Que espaço é esse onde livros arrumados em estantes convidam o leitor a se aproximar? Para alguns seria o paraíso como dito por Borges. Ou uma biblioteca de babel descrita pelo mesmo autor em seu texto.
Os livros, o leitor, o convite para a leitura, um cenário perfeito para uma formação.
Quando trabalhamos com a leitura e a formação do leitor, seja na escola, na biblioteca, ou em outro lugar parecemos ser muitos, mesmo sendo um só.
Vamos nos permitindo percorrer as histórias escritas em linhas por vezes tortas, outras vezes retas, e certas. Certas no sentido da certeza de que chegaremos em algum lugar, mesmo que seja por caminhos diferentes.
Apesar de sabermos que a leitura não vive apenas nos livros, mas habita o mundo no todo, os livros trazem essa leitura e convidam esse leitor para uma leitura surpreendente a cada virada de página.
Quem não viveu a experiência de querer muito pular as páginas de um livro para encontrar a salvação de um personagem, ou até mesmo descobrir logo o mistério escondido durante toda a obra sendo somente desvendado nas últimas páginas da história?
E é no espaço mágico de uma biblioteca que o encontro entre o leitor e leitura pode acontecer. Muitas vezes é ali que ele encontra o que jamais procurou, mas que esperava por ele há tanto tempo.
E a solidão se existia, acaba nesse exato momento. Quando lemos não estamos mais só no sentido da completude. Mario Quintana afirma: “O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.”
E essa companhia para ser agradável ao leitor, nesse encontro com o livro, a leitura pode ser extremamente gloriosa se entre eles houver uma mediação.
Alguém que possa fazer o convite, alguém que possa ajudar a olhar. Tudo pode começar com uma brincadeira…
Onde está a história do nosso primeiro nome dentro da história da gente?
E brincando com isso encontramos um primeiro livro: “Diário de Classe”, de Bartolomeu Campos Queirós.
Clara rima com o quê?
E Ana?
Qual nome mora na palavra amor?
E assim uma leitura puxa outra, de um livro saltamos para um quadro, onde uma pintura nos revela fome como no quadro “Os retirantes” de Cândido Portinari.
E curioso o leitor busca informações sobre o grande pintor. E encontra no livro “Com vontade de Pintar o Mundo” informações sobre sua vida desde a infância.
E nesse momento não há mais vazio, nem solidão. O espaço do silêncio está cheio de vozes que se pronunciam a cada virada de página. A leitura está no ar! E convida ao voo que não tem pouso certo, mas extremamente atraente para esse leitor que acaba de surgir.
O tempo pouco importa, os ponteiros pararam no momento mágico, o desejo de continuar nos ajuda a prosseguir.
E assim lemos o mundo, as pessoas. O que era nada vira o tudo, a leitura encontra o seu momento, como ato de rebeldia e de maravilhamento. Por alguns momentos esquecemos de tudo e vivemos o encanto.
Um encanto que dura o tempo que queremos para ele.
E tem gente que pergunta: Quanto tempo devo dispor para a leitura Todo tempo do mundo, todo o tempo do leitor, ele é que decide.
E o livro? Grosso ou fino? O que importa o tamanho de um livro?
Importa o tamanho da leitura que mora nele e quanto ela me faz feliz, me faz pensar, dialogar.
Quanto mais dialogo com ela mais vontade tenho de ler, e desta forma vou lendo mais e mais e mais….
E o leitor, assim como eu, de um livro lê dois e de dois cinco e a multiplicação acontece porque entre o leitor e o livro começa a existir uma história de amor.
Nos direitos do leitor, Daniel Pennac diz:
Ler qualquer coisa…
Ler em qualquer lugar…
Então porque proibir, dizer o que é melhor, e o que não é.
Quem define isso é o leitor que vai aos poucos descobrindo outras leituras que ele nem imaginava que ia se apaixonar.
Ai é que entra em cena o mediador, oferecendo novas leituras, fazendo o convite para que sejam experimentadas. E se o leitor gostar vai repetir o experimento.
Vai descobrir que dentro de um livro moram muitas leituras, tantas histórias lidas de forma diferente, do jeito que cada leitor sabe ler.
E que os livros e a leitura também moram na biblioteca, o espaço paraíso descrito por Borges, o lugar do prazer para quem gosta de ler.
Uma leitura que nunca está completamente pronta, mas que se completa pelos olhos do leitor.
*REFERÊNCIAS
BORGES, Jorge Luis. . Ficções. São Paulo: Ed Cia das Letras, 1998.
FIDALGO, Lúcia. Com vontade de pintar o mundo. São Paulo: Paulus, 2006.
PENNAC, Daniel. Como um romance. Rio de Janeiro: Rocco,1993.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos.Diário de Classe.São Paulo: Modena, 2003.