Para pessoas sem interesse na literatura, bibliotecas são apenas espaços silenciosos repletos de livros em estantes, para os leitores, ambientes cheios de possibilidades para viajar e sonhar sem sair do lugar, e para aquelas pessoas curiosas e dispostas a dar uma chance a tais lugares e à literatura, ambientes capazes de transformar de formas inimagináveis a vida humana.

Se perguntar para cada indivíduo, a biblioteca terá uma determinada importância e objetivo, no entanto, de uma forma geral, o principal objetivo de uma biblioteca é atender as necessidades da comunidade, incentivar a leitura, oferecer suporte informacional, fortalecer o meio acadêmico e servir de lugar para compartilhamento de informação entre pessoas.

Há muitos tipos de bibliotecas, bibliotecas universitárias, escolares, públicas, particulares, infantis, hospitalares, entre outros. Entretanto, embora todas tenham basicamente as mesmas funções, objetivos e visões, tem um tipo em especial que, além de tudo isso, carrega histórias de minorias e seus sonhos, carrega seus legados, simboliza uma luta de anos por direitos e igualdade informacional, simboliza resistência e esperança: as bibliotecas comunitárias.

Como o próprio nome sugere, uma biblioteca comunitária é criada pela própria comunidade, e não só para a comunidade, por meio de uma mobilização social. Portanto, não conta, em geral, com o auxílio de governos ou de instituições e não requer a ajuda de um bibliotecário para funcionar, apenas com a comunidade na qual está inserida e seu criador, podendo ser uma única pessoa ou um grupo da comunidade.

Com a ausência de vínculos e imposição de contas, esse tipo de biblioteca ganha uma autonomia que as outras não possuem, tornando-as livres para escolherem seus horários de funcionamento e os tipos de livros que irão compor seu acervo, mas também afetam diretamente, por exemplo, na forma de aquisição de livros ou qualquer material para o acervo, que é feito, na maioria das vezes, por meio de doações pela comunidade ou por pessoas de fora que queiram contribuir com a causa.

As bibliotecas comunitárias surgem em resposta à exclusão informacional que a comunidade sofre por parte dos indivíduos com maior poder aquisitivo, uma forma de diminuir ou até mesmo solucionar a desigualdade informacional, facilitando o acesso à informação para a comunidade, e lutar pelos seus direitos como cidadãos, o que as torna mecanismos de inclusão social.

No Brasil, a desigualdade social é um dos maiores problemas com os quais a população tem que lidar, o que afeta diretamente a vida dos cidadãos em diversos âmbitos, principalmente daqueles que vivem em regiões periféricas. Essa desigualdade é vista com a falta de bibliotecas públicas espalhadas pelo país, na falta de investimentos nas existentes e quando para se ter acesso a informação é preciso pagar por ela, por exemplo.

Atualmente, além da desigualdade social, que foi acentuada em decorrência da pandemia da COVID-19, o retorno da tentativa de censura no país, principalmente nas escolas, mostrou-se ser um grande inimigo da igualdade informacional e dos direitos humanos, ato considerado nem um pouco ético.

Por esses motivos, as bibliotecas comunitárias brasileiras mostram ser muito necessárias e de suma importância para a população. Elas defendem a literatura como um direito humano e prometem ser espaços livres de censura e com acesso liberado a todos, então criam seus acervos para todos os públicos e idades, com diversidade de gêneros, raças e culturas, um acervo para criar cidadãos livres para refletir e sonhar, para buscar e desejar, especialmente em uma sociedade tão excludente, repleta de preconceitos, como no Brasil.

Essa ação tem pretensão de alcançar a igualdade informacional que todos têm direito, o que não deixa de ser uma ação ética. É ético visar e lutar por uma sociedade igualitária, independente da sua posição nela, na qual os direitos concedidos ao nascer de cada indivíduo à literatura, à cultura e ao livro sejam respeitados e garantidos.

Cabe a todos os seres humanos, moradores ou não das comunidades, valorizar as bibliotecas comunitárias de nosso país, mas cabe, principalmente, aos bibliotecários valorizá-las, pois, como é falado no juramento do curso de Biblioteconomia: “Prometo tudo fazer para preservar o cunho literal e humanista da profissão de Bibliotecário, fundamentado na liberdade de investigação científica e na dignidade da pessoa humana”.

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