Diga-se de passagem, que na vida, nos pegamos, muitas vezes, todos nos ares. E flutuando, estamos entre um “fica mais um pouco” e um “até logo”. Em um enorme aeroporto com um check-in aberto e um imenso saguão por onde passam muitas pessoas. Uma contagem para os últimos dez minutos e um imenso quadro de voos piscando, piscando, piscando, de certo, um coração que pulsa demasiadamente. 109, 145,150,290… Imagine! Impossível não embarcar e querer ser levado para as nuvens, para longe do mar, para o lado do sol, para perto das estrelas, ou simplesmente, cair.

E assim de fato, perceber que o mundo, visto lá de cima, é mesmo muito grande e que nós, somos muito mais que pequenos. Minúsculos até, eu diria.  Posto que, se formos observar, para quem mora nas estrelas, as cidades, são o céu. E a grande verdade é que desilusão é voar de avião e confirmar que nuvem não é de algodão.

Não sei se é a névoa lá fora, ou o tardio da hora esvaindo-se, mas nunca, eu sinto tanto a perda do tempo quando estou sentado em uma plateia, e finamente disposto e receptivo a assistir alguma coisa e logo, me ocupam com uma cena que não me diz nada, absolutamente nada.

Entende-se que na vida real todos estão nessa peça, e aguardam ser surpreendidos de maneira romântica e alegre ao abrir das cortinas, entretanto, muitas vezes, é o drama da desilusão que nos congela na primeira fila. E na angústia, sentimos esse tempo esvair-se.

Agora desperdiçado. Pensamos. Outrora também. Numa onda constante de calmaria onde nada acontece e então, nos decepcionamos. Pensamos no amor como ingrato e enclausurado.

Fazendo de nós, boêmios ou até mesmo, depressivos.

Por isso, prefiro escrever, pois escrever é somente copiar algo que já está escrito em algum lugar. Como estas baboseiras escritas para você, leitor, ler, e saber, que sofrer nem sempre é lucro nosso. Que vale mais, se apaixonar e se aventurar, e correr os riscos dos maus tempos dos voos comuns e sem escalas. Que não é vergonha sentir a falta da falta de alguém e que a sobra de uma imagem, nos convence que a memória não passa de uma estória sem endereço, endereços que fazemos questão de guardar por achar que nunca teremos coragem de irmos até lá. Então, nos silenciamos.

Pois saiba, caro leitor, que não me silencio, que apesar do sofrer, digo a desilusão: te ofereço meu vazio, meu seco, inerte, com o que restou do meu amor. Posto que além dele, só vivem na minha alma, o temor e a certeza fria de que chagará o dia em que eu serei uma tela apagada para a tristeza, tela muda e que embeleza o amor plástico artístico e prático de nosso tempo.

Porque nesse aeroporto, não há tempo ruim, nem check-in fechado.  E que o quadro de voos piscando, continuará piscando, especificando as diversas rotas de um coração sedento por amor. E que, com a certeza de que uma hora dessas, qualquer hora dessas, alguém vai entrar pelo terminal de embarque com o mesmo destino que nós, para fazer então, a viagem mais linda e longa, sem escalas, para um amor radiante e platônico, esquecendo de vez a desilusão, que será apenas uma paisagem vista da janela. Uma simples paisagem vista da janela.

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