Chico tinha apenas dez anos quando ficou amigo de um peixe. Ele, dois irmãos e três amigos decidiram largar as tarefas do colégio na mesa da cozinha e, improvisando varas com bambus e fios de nylon, foram pescar no Velho Monge, o rio mais antigo de Teresina.
No caminho para o rio, os garotos foram acenando para as donas Clotildes e Cremildas que encontravam pela frente. Muitas delas eram clientes de seus pais, feirantes e donos de quitandas, homens que trabalhavam do raiar do dia ao pôr do sol para colocar alimento em casa. Era isso o que Chico e sua turma também estavam prestes a fazer.
Os tempos estavam difíceis, o dinheiro desaparecendo cada vez mais rápido dos bolsos dos pais e ali, naquela imensidão, estava o Velho Monge, o grande rio da cidade. Sem dúvidas, ele estaria pronto para ajudá-los. Chegando na margem do rio, os garotos lançaram seus anzóis e iscas. Minutos depois, Chico sente a vara mexer e, puxando com força, entre gritos e comemorações, ele traz à superfície um belo exemplar de bagre. Enorme, o peixe ricocheteia no ar e, de um salto, vai parar na orelha esquerda de Chico. Antes de saber qual seria o seu destino, o peixe troca um olhar profundo com o garoto.
Gritando de dor, Chico tenta arrancar o bagre e consegue. Tremendo, toca na orelha e percebe que ela está lá. Apenas um fio de sangue escorre e desce pelo seu ombro. Desse dia em diante, Chico passou a travar um relacionamento de amizade com o bagre e, toda vez que pescava algum peixe dessa espécie, acabava libertando-o novamente. A relação do homem e da natureza não deve ser de poder, mas sim de reconhecimento, de respeito e amizade.
Essa amizade dura até hoje, pois Chico leva muito a sério as palavras que o bagre lhe disse naquele dia. Nada melhor para homenagear o amigo peixe do que viver e praticar a sua filosofia de vida. Segundo ele, a profecia do bagre, sussurrada em seu ouvido naquela pescaria, foi e continua sendo: “Homem e natureza são um só. Essa é a verdadeira história do mundo”.