A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) é um órgão do Ministério da Educação (MEC) responsável pela regulação e avaliação dos programas de pós-graduação stricto sensu em nível acadêmico e profissional em escala nacional. E como se dá essa regulação?
O primeiro é que a pós-graduação é regulada pela Capes a partir de conceitos que estão instituídos entre 3 e 7. O conceito 3 revela o início básico de atividades da pós-graduação em nível de mestrado. O conceito 4 constitui um amadurecimento da pós-graduação com a possibilidade de proposição/abertura do doutorado (a partir do conceito 4, o doutorado é regularmente possível). O conceito 5 consolida a atividade da pós-graduação em termos de nacionalização. O conceito 6 atenta para um redimensionamento da pós-graduação em caráter de internacionalização, enquanto o conceito 7 consolida a atividade da pós-graduação na perspectiva da internacionalização.
O segundo é que a avaliação dos programas de pós-graduação é dividida nas seguintes concepções: proposta do programa; corpo docente; corpo discente (incluindo dissertações e teses); produção intelectual; e inserção social. No caso dos programas com conceitos 6 e 7, a internacionalização também se constitui como critério de avaliação.
O terceiro é que qualquer programa de pós-graduação só pode modificar o conceito (para baixo ou para cima) após o término da avaliação quadrienal (antes a avaliação era trienal, mas houve a mudança para quadrienal). Na avaliação quadrienal, cada ano há uma etapa avaliativa, mas é o conjunto dos 4 (quatro) anos que denotam o contexto holístico da avaliação.
O quarto é que a Capes define setores específicos denominados de áreas de avaliação que norteiam os fundamentos em que as áreas do conhecimento estão inseridas. No caso da ciência da informação, esta está inserida na área intitulada “comunicação e informação” (antiga ciências sociais aplicadas I) juntamente com a comunicação e a museologia. Para saber mais sobre as áreas de avaliação, clique aqui.
Diante dos pontos apresentados, como se situam as pós-graduações no campo da ciência da informação? Vale uma reflexão particularizada sobre os programas acadêmicos e profissionais, visto que, embora as avaliações sejam muito similares, há questões que precisam ser levantadas com a devida acuidade. O quadro que segue mostra a avaliação dos programas acadêmicos da área de ciência da informação:
Quadro 1 – Conceitos dos programas acadêmicos em ciência da informação
UNIVERSIDADE | ÁREA | NÍVEL | CONCEITO |
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO | 4 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO | 3 |
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS | CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 5 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA/JOÃO PESSOA | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO | 3 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL | COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 5 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – UFRJ – IBICT | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 5 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO | 3 |
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA | CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 5 |
UNIVERSIDADE EST.PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO/MARILIA | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 6 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | MUSEOLOGIA E PATRIMÖNIO | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO | CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO | MESTRADO/DOUTORADO | 4 |
Fonte: Capes 2017 * Os Programas destacados em negrito ainda não receberam avaliação quadrienal e permanecem com o conceito com o qual foram aprovados. Os Programas acadêmicos de ciência da informação da UFSCAR, UFC e UFPA foram aprovados com conceito 3.
Algumas considerações sobre o quadro, a saber:
- De fato, o campo da ciência da informação ainda necessita de um processo mais amplo de maturação para se consolidar, visto que o programa que se estabelece com maior conceito é o da UNESP com 6 (atualmente é o único no Brasil com conceito de internacionalização);
- É possível mencionar como ponto positivo a retomada do programa da UnB que subiu para o conceito 5. Podemos ter como baixas o PPGCI/UFMG que teve avaliação rebaixada de 6 para 5, o PPGCI da USP, que fechou com conceito 4 e do IBICT/UFRJ, programa mais antigo e tradicional da área, que manteve o conceito 4. É possível observar que a maioria dos programas se situam entre os conceitos 4 (total de oito), seguido pelos programas de conceito 5 (total de quatro);
- Alguns programas não são diretamente em ciência da informação, mas possuem vinculação direta em termos institucionais/departamentais e de pesquisadores como é o caso do Programa de Comunicação e Informação da UFRGS (conceito 5), Gestão e Organização do Conhecimento da UFMG (conceito 5) e Museologia e Patrimônio da UNIRIO (conceito 4);
- Nos programas elencados no quadro, pode-se afirmar que uma predominância regional no Sudeste (total de 6), seguido pela região Sul (total de 3), acompanhado pelo Nordeste (total de 2) e o Centro-Oeste (total de 1);
- Considerando todos os programas elencados na avaliação quadrienal, a UEL é a única que ainda não possui curso em nível de doutorado.
