A fala do Lula na entrevista desta quarta-feira (19) foi franca e direta. Entre convergências e divergências, o saldo é positivo e destaco uma parte óbvia: a ênfase que ele dará para a cultura em um possível novo governo.
É evidente que é algo louvável.
O caminho até a possível eleição de Lula ainda é longo. Quero distância daqueles que vivem um clima de “já ganhou”. É preciso reconhecer os conflitos no campo econômico e social que atormentam o capital diante de uma candidatura que fere parte de seus interesses e interrompe um caminho gerado por um golpe e a consequente ruptura institucional.
A cultura é um campo que, a despeito do retrato cosmético que o senso comum lhe confere, afeta estruturalmente os interesses do capital. Os processos culturais produzem crítica e reflexão, estimulam a diversidade sem a necessidade de caminhos marqueteiros com altas doses de caô liberal, abrem a janela para a construção de identidade e para a liberdade estética e podem promover as ações coletivas em detrimento da egotrip suicida promovida pela razão neoliberal.
Tudo isso é lindo, maravilhoso e cheiroso, mas, só conseguiremos construir todas essas possibilidades com política pública e, principalmente, com a politização da política pública, sobretudo tendo como eixo e horizonte principal o conceito de cultura como algo comum, para todos e não apenas para os iluminados de plantão.
É nesse sentido que peço aos companheiros e companheiras de militância da leitura e do livro que se mobilizem e se unam, para que possamos construir (insisto nessa palavra) um projeto em comum que inclua e relacione dentre os vários eixos da área, para que a leitura ocupe um lugar merecido e necessário na política cultural de um futuro e possível (insisto nesse termo) governo Lula e exerça sua centralidade.
A leitura é o principal ponto de intersecção entre a cultura e a educação. Como um exemplo: bibliotecas públicas, escolares e comunitárias estão espalhadas pelos municípios brasileiros, regidas por políticas fragmentadas ou mesmo ausentes, sem integração e colaboração entre si, sem políticas de desenvolvimento de coleções e de mediação de leitura, para ficarmos no mais óbvio.
E há muita coisa a ser incluída nesse farnel: as médias e pequenas editoras, o estímulo àqueles que escrevem e/ou desejam escrever, as políticas oficiais de distribuição de livros, a bibliodiversidade, os diversos tipos de mediadores, os espaços não convencionais de formação de leitores… é amplo.
Quando Lula destaca a necessidade da volta da Cultura para o centro das prioridades, ele está apontando um rumo que demanda trabalho e politização e não mais uma sessão de comemoração laudatória. Há um longo caminho a ser percorrido nos próximos meses, espero e desejo que a leitura ocupe um papel de destaque nessa jornada.
À luta.
#LulaPresidente13