Abalada por acusações de assédio sexual, irregularidades financeiras — e, no caso do prêmio de literatura, favorecimento de autores ligados a membros da instituição, o que resultou na saída de oito dos 18 membros, este ano a Academia Sueca, responsável pelo Nobel, resolveu, pela primeira vez desde a Segunda Guerra, adiar o Nobel das letras.
Depois dessa decisão, a jornalista Alexandra Pascalidou reuniu um grupo de ativistas para garantir a entrega de uma láurea similar, o que passou a ser chamado de “Nobel Alternativo”. No site do prêmio está disponível uma lista com 46 nomes, entre eles best sellers como JK Rowling e Neil Gaiman, e reclusos como Elena Ferrante e Thomas Pynchon.
Na última semana Alexandra concedeu uma entrevista ao Jornal O Globo na qual destaca, entre outras coisas, o papel dos bibliotecários no processo de indicação dos autores. “Bibliotecários — uma das profissões mais subestimadas no trabalho diário com os livros — foram convidados para indicar os autores. Os mais indicados foram incluídos em uma lista de 46 nomes”, explica.
Depois disso o público vota no nosso site, de onde se escolherá quatro finalistas. “Um júri profissional decidirá o vencedor, que será anunciado em outubro. A cerimônia de premiação acontecerá no dia 10 de dezembro”, esclarece a jornalista que passou meses acompanhando os escândalos na Academia Sueca.
Perguntada como surgiu a ideia de empoderar os bibliotecários no processo de escolha dos autores contemplados, Alexandra explicou a partir de sua história pessoal. “Cresci numa família de imigrantes gregos, em um lar caótico, sem livros e sem tradição de leitura. Eu escapava diariamente até a biblioteca local para encontrar paz e fazer minhas lições de casa. Houve então uma bibliotecária, inesquecível, que me apresentou ao mundo dos livros”.
“Bibliotecários são cruciais para muitas pessoas. Para mim, são a razão pela qual escrevo. Cresci no subúrbio mais pobre e multicultural de Estocolmo [Suécia], Rinkeby, agora chamado de ‘zona proibida’, como uma favela”, destaca Alexandra.
Sobre o prêmio, ela explica que o objetivo é arrecadar um milhão de coroas suecas (cerca de R$ 425 mil) para o vencedor ou vencedora. Segundo ela, a ideia é fazer um prêmio que defenda transparência, democracia, igualdade e liberdade de expressão. “Um prêmio tão necessário em nosso tempo, quando a literatura é um antídoto para a cultura do silêncio”.
Mas apesar da defesa de um prêmio democrático, a organizadora não soube responder porque não há autores latino-americanos na lista de concorrentes. “Acho que é um problema estrutural o fato de eles não alcançarem essa parte do mundo. Se organizarmos novamente o prêmio, tentaria convidar bibliotecários de outras partes do mundo para indicarem candidatos”, planeja.
Os escândalos na Academia Sueca
Devido às renúncias ocorridas no último mês de abril, a composição da Academia Sueca, formada por 18 cadeiras, se reduziu a apenas dez jurados. O número mínimo exigido para uma votação válida são 12, o que fez com que a instituição adiasse a entrega do prêmio para o ano de 2019.
Conforme destacou uma reportagem do Jornal O Globo, o caso começou após a revelação de múltiplas acusações de abusos sexuais contra o artista Jean-Claude Arnault. Ele é marido de Katarina Frostenson, escritora ocupante da cadeira nº 18 da Academia desde 1992, e um dos homens mais influentes dentro do órgão.
Em novembro do ano passado, o jornal sueco “Dagens Nyheter” havia publicado um texto com depoimentos de 18 mulheres que o acusavam de agressões, assédio e violência sexual, entre os anos de 1997 e 2007. A maioria teria ocorrido dentro das próprias dependências da Academia e em luxuosos apartamentos que a instituição mantém em Paris e Estocolmo.
Além disso, a mulher de Arnault, Katarina Frostenson, é acusada de vazar repetidamente o resultado do Prêmio Nobel de Literatura desde 1997. Ela era uma das sete mulheres que até o último mês de abril ocupavam uma das cadeiras da instituição, até então comandada por Sara Denius. Com a eclosão do escândalo, ambas se demitiram.
Após a saída das duas, as integrantes Lotta Lotass e Sara Stridberg também anunciaram suas renúncias. No começo de abril, os integrantes Klas Östergren, Kjell Espmark e Peter Englund já haviam se demitido como forma de boicotar a premiação.
*Com informações do Jornal O Globo