De acordo com os números do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), o estado do Rio de Janeiro registra uma biblioteca para cada 111 mil, o pior índice do país. Eu citei este dado ao ex-governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, em outubro do ano passado, perguntando qual sua opinião sobre este fato. Obtive o silêncio como resposta.

Pezão havia acabado de reinaugurar a Biblioteca-Parque de Manguinhos, rebatizada de Marielle Franco em homenagem a vereadora brutalmente assassinada meses antes. Embora sendo muita justa, a homenagem era mais um ato de hipocrisia não só de um governo, mais de um modo de fazer política que sempre ignorou as pautas de pessoas como a Marielle.

Aliás, a cultura em geral e as bibliotecas em particular (também pautas de luta de Marielle) não costumam compor as pautas de muitos políticos, como temos falando de forma insistente ao logo dos anos aqui na Biblioo (ver aqui, aqui e aqui). Então não é novidade nenhuma que hoje, 9 de abril, Dia Da Biblioteca, não tenhamos muito o que comemorar.

Quase todos os dias nós recebemos e noticiamos histórias de bibliotecas sendo fechadas, acervos sendo dilapidados, publicações sendo censuradas, além de bibliotecas que reformadas não abrem suas portas ao públicos, frustrando quem mais precisa destes equipamentos culturais.

Como afirmei em outra ocasião, a implementação de bibliotecas no Brasil tem esbarrado quase sempre na ignorância dos gestores públicos. Afinal, o que esperar de pessoas, como é o caso de Pezão, quase sempre pouco afeitas à leitura e ao conhecimento e demasiadamente apegadas ao poder político?

O que esperar de pessoas que, a exemplo da maioria dos brasileiros, tiveram pouco ou nenhum contato com este tipo de aparato cultural ao longo da vida? O que esperar de quem prefere manter as pessoas na escuridão da ignorância à proporcionar um caminho para a emancipação intelectual?

Eu reconheça o profundo dilema econômico pelo qual passamos, mas ressalto que o motivo pelo qual vemos nossas bibliotecas cambalearem não é necessariamente de ordem econômica, mas política. A falta de uma política consistente para este setor é por si só uma política, ou seja, uma medida deliberada, pensada para que as pessoas não tenham acesso à cultura letrada.

Se nos estados e municípios as bibliotecas vivem (sempre viveram?) um grande dilema, no plano federal o cenário não é diferente. Além de todos os ataques que a cultura e a educação se acostumaram a receber, permanece totalmente obscuro o destino do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e do Departamento de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (DLLLB).

Neste sentido, é lamentável que a cada ano tenhamos de noticiar este incomodo e insistente dilema das bibliotecas brasileiras. Obviamente que este dilema é incomodo e insistente para nós que nos entusiasmamos com as bibliotecas, pois para muitos políticos, conforme me ensinou o hoje presidiário Pezão, a resposta a este tipo de indagação é o silêncio.

Viva a biblioteca!

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