Por Guilherme Freitas de O Globo

A relação entre a literatura brasileira e a cultura africana é o tema do ciclo de debates “África: olhares ficcionais da ABL”, que será promovido neste mês pela Academia Brasileira de Letras. Idealizado por Ana Maria Machado e coordenado por Antônio Torres, o ciclo começa hoje e vai até o fim do mês, com palestras semanais, sempre às terças, sobre escritores que viveram e retrataram a cultura afro-brasileira.

A primeira conferência, hoje, será do escritor Cyro de Mattos sobre a obra do baiano Adonias Filho (1915-1990), autor do romance “Luanda Beira Bahia” (1971). No dia 14, Reginaldo de Jesus fala sobre o romance “Os tambores de São Luís” (1975), do maranhense Josué Montello (1917-2006). No dia 21, Ana Maria Gonçalves faz palestra sobre a obra do baiano Jorge Amado (1912-2001). E, no dia 28, Alberto Mussa analisa a relação do mineiro Antônio Olinto (1909-2009) com a África.

— Nossa ideia é inserir a ABL no debate atual sobre o racismo, uma questão grave que precisa ser discutida. Para isso, queremos falar de uma dimensão da literatura brasileira que às vezes é menos lembrada, a que se relaciona com a África e a cultura negra. E faremos isso lembrando a produção de integrantes da ABL que se dedicaram a isso — diz Antônio Torres.

Os quatro acadêmicos que serão debatidos no ciclo são “santos da minha cabeceira”, brinca Torres. Ele considera o romance “Luanda Beira Bahia” um pioneiro no tratamento “da diversidade e da diferença” na literatura brasileira. O livro, ambientado em Angola, em Moçambique e no Brasil, foi escrito depois de uma viagem de Adonias Filho pela África.

Nesta conferência e nas seguintes, diz Torres, o objetivo é apresentar as reflexões sobre a cultura afro-brasileira produzidas pelos integrantes da ABL. Se Jorge Amado é sempre lembrado por clássicos como “Mar morto” (1936) e “Gabriela, cravo e canela” (1958), o ciclo é uma oportunidade de abordar também os trabalhos de Montello e Olinto. Este último foi adido cultural do Brasil na Nigéria nos anos 1960, viajou por vários países africanos e se inspirou nessas experiências para escrever livros como o romance “A casa da água” (1969), em que uma família negra brasileira vai à África em busca de suas origens.

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