de Cordel, do Forró e das Comidas Típicas, mas é através da confecção dos bonecos de palha que Cícero Carlos procura retratar o cotidiano e os sentimentos de sua região, Juazeiro do Norte no Ceará.
Tudo começou quando Cícero aprendeu a arte de fazer bonecos com uma senhora chamada Dorinha, artesã da região de Juazeiro do Norte. Mas desde cedo a cultura dos artesanatos de palha sempre esteve presente em sua vida. Seu pai era escultor, sua mãe e sua avó faziam chapéus traçados com palha de carnaúba.
Artesanato em tempos de novas tecnologias
Atualmente, com o advento das novas tecnologias, as crianças começam desde cedo a jogar vídeos games e jogos em rede, sendo assim as brincadeiras artesanais como rodar peão e jogar bola de gude acabaram perdendo espaço no cotidiano infantil. A infância de Carlos foi marcada pelo contato com a arte, em esculpir a palha de milho, porque é uma cultura que é passada de pai para filho. Esse contato desde cedo propiciou nele o gosto por desenhos manuais, pela confecção de esculturas de argilas e origamis.
As oficinas de bonecos já fazem parte de sua vida. Junto com sua irmã Ceiça, já realizaram oficinas em Centros Culturais, Bibliotecas e Escolas. Cícero menciona que a criação dos bonecos de palha na sua região, surge a partir de duas necessidades. A primeira de expressar os sentimentos; geralmente reflete aspectos do cotidiano de sua comunidade e a segunda é uma questão financeira, como uma fonte de renda. “Infelizmente nesse mundo capitalista não sobrevivemos sem uma renda”, ressalta o artesão.
A confecção dos bonecos se dá a partir da palha de milho seca, que é umedecida pela água para que a fibra possa a ser moldada. Além de bonecos, são confeccionados, animais e plantas. Segundo Cícero, isso varia de acordo com a escolha do tema e da criatividade do confeccionador. Conhecer um pouco sobre anatomia e saber desenhar ajuda na construção dos corpos, pois as proporções físicas e expressões podem ser reproduzidas com mais exatidão, mas isso não substitui o talento e a habilidade na hora de fazer os bonecos.
Em alguns casos, o conhecimento sobre determinados temas também ajuda no processo de criação do artesanato. Cícero conta que uma vez precisou estudar a história da tortura e expressão facial para compreender como adaptaria alguns objetos com a palha, tudo isso para atender um pedido de um grupo de estudantes de História, que encomendaram uma maquete com dez tipos de torturas.
A inspiração
A aceitação do público é a melhor possível. Cícero Carlos afirma que já recebeu pedidos até dos Estados Unidos, para uma instituição que estava interessada na reconstrução de cenas do cotidiano nordestino a partir da representação dos bonecos de palha.
Popularmente conhecidos como “bonequeiros”, Cícero e Ceiça se consideram artesãos por inspiração de seus pais e pretendem manter essa cultura viva nas futuras gerações de suas famílias como uma forma de preservar não só a riqueza cultural da região, mas também a memória dos seus antepassados.
Cícero afirma que não tem pretensão nenhuma de passar alguma mensagem através de sua arte, mas relata que a impressão das pessoas perante o seu trabalho o encanta, enquanto alguns ficam curiosos pelo fato da matéria-prima ser o milho; outros acabam lembrando situações do passado a partir da situação refletida na cena que os bonecos personificam. Segundo ele, essa arte pode provocar de forma consciente ou inconsciente um sentimento de bem-estar, de espontaneidade e ingenuidade.
Para conhecer um pouco mais sobre a cultura dos bonecos de palha acesse o blog (http://artedipalha.blogspot.com/) e viaje na riqueza da cultura nordestina, representada pelo trabalho manual dos bonequeiros.
Clique aqui e leia integralmente a entrevista de Cícero Carlos que compôs essa reportagem.