A Manhã era de inverno, o céu estava pálido, se cobria com um manto branco de neblina e o frio, era intenso. Podia-se sentir aqui dentro, no peito.
Eu aguardava o trem na estação, era uma estação central, uma estação qualquer, onde as pessoas corriam de um lado para o outro como se não houvesse mais tempo a perder. Daí então, percebi que não havia bom dia nos seus lábios e que todos, parecem não ligar pra isso.
Observei tudo ao meu redor, vi que tudo ali era antigo e contemporâneo ao mesmo tempo. O salão, a fachada, o traço arquitetônico de um século passado qualquer, até mesmo, o relógio no alto era. Tudo era.
E todo aquele clássico se misturava a tantas coisas modernas que se completavam entre si. O clássico era contemporâneo e vice-versa e isso estava nas pessoas também.
Até que, de repente, percebi no meio dessa correria toda, que tudo não passava de um remake. Que a vida não passava de um remake. Um simples remake que passa despercebido das pessoas, pois na vida hoje, tudo é um remake. Tudo ou quase tudo parece ser.
A música, a moda, as artes, a dança, os carros, tudo. Veja! A novela agora é um ramake. Você assistiu ontem?
E absolutamente, toda a criação nova está adaptada a inspiração e renovação do antigo, que se mistura para dar vida ao “novo antigo”.
Pois bem, cheguei a conclusão de que no coração, também é assim. Que muitas das vezes, estamos fazendo remake dos nossos sentimentos. Que aquele amor antigo, que surge de repente, depois de anos, pode se renovar e ganhar novas formas. Pode se ajustar e com algumas mudanças, tornar-se novo de novo.
Vi que, talvez, por falta desse tempo, que parece se esvair num ralo cotidiano, as pessoas parecem apostar nas ideias já prontas, nos inventos já construídos, no mesmo coração selado de outrora.
Mas me pergunto, caro leitor, por que o inovar é agora usar o que já está feito com alguns ajustes e adaptações apenas? Simples, porque as pessoas não dispõem mais de tempo. As pessoas não se olham, não se cumprimentam mais; nas ruas, não se veem e há um espaço vazio entre elas; um vácuo de sentimento humano que forma esse imenso vazio.
Acho que isso sim deveria ser um remake. E o amor e o carinho, poderiam sim, ser um remake nas pessoas. No entanto, não é bem assim. Mas comigo aconteceu, e meu coração é um remake agora. Onde vivo e revivo o amor. Amor que voltou a ser amor com seus retoques e suas novas adaptações e que tornou mais sublime o sentimento e mais intenso o seu querer. Um amor clássico com um toque contemporâneo e detalhes sutis. Um amor “remakado”, eu diria.
E o trem já anunciava o seu discurso irreparável, apressava sua saída, como um coração que apressa uma paixão que chega. Foi quando a solidão também anunciou sua saída e tudo parecia normal como um dia qualquer.
No meu jornal, as mesmas notícias. No coração, a mesma matéria e sei que vamos juntos como Drumonnd dizia: “De mãos dadas.”
Foi assim que naquela manhã fria de inverno percebi, embarquei e vi passando pela janela, o cotidiano feito um remake. Pois, o amor como um remake, eu já podia ver e sentir, dentro do meu coração.