Em continuidade ao reconhecimento da trajetória significativa de mulheres na literatura afro-brasileira, num esforço de viabilizar a equidade na bibliografia nacional e na educação, a sétima edição da Olimpíada de Língua Portuguesa homenageia Geni Mariano Guimarães, professora, poetisa e ficcionista.

Amiga inseparável de Conceição Evaristo, primeira escritora homenageada pelo programa, em sua 6ª edição, Geni coleciona admiradores por meio dos seus contos autobiográficos, que trazem reflexões sobre educação, racismo e literatura. “Leite do peito”, “A cor da ternura” (livro premiado com o Jabuti) e a antologia poética “Balé das emoções” são as obras mais aclamadas da autora de 74 anos, que enfatizam suas escrevivências, diversidade e a superação de desigualdades.

Geni nasceu na área rural do município de São Manuel, interior de São Paulo. É a décima primeira filha entre doze irmãos, dos quais conheceu apenas nove. Aos cinco anos, mudou-se para Barra Bonita, a 300 quilômetros da capital paulista, onde passou a frequentar a escola. Começou sua carreira de escritora publicando seus primeiros trabalhos nos veículos locais Debate Regional Jornal da Barra. No início dos anos 80, se aproximou do grupo Quilombhoje e do debate em torno da literatura negra, especialmente no que se refere à afirmação da afrodescendência.

Ficou conhecida pela autoria de contos fortemente marcados por tons de protesto e de afirmação identitária, ampliando sua presença no circuito literário brasileiro. “A minha mãe era lindamente poeta. Era analfabeta e era poeta. Por isso que eu acho que o poema não começa das letras, começa da alma. E a minha mãe cantava Repente, então quando eu me vi, estava falando Repentes. Depois, de supetão, comecei a escrever os meus versinhos. Aí saltou a Geni poeta, graças a Deus”, lembra a escritora.

Dentre as muitas repercussões da obra da poetisa, foi marcante a presença de ‘A cor da ternura’ no desfile da Rosas de Ouro, em 1990, que teve como enredo “De Piloto de fogão a chefe da nação” e levou o título de campeã do Carnaval Paulista naquele ano. Em 2020, Geni foi a homenageada do ano na Balada Literária, evento dedicado à música, literatura e artes, quando foi lançado um documentário sobre sua história.

Realizado a cada dois anos pelo Itaú Social, a Olímpiada de Língua Portuguesa tem por objetivo apoiar professores da rede pública de todo o Brasil no aprimoramento de suas práticas de ensino de leitura e escrita. A partir da metodologia do Escrevendo o Futuro, programa criado para contribuir com a melhoria do ensino de Língua Portuguesa, os docentes realizam oficinas de produção de textos para alunos do 5º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Desde a primeira edição, o tema do concurso é “O lugar onde vivo”, um estímulo à reflexão sobre as realidades locais.

Diferentemente das outras edições, a proposta deste ano consiste em acompanhar e reconhecer os relatos de prática, com os registros dos processos de ensino-aprendizagem vivenciados pelos professores e estudantes durante o trabalho de produção de um dos gêneros propostos: poema (5º ano), memórias literárias (6º e 7º), crônica (8º e 9º), documentário (1ª e 2ª séries do Ensino Médio) e artigo de opinião (3ª série do Ensino Médio). Segue abaixo o balanço de inscritos nesta edição:

  • 877 municípios aderiram;
  • 846 escolas inscritas;
  • 008 professores inscritos; 
  • 510 inscrições nas categorias (poema(5º ano), memórias literárias (6º e 7º), crônica (8º e 9º) e artigo de opinião (3º ano do Ensino Médio)

Publicações – Geni Guimarães

Obras literárias – poemas e contos:

Terceiro filho. Bauru: Editora Jalovi, 1979 (poemas).

Da flor o afeto, da pedra o protesto. Barra Bonita: Ed. da Autora, 1981, 1ª e 2ª ed. (poemas).

Leite do peito. São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura, 1988. 2 ed. 1989 (contos)

A cor da ternura. São Paulo: Editora FTD, 1989. 12 ed. 1998 (contos)

Balé das emoções. Barra Bonita: Ed. da Autora, 1993 (poemas)

Poemas do regresso. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2020

Infanto-juvenil:

A dona das folhas. Aparecida: Editora Santuário, 1995 (infantil)

O rádio de Gabriel. Aparecida: Editora Santuário, 1995 (infantil)

Aquilo que a mãe não quer. Barra Bonita: Ed. da Autora, 1998 (infantil)

Leite do peito. Ilustração e projeto gráfico de Regina Miranda, Belo Horizonte: Mazza Edições, 2001 (contos, reedição revista e ampliada)

O pênalti. São Paulo: Editora Malê, 2019 (infantil)

Traduções:

The color of tenderness. Tradução de Niyi Afolabi. Trenton, NJ: Africa World Press, 2013

Antologias

Cadernos negros 4. São Paulo: Edição dos Autores, 1981

Axé. Antologia contemporânea da poesia negra brasileira. Organização de Paulo Colina. São Paulo: Global Editora, 1982

IKA. Zeitschrift für Kulturaustausch und internationale Solidarität, maio 1984, nº 25

A razão da chama. Antologia de poetas negros brasileiros. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: GRD, 1986

O negro escrito: apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira. Organização de Oswaldo de Camargo. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1987

Schwarze Poesie,Poesia Negra. Organização de Moema Parente Augel. St. Gallen/Köln: Edition diá, 1988

Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica. Organização de Eduardo de Assis Duarte. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011, vol. 2, Consolidação.

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