No geral, os programas da área estão na base da pirâmide conceitual, apresentando conceito 4 e buscando a consolidação de um projeto nacional de pós-graduação e outros buscam a efetividade da internacionalização.
Quanto aos programas de pós-graduação na modalidade profissional, a realidade se apresenta de maneira diferente em face da maioria se constituir como programas recentes, sendo que muitos ainda sequer passaram pela primeira avaliação quadrienal. O quadro abaixo mostra com mais clareza os programas de pós-graduação profissionais:
Quadro 2 – Conceitos dos Programas acadêmicos em Ciência da Informação
UNIVERSIDADE | ÁREA | NÍVEL | CONCEITO |
FUNDACAO CASA DE RUI BARBOSA | MEMÓRIA E ACERVOS | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFINS | PRESERVAÇÃO DE ACERVOS DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA | GESTÃO DA INFORMAÇÃO | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI | BIBLIOTECONOMIA | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE | GESTÃO DA INFORMAÇÃO E DO CONHECIMENTO | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | BIBLIOTECONOMIA | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO | GESTÃO DE DOCUMENTOS E ARQUIVOS | MESTRADO PROFISSIONAL | 3 |
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO | GESTÃO DA INFORMAÇÃO | MESTRADO PROFISSIONAL | 4 |
Fonte: Capes 2017 * Os Programas destacados em negrito ainda não receberam avaliação quadrienal e permanecem com o conceito com o qual foram aprovados. Todos os Programas que ainda não foram avaliados, iniciaram suas atividades com conceito 3.
Diante do quadro elenco os seguintes comentários:
- Os mestrados profissionais no campo da ciência da informação, biblioteconomia, arquivologia e museologia ainda são muito recentes, uma vez que basicamente todos os mestrados foram iniciados nesta década;
- Assim, poucos mestrados já receberam a primeira avaliação quadrienal como o de Gestão da Informação da USP que subiu para o conceito 4 (pode ser considerado o ponto mais áureo da avaliação quadrienal para mestrados profissionais até o momento), o de Gestão da Informação da UDESC, o de Biblioteconomia da UNIRIO e o de Gestão de Documentos e Arquivos que permaneceram com o conceito 3;
- Os programas de Gestão da Informação e do Conhecimento da UFRN, Biblioteconomia da UFCA e Memória e Acervos da Fundação Casa de Rui Barbosa foram aprovados em 2015 (início em 2016) e ainda não consolidaram avaliação quadrienal, acontecendo algo similar com o programa da UFS, que foi aprovado em 2016 e iniciou suas atividades em 2017;
- Apenas em 2017, no dia 24 de março, em comunicado oficial, a Capes formalizou a possibilidade de realização de doutorados profissionais. Atualmente, dos programas elencados no quadro, apenas o da USP estaria apta a construir o projeto doutoral pleiteando aprovação;
É pertinente destacar que os mestrados profissionais crescem de maneira mais célere, em especial, contemplando os setores de gestão da informação, biblioteconomia, arquivologia e museologia. Vale destacar que na modalidade acadêmica, a área de comunicação possui mais programas do que a ciência da informação, mas na modalidade profissional os campos da ciência da informação, biblioteconomia e arquivologia, possuem mais programas do que a comunicação.
Enfim, vale constatar que a ciência da informação matura seus processos de desenvolvimento, buscando, concomitantemente na modalidade acadêmica, a consolidação nacional e ampliação dos processos conceituais de internacionalização, enquanto, na modalidade profissional, ainda apresenta um construto embrionário imprevisível, visto que alguns programas avaliados não podem pleitear um projeto de doutorado e outros ainda esperam a primeira avaliação para ter ciência de qual conceito será concretizado.