Na semana em que se comemorou o dia do bibliotecário, num evento organizado pelo Conselho Regional de Biblioteconomia – CRB8 onde houve o encontro da escritora Fabiana Cozza e o escritor e poeta Sérgio Vaz com bela mediação da bibliotecária Carli Cordeiro, muitas coisas interessantes foram ditas em homenagem a esses profissionais como protagonistas no contexto da leitura e da literatura.
Entre tantas manifestações de apreço ao trabalho dos bibliotecários, das bibliotecas e a contação de histórias sobre as experiências como leitores que frequentaram esses espaços, cada personagem do evento relatou suas vivências na biblioteca e também no campo da composição textual.
Fabiana Cozza contou sua relação com a escrita e a música, especificamente no campo da composição de sambas e de composições que resgatam a ancestralidades negra do povo brasileiro, falou sua trajetória como pesquisadora musical e as experiências no processo de produção escrita.
O poeta Sérgio Vaz falou de sua missão na condição de escritor e poeta. Contou como a poesia o salvou e falou dos seus planos literários. Num determinado momento Sérgio Vaz disse que numa conversa com o músico Crioulo, o compositor sugeriu que ele compusesse poesias como Salves! Uma sugestão muito bacana e tenho certeza que o poeta vai compor esses poemas com muita propriedade.
Como não sou poeta e nem tenho competência para compor poemas em tom de Salves, me arrisquei em dar um Salve nesse texto para os bibliotecários, principalmente aqueles que ainda resistem nas bibliotecas escolares. Então vamos lá!
Salve, bibliotecários escolares!
São muitas as reflexões sobre a formação do leitor, suas fases, a relação com o aprendizado das letras, os sons, a alfabetização, o sentido das palavras, o significado das frases, a experiência de cada indivíduo com o universo das letras, linhas, entrelinhas escritas no papel, na tela do computador, no tablet ou no celular.
Na infância a leitura é mistério. No ambiente escolar ela chega pelas práticas lúdicas que encantam os pequenos leitores na contação de histórias, brincadeiras de formar sílabas, rimar palavras, travar a língua ou mesmo ouvir e repetir músicas dezenas, centenas de vezes.
A leitura também desperta sonhos, pesadelos, assombros e fantasias. Amplia a imaginação para o pensamento criativo, leva o sujeito leitor para muitos mundos ao mesmo tempo em que permite a compreensão da sua realidade.
Uma coisa é certa, não dá para pensar em leitores sem ambientes para a leitura, mesmo que seja o espaço mais inusitado que exista dentro ou fora da escola. Porém, o espaço mais apropriado no ambiente escolar precisa ser a biblioteca escolar. Ali pode ser o início de muitas experiências literárias entre as crianças e o mundo.
A biblioteca escolar precisa existir e se tornar um lugar de apoio permanente ao trabalho docente. Um lugar que partilha com o professor a tarefa de ampliar o mundo literário dos seus alunos. Um local para expandir a capacidade cognitiva dos seus frequentadores, um espaço que desperta outros tempos e formas do ler.
Uma biblioteca escolar aberta é a possibilidade de mantermos viva a esperança de um mundo literariamente melhor, com sujeitos mais conscientes sobre esse lugar de leitura, onde há possibilidades da leitura deleite. Um lugar para pensar sobre a própria vida.
Na biblioteca escolar a literatura infantil pode ser considerada a porta de entrada para o universo da leitura, da informação e do conhecimento.
Como pensar a formação do ser humano sem um espaço para que ele consiga desenvolver sua capacidade de interpretação, compreensão do mundo das palavras, do experimento com as letras? Como não ter um lugar para descrever e compartilhar seus sentimentos?
Numa biblioteca escolar é possível olhar a variedade de textos que a compõe: as fábulas, contos de fadas, os mitos, crônicas, lendas, as adaptações de grandes clássicos da literatura mundial, as parlendas, piadas, adivinhas, além dos próprios textos autorais narrativos e poéticos dos seus consulentes.
Numa biblioteca escolar, o bibliotecário será o parceiro, o confidente, o amigo, aquele que mostra caminhos alternativos, que oferece um rico material repleto de histórias, memórias, diversidade cultural, encantamento e valores humanos.
A biblioteca dentro da escola, pode ter o caráter de apoio pedagógico, no sentido de auxiliar os professores na função didática de oferecer textos direcionados à infância. Entretanto, uma biblioteca escolar precisa ser o espaço para exercício poético, artístico, inventivo, imaginativo de maneira que seja sempre possível (re)interpretações dos textos lidos e estudados em sala de aula. Um lugar para a criatividade e ampliação das possibilidades de uma aprendizagem significativa a partir de leituras e releituras do mundo.
Mais do que perguntas precisas sobre um texto literário, numa biblioteca escolar o certo e o errado dão lugar para o (re)significado dos textos, ampliação das possibilidades de revisitar as obras, compará-las e ainda incentivar os seus frequentadores a juntar histórias e personagens, sair da caixinha e quem sabe criar novas histórias possíveis…
Infelizmente ainda tem muita gente que acredita apenas no canto da leitura dentro da sala de aula como espaço suficiente para as crianças se desenvolverem como leitoras dentro da escola.
Isso é uma falácia, uma mentira. Muitas vezes não há tempo para o experimento individual com a leitura nesses locais, muito menos espaço adequado para o exercício livre da leitura. É preciso combater essa ideia dentro das escolas e fora delas também!
Apenas na biblioteca escolar o desenvolvimento individual do leitor será possível. O encontro e o experimento único entre o leitor e os escritores acontece, porque na biblioteca escolar há o match entre esses personagens.
A busca pela leitura nas estantes, no computador, na lista, no catálogo fazem parte desse experimento de descoberta. Ter a experiência de se perder entre os livros nas prateleiras, folhear as obras, compreender o espaço que certamente encontrará lá na frente quando estiver desenvolvendo seus estudos no ensino médio e acadêmico.
É preciso mudança de paradigmas em relação aos espaços de leitura na escola. Mesmo com a tecnologia, a biblioteca escolar pode ser esse lugar de pesquisa, de jogos, de entretenimento, campanhas sociais internas e ainda o envolvimento e integração entre os alunos e a comunidade.
Uma biblioteca escolar enriquece o trabalho feito pelo professor que entre as suas inúmeras responsabilidades, precisa cumprir sua jornada diária com tarefas administrativas exigidas nesse ambiente.
Bibliotecas escolares são espaços de parceria, de ampliação das ações culturais dentro do ambiente de ensino e ainda promotora de pesquisas, estudos, ações socioculturais e tantas outras práticas que podem ser desenvolvidas nesses locais de interação e conexão entre pessoas.
Diante dessa realidade os bibliotecários serão sempre parceiros e colaboradores para um mundo mais justo, criativo e democrático no campo literário e editorial.
Numa biblioteca escolar é possível subtrair a ignorância, dividir experiências significativas, somar e multiplicar oportunidades entre os fazeres da educação. Se de fato um país se faz com cidadãos e livros. Uma escola se faz com bibliotecas e espaços que incentivem e ampliem a formação de crianças leitoras e pesquisadoras.
Aqui vai esse Salve para os bibliotecários, para as bibliotecas escolares e todos que acreditam na transformação da sociedade pela educação e pela leitura na biblioteca como instrumento permanente de aprendizagem.