No Bairro Novo, em Olinda, Pernambuco, a Biblioteca Comunitária Lar Meimei realiza mediações de leituras para as crianças da Creche da instituição de mesmo nome. São bebês de dois e três anos de idade, muitos deles filhos de ex-estudantes. A narrativa faz parte da vida do bebê, por meio do som da voz, das canções de ninar e das cantigas de roda. As crianças demonstram interesse pela leitura desde cedo, interagindo com as histórias, batendo palmas, sorrindo e cantando.

Em seu livro “À importância do Ato de Ler”, Paulo Freire afirma que a leitura é um processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, contextos, leituras de mundo e conhecimentos. Os “Parâmetros Curriculares Nacionais (PNC) – Língua Portuguesa” também reforçam a necessidade de superar algumas concepções sobre o aprendizado inicial da leitura.

“A principal delas é a de que ler é simplesmente decodificar, converter letras em sons, sendo a compreensão consequência natural dessa ação. Por conta desta concepção equivocada a escola vem produzindo grande quantidade de ‘leitores’ capazes de decodificar qualquer texto, mas com enormes dificuldades para compreender o que tentam ler”, diz o PNC.

Na infância, a criança faz as suas primeiras leituras e a leitura do mundo precede a leitura da palavra, pois, mesmo que ainda não saiba ler a palavra escrita, ela vai “lendo” o mundo e todo o contexto em sua volta. Vai lendo o canto dos pássaros, as águas da chuva, as danças das folhas sopradas pelo vento, as cores das frutas, as nuvens do céu. Também vai escutando os sons da natureza, as conversas e expressões dos mais velhos e assim faz sua “leitura” do mundo que se move ao redor.

Contação de história para crianças na Biblioteca Comunitária Lar Meimei. Foto: Tarcísio Camelô

A leitura é um direito humano e uma possibilidade de adquirir conhecimentos, lazer, igualdade e oportunidade, ajudando na interação com os outros e na resposta às exigências da sociedade em diversas situações da vida. Por isso, a importância do acesso a literatura desde pequeno. As bibliotecas comunitárias são fundamentais na garantia desse direito, ocupando diversas regiões do Brasil com práticas constantes de leituras e ações que promovem o direito de apresentar às crianças o mundo da literatura.

A biblioteca Lar Meimei me ajudou a aprender a ler, a desenvolver minha criatividade e meu amor pela leitura, hoje sou leitor! Um fator determinante é ser filho de uma Mediadora de Leitura. Eu me lembro de um momento em que ‘tia’ Flávia fechou meus olhos e me trouxe para a biblioteca. Quando abri, minha mãe estava no espaço e me falou que agora trabalhava lá. Ela lia livros para mim antes de dormir e agora ia ler na biblioteca, um dos espaços que mais gosto. É como se fosse minha segunda casa!” – Jadilson Rodrigues, 12 anos, leitor da Biblioteca Lar Meimei.

Neste período de pandemia, com bibliotecas e escolas fechadas, muitas famílias estão mais tempo com as crianças em casa, uma oportunidade de se envolver e valorizar a leitura de histórias literárias. Estes momentos criam laços de afetividade e empatia que contribuem para a formação humana e crítica dos pequenos, mas é importante destacar que a atividade de leitura deve ser estimulada de forma prazerosa e aconchegante.

Como ler e estimular a leitura para as crianças? Não existe uma fórmula pronta, basta um livro, soltar a voz e a imaginação para levar a criança ao mundo encantado da literatura. Podem ser utilizadas em casa as metodologias realizadas nas bibliotecas comunitárias, como realizar leituras com sons, gestos, imagens, canções de ninar e das cantigas de roda.

Biblioteca Comunitária Lar Meimei realização leitura para bebês. Foto: Tarcísio Camelô

Outro estímulo é promover o acesso aos livros literários oferecendo leitura livre em que as crianças fazem suas escolhas, garantindo que elas não sejam importunadas durante as experiências com os livros. Aproveite esse momento literário para criar laços afetivos entre a criança, a literatura e a família.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (www.sbp.com.br) sistematizou no folheto da campanha “Receite um livro” algumas dicas que podem ajudar a criar momentos literários aconchegantes para a primeira infância, que transcrevemos abaixo:

Modo de usar: como ler para crianças de 0 a 6 anos

De 0 a 5 meses:  Represente com gestos ou a voz a figura que estiver mostrando. Imite os sons que o bebê faz e observe sua reação.

De 6 meses a 1 ano: Converse e faça perguntas sobre as coisas que ele está ouvindo. Exemplos: “Olha o cachorrinho!”, “Como faz  o cachorrinho? Faz au-au”.

De 1 a 2 anos: Use diferentes vozes para representar os personagens. Incentive a criança a imitar o som de animais. Interaja quando ela falar ou apontar algo. Leia a história várias vezes se ela quiser.

De 2 a 4 anos: Permita que a criança faça comentários sobre o texto, alguma figura ou palavra que chame a atenção dela. Deixe que ela conte a sua história favorita da própria maneira. Fale sobre os sentimentos dos personagens e pergunte se ela já sentiu o mesmo.

De 4 a 6 anos: Responda com interesse às perguntas e os comentários da criança. Leia a história do jeito que o autor escreveu, sem alterar as palavras para ampliar o vocabulário da criança.

Em todos as idades, mostre as figuras, esteja disponível para a interação e deixe a criança manusear o livro.

O ato de estimular a leitura literária desde pequeno possibilita aos leitores e leitoras desenvolver a sua imaginação e sensibilidade, conhecer novas histórias e contextos. Vivenciar experiências, colocar-se no lugar do outro, desenvolver afetividade e empatia são fundamentais para o desenvolvimento humano e crítico das crianças.

“Na biblioteca acolhemos as crianças
O Lar Meimei agita a dança
A literatura é quem avança
E juntos lutamos por mudança” (Trecho retirado do Poema da Releitura, rede de bibliotecas comunitárias da Região Metropolitana do Recife).

*Esse texto contou com a colaboração de Tarcísio Camêlo, jornalista, educador social e defensor dos direitos humanos. Atua na produção de conteúdos documentais e ficcionais e na incidência política para comunicação comunitária, comunicação pública e independente. É comunicador da Releitura – Bibliotecas Comunitárias em Rede.

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